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Uma proposta capaz de ajudar você a manejar a dor crônica

Uma proposta capaz de ajudar você a manejar a dor crônica

Por incrível que pareça, tem gente séria que acredita que a dor crônica pode ser aliviada pelo próprio o paciente manejando a sua condição de saúde, e não necessariamente com fármacos, acupuntura ou cirurgias. Várias iniciativas nesse sentido vêm sendo testadas nos últimos 30 anos, fora e dentro do Brasil. A boa notícia é que elas parecem beneficiar os pacientes, aliviando seus sintomas (ex.: sono) e melhorando o ânimo/humor, a autoestima e a sensação de autoeficácia. Este post menciona uma iniciativa educacional da Escola de Medicina da Stanford University (EUA) e na qual eu participo, que adota um formato inovador, diferente dos já tentados, que demoram meses. Ela deu origem a uma outra iniciativa que eu criei por aqui: RETREINANDO O CÉREBRO PARA ALIVIAR A DOR CRÔNICA, requerendo 3 sessões online de pouco mais de 1 hora cada, distribuídas em 1 semana. Ela será oferecida a partir da próxima semana.

“O papel do gênio não é complicar o simples, mas sim simplificar o complicado.”

– Cris Jami

Autor: Julio Troncoso

Eu receio que o que vem sendo feito no Brasil para orientar pacientes com dor crônica a conviver com essa condição serve mais ou menos para nada. Cheguei a essa conclusão após 5 anos de experiência conduzindo um blog que nesse período postou mais de 1.100 matérias – posts, artigos, ebooks, vídeos – sobre essa dor, destinadas a médicos e pacientes. O que rendeu vasta correspondência de… pacientes. E quase nenhuma, de médicos.

Surpreendente, mas é a pura verdade. (Claro que é a minha verdade, até alguém me provar o contrário. Não duvido que as eminências que dirigem o Conselho Federal de Medicina pensam, não, desculpe, diriam o contrário.)

O paciente com dor crônica precisa saber que tipo de dor é essa. A dor crônica é complexa, encardida e traiçoeira. O portador precisa ser educado sobre quanto essa dor carece de explicações claras, ou porque ela persiste, indiferente ao consumo de fármacos (eventualmente viciantes). Aprender sobre o risco de a dor crônica vir a provocar transtornos mentais como ansiedade e depressão; ou sobre seu devastador impacto nas relações interpessoais do paciente, dentro e fora do núcleo familiar, deveria integrar qualquer plano de tratamento. E acima de tudo, bom seria dizer ao instruir o paciente sobre o que ele pode fazer, sozinho, para controlar a dor e os sintomas que a acompanham (ex.: fadiga, sono ruim, etc.).

O problema é que para tanta demanda educacional, falta educador.

De todos os profissionais da saúde, convenhamos, o médico possui a maior credibilidade perante o paciente enquanto educador.1 Pena seja ele, também, o que menos interesse tem em usar essa qualidade concedida para orientar o outro no manejo da dor. Gostemos, ou não, médicos clínicos de qualquer especialidade em geral visam curar doenças, e não aliviar dor e sofrimento. (De fato, atualmente, fisioterapeutas e psicólogos parecem ansiosos em aproveitar o vacilo e ocupar o vazio deixado por aqueles.)

Diante desse panorama, deve haver 143 soluções possíveis, eu sei. Contudo, face às minhas limitações, eu vejo apenas duas: continuar apostando que, mais dia, menos dia, um bom número de profissionais da saúde no país irá 1) estudar a dor em geral, e a dor crônica em particular; e depois, 2) adquirir motivação, capacidade pedagógica e tempo para educar em dor seus pacientes; ou… partir para outra.

Está na hora de ativar a segunda alternativa. O Brasil é 6º país mais populoso do mundo. Até hoje, por aqui, educar em dor e enxugar gelo se equivalem no resultado. É necessário criar iniciativas que levem conhecimento sobre a dor, e sobre o manejo da dor, diretamente ao maior número de pacientes possível. (Diretamente, no caso, é o mesmo que dizer virtualmente.)

Por isso, há uns dois anos chamou-me a atenção uma experiência inédita levada adiante por gente da Escola de Medicina da Stanford University, uma das 3 melhores dos Estados Unidos.

Nesse país, convém dizer, a educação em dor da população anda mais ou menos como no Brasil, ou seja, pela hora da morte. A maioria dos portadores de dor crônica, especificamente, está desassistida no manejo de sua condição. Por um lado, enquanto tratamentos de dor de primeira linha recomendados pelos médicos não são accessíveis nem baratos (ex.: neuromodulação), os tratamentos de dor mais accessíveis e em conta não são recomendados (ex.: acupuntura) ou são mal recomendados (ex.: exercícios físicos adequados à condição do paciente).

Fora isso, a informação educacional sobre o manejo da dor que chega até o público em geral, inclusive as classes socioeconômicas mais abastadas, é mínima ou nenhuma.

Essa descrição, eu insisto, também vale para o Brasil. Apenas nos EUA, à diferença do Brasil, há iniciativas que visam mudar essa situação.2

A iniciativa HEAL, por exemplo, financia um projeto inovador que visa ajudar profissionais de saúde reais a entender e superar seus preconceitos ao tratar pacientes com dor. Outras pesquisas se concentram num programa integrado de manejo da dor que reduz a interferência da dor e o isolamento social em pacientes com dor crônica.

O Empowered Relief

Além desses estudos, um outro programa criado por psicólogos e médicos da Stanford University ensina a médicos educação em neurociência da dor, princípios de atenção plena (mindfulness) e habilidades de Terapia Cognitivo Comportamental. Ele é focado na identificação e inversão de pensamentos e emoções tóxicas através do reenquadramento cognitivo. A ideia é capacitar os médicos a equipar os pacientes com habilidades de manejo da dor para que eles próprios possam cuidar de si mesmos, por exemplo, diante de uma crise de dor.3

Esse programa, denominado Empowered Relief, foi testado cientificamente. Adultos com dor lombar crônica que fizeram uma única aula de habilidades de alívio da dor de 2 horas experimentaram melhorias clinicamente significativas na catastrofização da dor, intensidade da dor e interferência da dor. Isso permitiu abandonar a crença de que seria necessário muito tempo para obter qualquer progresso quanto aos pacientes mudarem de atitude, de negativa para construtiva, em relação ao manejo da dor em suas vidas.

O objetivo do programa é curar a dor dos participantes? Claro que não, até porque é deixado bem claro que a dor crônica dificilmente tem cura. O que se pretende é ensinar o paciente a pensar a sua dor de maneira construtiva, ao invés de alimentá-la com crenças equivocadas e pensamentos tóxicos que sabotam qualquer possibilidade de recuperação.

Embora o Empowered Relief tenha sido incorporado aos caminhos de cuidados clínicos na Universidade de Stanford desde 2013, o programa se expandiu e atualmente é oferecido a todos os pacientes da Cleveland Clinic, uma instituição hospitalar e educacional de excelência técnica reconhecida mundialmente.4

O programa agora está aberto a médicos de todas as disciplinas para que possam ajudar a aumentar o “nível de alfabetização” em cuidados com a dor nas suas próprias comunidades.

Eu fiz o programa Empowered Relief e estou capacitado oficialmente para ministrá-lo onde quiser. Optei, porém, por importar o conceito e não o programa. Adaptei, mudei e – modéstia à parte – aprimorei muita coisa nele, além de abrir espaço para falas dos participantes. Nada de errado no Empowered Relief original, exceto que não é aplicável à realidade do típico paciente com dor crônica por aqui. Especialmente por pressupor a existência de atendimento médico multidisciplinar ao alcance da mão e o acompanhamento de um terapeuta. Eu prefiro não brigar com a realidade, você nunca vence. RETREINANDO O CÉREBRO PARA ALIVIAR A DOR CRÔNICA – eis o nome do invento – admite que, goste-se ou não, a maioria dos brasileiros somente conta consigo mesmo para enfrentar doenças/dores crônicas. O primeiro teste-piloto, a Dra Luci Mara França e eu realizamos em 07/05/23 e serviu para depois fazer vários aperfeiçoamentos. Próxima semana vamos em frente com um segundo teste. Você, paciente ou profissional da saúde, participe!

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6 respostas

  1. Parabéns Dr. Júlio e Dra Luci pela iniciativa!
    Tenho certeza que ela é extremamente necessária e será muito útil a todos que sofrem com a dor crônica.
    Sandra.

    1. Grato pelo comentário, Sandra. Você participou do encontro e espero que tenha valido a pena investir na sua saúde num Domingo. Com a Dra Luci, apreciamos muito suas reações. Abs, Julio

  2. Boa tarde Dr Júlio, sou médico neurologista e trabalho com pacientes com dor crônica há cerca de 10 anos, principalmente a fibromialgia. Há algum tempo venho acompanhando o seu site e gostaria de parabenizá-lo pela qualidade do conteúdo e dizer que frequentemente o indico para pacientes e colegas. Gostaria de saber mais sobre o Programa Empowered Relief e eventualmente participar de alguma forma. Atualmente estou desenvolvendo um programa de educação em dor associado com praticas integrativas e gostaria muito de trocar experiências.

    1. Marcelo, eu fui certificado no ER há um ano ou algo assim. Participar é fácil : 2 dias + US$ 500,00. Mas eu não fiquei satisfeito e ainda conservando alguns conceitos, criei algo diferente – uma sessão de 2 hs ministrada domingo a 7 pacientes com dor crônica. Foi bem, mas vai melhorar. Enfim, se você quiser saber mais sobre o ER, ou o que for, eu estou a sua disposição para conversar virtualmente. Só me avise que passo meu número pessoal.

  3. Bom dia. Tenho algumas evidências a respeito da Hipnose no tratamento e manejo da dor Crônica. Gostaria de ter seu contato pessoal para conversar a respeito

    1. Conversar, bem-vinda seja. Apenas convém saber de antemão que o meu interesse em temas como a hipnose se limita a possibilidade de postar algo interessante a respeito. A hipnose é uma das poucas frentes onde há alguns resultados promissores (ainda que discretos e esparsos) para dores crônicas. Julio (julio@dorcronica.blog.br)

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