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Sono ruim, dor crônica e depressão

Sono ruim, dor crônica e depressão

Sono ruim, dor crônica e depressão andam juntos. O termo comorbidade era desconhecido antes da Covid-19. Hoje, muitos sabem que significa a convivência de várias doenças numa pessoa só. E assim, acham natural que a diabetes, uma doença crônica, seja acompanhada, por exemplo, pela hipertensão, obesidade, ou por problemas hepáticos e/ou cardiovasculares. Mas existe um outro tipo de comorbidade, mais velada e menos pesquisada que as anteriores. Uma que combina três distúrbios que, se em separado afetam bastante a qualidade de vida, juntos podem destrui-la. Este artigo, publicado recentemente na Psychiatric Times, irá dizer que comorbidade é essa.

Nota do blog:

Levantamento recente do Ministério da Saúde no Brasil mostra que 41,7% das pessoas com Covid-19, têm distúrbios do sono, como dificuldade para dormir ou dormir mais do que de costume.

A mesma pesquisa também apurou os problemas relacionados à saúde mental que incomodavam os entrevistados: um terço da amostra apontou falta de interesse em fazer as coisas (35,3%); sentir-se para baixo ou deprimido (32,6%); ou cansado (30,7%).

Mais uma prova de que distúrbios do sono e problemas psicológicos estão relacionados. E se a essa poção nada saudável agregarmos dores crônicas?

É sabido que pacientes que sofrem de dor crônica têm dificuldade em iniciar e manter o sono. A privação de sono tem sido associada a uma diminuição do limiar de dor, dores musculares e rigidez em voluntários normais. E muitos pacientes com dor crônica estão deprimidos e ansiosos.

A inter-relação desses fatores é complexa: a privação do sono pode levar à ansiedade; e a depressão pode ser a causa e o resultado de distúrbios do sono. Portanto, os médicos devem avaliar todos os aspectos da dor, sono e humor em pacientes com dor crônica.

Eis a mensagem do artigo “Distúrbios do Sono como Sequelas da Dor Crônica” (Sleep Disturbances as a Sequalae of Chronic Pain), escrito por um médico e publicado recentemente na Psychiatric Times. Os trechos mais relevantes você pode ler a seguir.

DISTÚRBIOS DO SONO COMO SEQUELAS DA DOR CRÔNICA

Autor: Heidi Moawad1, MD
Trechos Relevantes

A dor pode interferir no sono, independentemente de o indivíduo sentir a dor ou não.

A dor crônica pode levar à privação de sono prolongada que pode ter complicações físicas, emocionais e comportamentais. Por exemplo, na literatura reumatológica, há muito tempo se observa que há uma associação entre dor musculoesquelética crônica, distúrbios do sono e depressão.2 Atualmente, alguns autores chegam a sugerir que a dor crônica em si mesma é uma tríade que inclui dor, distúrbios do sono e depressão.3

A avaliação dos distúrbios do sono no contexto da dor crônica requer uma avaliação abrangente dos sintomas subjetivos e testes objetivos, como questionários de sono e uma polissonografia durante a noite. O tratamento dos problemas do sono causados ​​pela dor crônica é individualizado e multifacetado e deve levar em consideração a condição de dor crônica, o distúrbio específico do sono e as sequelas psiquiátricas.

Distúrbios do sono causados ​​por dor crônica

Estima-se que entre 50% a 80% das pessoas que vivem com dor crônica têm distúrbios do sono. Por exemplo, um estudo revelou que 53% dos participantes com dor crônica preencheram os critérios para insônia, enquanto apenas 3% dos controles sem dor preencheram os critérios.4

A insônia é o distúrbio do sono mais comumente observado associado a dor crônica. Uma grande meta-análise também observou uma alta prevalência de outras interrupções do sono, com as 3 mais comuns sendo insônia com 72%, síndrome das pernas inquietas com prevalência de 32% e apneia obstrutiva do sono com prevalência de 32%.5 Esses três distúrbios somaram mais de 100%, sugerindo que a dor crônica pode estar associada a mais de um tipo de distúrbio do sono por vez.

Como a dor afeta o sono

Existem vários mecanismos pelos quais a dor interfere no sono. A dor é uma distração óbvia que dificulta o adormecimento e pode levar ao despertar noturno, especialmente quando o efeito da medicação para dor passa. No entanto, a dor também interfere na fisiologia do sono de maneiras direcionadas que vão além da distração consciente causada pelo desconforto.

Por exemplo, a dor aguda pós-cirúrgica tem efeitos quantificáveis ​​no sono, incluindo uma diminuição mensurável no tempo gasto na fase de movimento rápido dos olhos (REM) do sono. As alterações são observadas não apenas após a anestesia geral, mas também após a anestesia regional.6 Essa observação sugere que a própria dor (em vez do efeito do anestésico geral) é pelo menos um fator que contribui para os distúrbios do sono associados à dor pós-operatória.

A fibromialgia está frequentemente associada a distúrbios do sono.7 Pacientes com fibromialgia apresentam redução do sono de ondas curtas e ritmos α anormais, com episódios de vigília durante o sono não REM.8 Fadiga diurna e sono não restaurador são queixas comuns entre pacientes com fibromialgia, e esses achados da polissonografia são consistentes com qualidade de sono inadequada, mesmo quando os pacientes parecem ter dormido por um número adequado de horas.

A dor neuropática também está associada a distúrbios do sono, e há uma forte relação bidirecional entre os distúrbios do sono e as características neuropáticas da dor.9

Os distúrbios do sono são comuns entre pacientes que apresentam cefaleias crônicas e recorrentes. Os tipos de cefaleia comuns, incluindo cefaleias tensionais e enxaquecas, costumam ter sintomas associados além da dor, incluindo distúrbios do sono.10 Tal como acontece com a fibromialgia, a quantidade de tempo gasto dormindo não é necessariamente diminuída em pacientes com distúrbios do sono associados à cefaleia. Em vez disso, são os efeitos restauradores do sono que são afetados pela dor de cabeça crônica, e não a quantidade total de sono por noite. As características dos distúrbios do sono também podem variar com diferentes tipos de dores de cabeça.11

Privação de sono e dor

A relação entre dor crônica e sono ruim é bilateral. Os distúrbios do sono também podem afetar a resposta de uma pessoa à dor. À medida que os estágios do sono são comprometidos, a dor diurna aumenta por meio de um processo de hiperalgesia, no qual estímulos menores de dor resultam em maior percepção da dor e maior comprometimento associado a dor do que seria de esperar.12

De acordo com pesquisas em pacientes com fibromialgia, a privação do sono prejudica as vias de inibição da dor que normalmente ajudam a controlar a dor.13 Estudos também sugerem que a privação do sono pode levar à inflamação sistêmica que pode amplificar a dor.14 As evidências não sugerem que a privação do sono pode causar dor de forma independente; em vez disso, a privação do sono pode amplificar a percepção da dor que já está ocorrendo como resultado de causas subjacentes.

É importante observar que, embora haja uma forte associação entre distúrbios do sono e dor crônica e distúrbios do humor, é muito difícil determinar qual deles tem um impacto mais forte sobre os outros.15

Consequências psiquiátricas de distúrbios do sono relacionados à dor

Uma série de sequelas psiquiátricas podem complicar os distúrbios do sono induzidos pela dor. Existe uma forte relação entre a dor crônica associada a distúrbios do sono e os diagnósticos subsequentes de depressão e ansiedade.16 Outros problemas psiquiátricos, como delírios, alucinações ou mania, não são comumente observados com distúrbios do sono induzidos pela dor.

Estratégias de avaliação e tratamento

Devido à relação bidirecional entre a dor e os distúrbios do sono, os especialistas recomendam avaliar os pacientes com dor crônica para distúrbios do sono não diagnosticados.17

A avaliação pode incluir questionários de sono comumente usados, como o Mini Sleep Questionnaire (MSQ), o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) e a Escala de Sonolência de Epworth. As medidas objetivas incluem polissonografia, Teste de Latência Múltipla do Sono (MSLT) e Teste de Manutenção da Vigília (MWT). Além disso, testes de triagem para depressão e ansiedade também são frequentemente necessários. Os principais componentes da avaliação incluem o diagnóstico das sequelas da dor, além do diagnóstico da síndrome da dor.

O tratamento da dor tem efeitos de longo alcance além do controle da dor. As intervenções que visam diretamente o tratamento dos distúrbios do sono estão associadas a um melhor resultado do que as intervenções que visam apenas tratar a dor.18

Existem várias abordagens de tratamento diferentes para distúrbios do sono associados à dor, incluindo terapia cognitivo-comportamental, medicação e suporte respiratório durante o sono para pacientes que deles precisam.19

A abordagem geral para o tratamento da dor pode ou não envolver terapias para mais de 1 diagnóstico da tríade dor / distúrbio do sono / depressão. Por exemplo, os antidepressivos podem ajudar no controle da dor e na estabilização do humor. E os anticonvulsivos podem ajudar no controle da dor enquanto também melhoram o sono.20 Mas, apesar dessas sobreposições potenciais óbvias no tratamento, alguns pacientes podem se beneficiar de abordagens de tratamento ideais adaptadas a cada diagnóstico, mesmo que tratamentos completamente separados para cada condição sejam necessários para obter o controle dos sintomas.

A tríade de dor crônica, distúrbios do sono e depressão/ansiedade deve ser totalmente abordada para que o paciente seja restaurado à funcionalidade ideal. Isso só pode ser conseguido com um tratamento personalizado e focado em sintomas. A primeira condição requer uma abordagem de equipe multidisciplinar que trate do paciente como um todo. A segunda, que as intervenções farmacológicas e não farmacológicas (relaxamento, restrição do sono e terapia cognitiva) sejam selecionadas com base nos sintomas-alvo.21 Fora isso, que ambos os tipos de estratégia, sempre que possível, façam por tratar tanto da dor quanto das comorbidades.

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3 respostas

  1. Ótima matéria! Só precisava ser mais específica a que profissional procurar pq hoje em dia os médicos só tratam os sintomas e não o problema, vivencio está experiência a 27 anos e mais de 50 médicos e ninguém acha o motivo da dor crônica.

    1. Luciana, existem mais de 200 doenças crônicas, sendo que a maioria é acompanhada de dores também crônicas. As causas e os tratamentos desse tipo de dor em geral ainda são incertos ou simplesmente desconhecidos. A minha dor crônica não era maligna, nem severa, sorte minha. Porém demorei também 20 e tantos anos em controlá-la. O segredo? Parar de consultar médicos e estudar a dor eu mesmo. Não estou recomendando nada, apenas achei por bem compartilhar isso no seu caso, que parece com o meu.

  2. Achei muito interessante todas essas abordagem sobre esses assuntos emocional. Eu tomo antes convulsivo porque eu tive convulsão e eu descobri que o antes com você do que eu estou tomando ele tá me causando insônia aí eu estou com dor por conta do mieloma e a fratura na lombar que tem gerado essa dor nas pernas tive trombose ou meia longa está em remissão, as dores continuam por conta da fratura nas costas e eu não estou conseguindo dormir direito

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