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Sintomas pré-menstruais: um problema de saúde pública?

Sintomas pré-menstruais: um problema de saúde pública?

Mudanças de humor pré-menstruais e ansiedade são tão comuns que representam um “problema-chave de saúde pública globalmente”, de acordo com um novo estudo. Pesquisadores da Universidade da Virgínia descobriram que a maioria das mulheres (64%) experimenta sintomas de síndrome pré-menstrual (TPM) a cada ciclo menstrual, com esses sintomas afetando regularmente seu dia-a-dia. Essa postagem contextualiza esses resultados posicionando-os num espaço desenhado por descobertas recentes sobre os sintomas experimentados pelas mulheres durante o ciclo menstrual, em geral.

Por Liisa Hantsoo e outros

TPM (síndrome pré-menstrual) é o nome dos sintomas que as mulheres podem experimentar nas semanas anteriores à menstruação. A maioria das mulheres tem TPM em algum momento.

O panorama

Aproximadamente 80% das mulheres relatam experimentar pelo menos um sintoma físico ou de humor pré-menstrual (Schoep et al. 2019). No entanto, há dados limitados sobre a ocorrência de sintomas pré-menstruais entre nações e por diferentes faixas etárias.

A síndrome pré-menstrual (SPM) é caracterizada por sintomas emocionais, comportamentais e físicos que ocorrem durante a fase lútea tardia do ciclo menstrual e são aliviados após o início da menstruação. Os sintomas pré-menstruais podem ser físicos, como fadiga, irritabilidade, inchaço ou sensibilidade mamária, ou afetivos, como irritabilidade, ansiedade ou variabilidade de humor, e ocorrer em um continuum de gravidade.1

Os sintomas pré-menstruais ocorrem durante a fase lútea tardia do ciclo menstrual (aproximadamente uma semana antes do início da menstruação), desaparecem alguns dias após o início da menstruação e estão ausentes na semana pós-menstrual.2

A síndrome pré-menstrual (SPM) está presente em quase a metade da população feminina em fase reprodutiva mundial (47.8%).3

O transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), no extremo grave do continuum, inclui sintomas mais incapacitantes e é encontrado em 3 a 8% das mulheres.4

As causas

Acredita-se que a sintomatologia pré-menstrual na TPM e no TDPM seja devido a uma sensibilidade anormal aos hormônios esteroides que flutuam ao longo do ciclo menstrual.5

Mais especificamente, prevê-se que a TPM provavelmente seja influenciada pela ação da progesterona em neurotransmissores como ácido gama-aminobutírico (GABA), opioides, serotonina e catecolaminas. A deficiência de serotonina preexistente com aumento da sensibilidade à progesterona também é considerada responsável por esse distúrbio.

Porém, não é somente isso. Um aumento nos níveis de prolactina ou um aumento em sua sensibilidade ao efeito da prolactina, alterações no metabolismo da glicose, função anormal do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), resistência à insulina e certas deficiências nutricionais de eletrólitos e fatores genéticos também têm um papel na TPM.

Finalmente, o estresse amplifica a atividade simpática e isso resulta em dor menstrual por aumentar significativamente a intensidade da contração uterina.6

A questão da idade

Os sintomas pré-menstruais podem ocorrer em qualquer ponto durante os anos reprodutivos femininos, da menarca à menopausa. TPM ou TDPM podem iniciar na adolescência7, mas na maioria das vezes iniciam aos 20 anos de uma mulher.8 Os sintomas pré-menstruais podem atingir o pico por volta dos 35 anos9, embora poucos estudos tenham examinado a prevalência de sintomas pré-menstruais em todas as faixas etárias.

Os tecidos de todo o corpo são sensíveis aos níveis hormonais que mudam ao longo do ciclo menstrual da mulher.

Um grande estudo com mais de 3.500 mulheres relatou a prevalência de TPM moderada a grave baseada no humor como 10,7% em mulheres de 15 a 24 anos, 8,6% em mulheres de 25 a 34 anos, 11,2% em mulheres de 35 a 44 anos e 10,8% em mulheres de 35 a 44 anos, sugerindo que as mulheres na meia-idade eram ligeiramente mais propensas a apresentar sintomas de humor pré-menstrual moderados a graves do que os grupos mais jovens ou mais velhos.10 No entanto, outro estudo transversal descobriu que os sintomas pré-menstruais eram menos comuns em mulheres de 36 a 44 anos, em comparação com mulheres mais jovens.11 Também é possível que certos sintomas piorem ou melhorem com a idade. Por exemplo, alguns sintomas podem piorar em meados dos anos 30, mas melhorar antes da transição da menopausa, embora faltem dados longitudinais.12

Variação internacional

Os sintomas pré-menstruais afetam indivíduos em todas as nações e culturas, porém não com igual peso. Em uma meta-análise que avaliou a prevalência de TPM em doze países, a maior prevalência foi relatada no Irã (98%) e a menor prevalência foi relatada na França (12%).13 Os países europeus em geral relataram menor prevalência de TPM em comparação aos países asiáticos incluídos no estudo. Os relatos de gravidade dos sintomas pré-menstruais também variam de acordo com o país. Indivíduos no Reino Unido, Brasil, Japão, Coréia e Austrália relataram gravidade e duração relativamente maiores dos sintomas pré-menstruais, enquanto aqueles em Hong Kong e Paquistão relataram a menor gravidade e duração dos sintomas.14

Impacto no cotidiano

Finalmente, os sintomas pré-menstruais podem ter um impacto significativo no funcionamento diário de uma mulher.15 Em um estudo com mais de 4.000 mulheres de 19 países diferentes, aquelas com sintomas pré-menstruais moderados a graves apresentaram aumento do absenteísmo e diminuição da produtividade no trabalho.16 Em uma pesquisa com mais de 40.000 mulheres, 38% não conseguiam realizar atividades da vida diária devido a sintomas pré-menstruais.17 Entre as adolescentes, pelo menos 20% relataram sintomas de TPM associados ao comprometimento funcional.18 Há evidências mínimas sobre como o comprometimento funcional varia de país para país. Um estudo relatou que não houve diminuição na produtividade do trabalho em países asiáticos entre aquelas com TPM/TDPM, enquanto todos os outros continentes encontraram diminuição da produtividade relacionada ao trabalho naquelas com TPM/TDPM.19 Outro estudo que avaliou países europeus e latino-americanos descobriu que o comprometimento funcional foi mais grave no ambiente doméstico, seguido pelos ambientes social, educacional e de trabalho, o que foi consistente em ambos os continentes.20 Dado o comprometimento causado pelos sintomas pré-menstruais, avaliar e tratar adequadamente os sintomas pré-menstruais é uma importante questão clínica e de saúde pública.

“Eu estou certa de que chamam a TPM de TPM por ser uma forma mais fácil de dizer ‘Desordem bipolar maníaco depressivo indo na direção de raiva psicótica’”.

Anônima

A prevalência dos sintomas de humor

O estudo americano comentado em seguida examinou a frequência de uma série de sintomas pré-menstruais em pessoas de 18 a 55 anos, representando uma ampla faixa etária. Ele é baseado num grande conjunto de dados internacionais, coletados por meio de um aplicativo móvel (app) Flo, para (1) explorar a prevalência de sintomas pré-menstruais em idades entre 18 e 55 anos e (2) explorar a prevalência de sintomas pré-menstruais por nação.

Um dos principais achados do estudo foi o de que, independentemente da idade, um dos sintomas mais comuns relatados da TPM são alterações de humor ou ansiedade. Em todas as faixas etárias, pelo menos 61% das mulheres relatam sintomas relacionados ao humor durante cada ciclo menstrual.

A figura mostra um ranking dos sintomas mais sentidos durante o ciclo menstrual. Note que eles diferem significativamente (em prevalência) dos sintomas até hoje considerados pela mídia como os mais comuns da TPM, fora os relacionados a mudanças de humor, cansaço: sono ruim, inchaço ou dor de barriga. mastalgia. dores de cabeça, pele manchada. cabelos oleosos.21

Participantes reportando sintomas em cada ciclo menstrual (n)

“Nosso estudo demonstra que os sintomas de humor pré-menstrual são incrivelmente comuns em todo o mundo”, diz a autora sênior do estudo Jennifer L. Payne, MD, diretora do Programa de Pesquisa em Psiquiatria Reprodutiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Virginia, em um comunicado da universidade. “Mais importante, a maioria das mulheres relatou que seus sintomas pré-menstruais interferiram em sua vida cotidiana pelo menos parte do tempo”.

Os pesquisadores analisaram mais de 238.000 respostas a pesquisas de mulheres entre 18 e 55 anos que vivem em 144 países.22

Tradução livre de trechos do artigo “Premenstrual symptoms across the lifespan in an international sample: data from a mobile application”, por Liisa Hantsoo, Shivani Rangaswamy, Kristin Voegtline, Rodion Salimgaraev, Liudmila Zhaunova e Jennifer L. Payne

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