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Síndrome do intestino irritável: a dor crônica que muitos têm e da qual poucos querem falar

Síndrome do intestino irritável

Geralmente, quando pensamos em dores crônicas nos esquecemos das dores crônicas viscerais – e como elas são prevalentes. A denominada Síndrome do Intestino Irritável (ou SII), por exemplo, é uma doença crônica que afeta nada menos que 11% da população mundial. Este post visa informar sobre ela. A propósito, o seu intestino anda funcionando bem nos últimos tempos? Opa! desculpe, não precisa responder.

“Essa ‘coisa’ não é um simples ‘problema estomacal’, como gastroenterite viral ou intoxicação alimentar que desaparece em quase todos os pacientes após uma ou duas semanas.”

– Thomas LaMont

Você ouve falar que Fulano “tem dor crônica”. Onde você situa essa dor? Responda rápido.

Suspeito que não precisa de um ensaio controlado aleatório em 10 mil voluntários para descobrir a resposta prevalente: cefaleia, dor nas costas ou nas juntas (artrite) – ou mais recentemente, a dor generalizada, leia-se fibromialgia. Isso, de bate pronto. Pensando melhor surgem as doenças cardíacas, o acidente vascular cerebral, o câncer, a diabetes tipo 2, a obesidade… No Grande País do Norte, por exemplo, os Centros de Serviços Medicare e Medicaid têm uma lista mais extensa de 19 condições crônicas que incluem a doença de Alzheimer, depressão e HIV.

Faltou alguma outra “dor crônica”?

Pense de novo.

Não, não é um exercício masoquista, nem um meio de provar a enorme prevalência das dores crônicas (21% da população mundial).

A minha ideia foi destacar o quanto nos esquecemos de mencionar as dores crônicas viscerais, quando pensamos em “dor crônica” – e o quanto essas dores também são prevalentes. A denominada Síndrome do Intestino Irritável (ou SII), por exemplo, é uma doença crônica que afeta nada menos que 11% da população mundial.

De fato, a SII não é uma doença da qual o portador possa falar com alguma, digamos, soltura na frente de outros. Ora, as suas manifestações são diarreia, constipação etc., coisas que não enaltecem ninguém. Trata-se de um distúrbio gastrointestinal funcional persistente e difícil de controlar. E entre seus sintomas está o desconforto abdominal e… a dor crônica. Por isso cabe comentá-lo aqui. Vamos a um breve resumo.

Quão prevalente é a síndrome do intestino irritável?

Em 2009, pesquisadores mexicanos cravaram 16,9% numa população acima de 16 anos. Esses dados são semelhantes aos de outros países da América Latina, como o Peru e o Brasil (16,1%, n= 1.510).

Aproximadamente 10-15% das pessoas nos Estados Unidos sofrem de Síndrome do Intestino Irritável (SII), mas apenas 5-7% recebem um diagnóstico, de acordo com o American College of Gastroenterology.

A SII pode complicar incrivelmente a qualidade de vida de um paciente, no trabalho, em casa, no convívio social…

“Pacientes com SII provocam mais consultas médicas, fazem mais exames diagnósticos, recebem mais medicamentos e são hospitalizados com mais frequência do que alguém sem diagnóstico gastrointestinal.”

Sintomas da síndrome do intestino irritável

  • Dor e cólicas. A dor abdominal é o sintoma mais comum e um fator-chave no diagnóstico.
  • A SII predominante em diarreia é um dos três principais tipos de distúrbio.
  • Prisão de ventre. A SII predominante em constipação é o terceiro, afetando 50% das pessoas diagnosticadas com a doença.
  • Constipação alternada e diarreia.
  • Mudanças nos movimentos intestinais.
  • Gás e inchaço.
  • Intolerância alimentar.
  • Fadiga e dificuldade para dormir. 

Há cura para a Síndrome do Intestino Irritável?

Não, nada de cura, os tratamentos concentram-se então no estilo de vida, dieta e redução do estresse, com sucesso variável.

E como a pessoa sabe se tem a doença?

No Brasil, a praxe do diagnóstico da SII é “fazer uma colonoscopia”. Contudo, a World Gastroenterology Organisation, nas suas Practice Guidelines adverte:

“Mesmo nos países ‘ricos’ nem todos os pacientes precisam colonoscopia; seu uso é limitado, em particular, nos indivíduos com sintomas e sinais de alarme e pessoas maiores de 50 anos. A necessidade de exames, sigmoidoscopia e colonoscopia depende também das características do paciente (modo de apresentação, idade, etc.) e da localização geográfica (se está ou não em área de alta prevalência de doença intestinal inflamatória, doença celíaca, câncer de cólon ou parasitose). É possível dizer, por exemplo, que uma mulher de 21 anos com sintomas de SII-D e sem motivos de alarme merece, no máximo, sorologia celíaca e avaliação da tiroide (se necessário). Em geral, o diagnóstico é ‘mais seguro’ em pacientes com constipação, considerando que nos pacientes com diarreia severa há uma maior necessidade de considerar testes para excluir patologia orgânica.”

“O principal obstáculo para uma compreensão precisa desse distúrbio é sua natureza multidimensional complexa. Variáveis ​​psicossociais como ansiedade generalizada e específica do intestino, somatização, histórico de abuso, habilidades de enfrentamento deficientes e suporte social inadequado foram implicadas como fatores moduladores.”

O que de bom se pode esperar no futuro sobre o tratamento da Síndrome do Intestino Irritável?

Novas terapias na forma de nutracêuticos biodisponíveis, no entanto, oferecem esperança realista para quem sofre de SII.

Como não há cura, intervenções psicossociais  estão sendo cada vez mais recomendadas como componente multidisciplinar para a SII. Essas intervenções se concentram no gerenciamento do estresse e visam ajudar a enfrentar seus sintomas imprevisíveis, além da ansiedade e depressão resultantes.

E elas “funcionam”. Em um teste controlado aleatório, 122 pacientes com SII foram submetidos a uma terapia de Aceitação e Compromisso (Acceptance and Commitment), uma filial metodológica da Terapia Cognitivo Comportamental.

O programa consistiu em 8 sessões semanais de 90 minutos em grupos de 14 a 16 participantes. No final, houve uma redução de 45% no estresse 3 meses após a intervenção, e também efeitos positivos na qualidade de vida.

Por fim, a culinária. Pesquisas recentes sobre Síndrome do Intestino Irritável (SII) do professor Kevin Whelan, no King’s College London, demonstraram que uma dieta especial lançada pela Universidade Monash na Austrália, conhecida como Dieta Low FODMAP, ajuda algumas pessoas com SII.

A dieta é complexa e restritiva, pode ser difícil de seguir e precisa ser implementada com a ajuda de um profissional de saúde, como um nutricionista experiente, mas pode ajudar os sintomas da SII a algumas pessoas. No entanto, nem todo mundo com SII se beneficia dessa dieta, e neste contexto, a pesquisa recente do professor Whelan mostra uma grande promessa.

Se você quiser maiores detalhes sobre essa dieta clique aqui .

Suficiente sobre o básico que convém saber da SII. Porém, antes de encerrar, me permita o caro leitor um devaneio.

Ao analisar historicamente a evolução do tratamento da SII o que se percebe claramente é uma virada na direção das opções psicossociais. Não é diferente do ocorrido com outras doenças e dores crônicas, como a dor musculoesquelética, a fibromialgia e o câncer. Não se trata de renunciar à farmacologia – até porque ela progride e, também, porque o controle que os laboratórios mantêm sobre os médicos não deixa – mas reconhecer que, especialmente no caso dessas doenças crônicas, o seu aporte é limitado e, em alguns casos, inútil. Isso, em países desenvolvidos, os quais inquestionavelmente lideram os rumos da medicina clínica. Pena que no Brasil essa importante guinada ainda não tenha sido percebida.

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16 respostas

  1. Senti, na expressão de um grande médico, Doutor Gilberto Rebouças, em Salvador, uma grande frustação, ao passar um medicamento de efeito amenizador para o meu problema depois de um exame físico exaustivo de uma hora e meia em todo abdome. É o que infelizmente a medicina tem a oferecer para esse problema intestinal, onde as dores mudam de lugar, quando em crise e que nos deixa apreensivo a pensar em algo pior. Só quem é acometido da SCI sabe o que passa. Imagino até que pode ser de origem espiritual, já que não deixa, ao menos, alguma pista para solução, se apresentando de forma tão complexa. Deixo uma observação: Um médico naturista passou-me 15 dias de banho de assento com água gelada de 15 minutos dia e foi um grande alívio, com massagens de pano molhado pelo abdome. Um procedimento de grande dificuldade pelo desconhecimento dessa prática e preparo, mas, infelizmente, mesmo assim, a cura não passa de abordagens., que diga o tratado de Roma. Se for – de fato- problema espiritual, só DEUS pode resolver e muita renuncia para fazer.

    1. Grato pelo seu comentário, embora não evoque algo alegre. De fato, a SCI é um calvário que a medicina ainda não conseguiu interromper. A possibilidade de essa alteração gastrointestinal funcional ser também um problema espiritual, me toca muito de perto: a minha mãe sofreu com a doença até os 55 anos e se recuperou pela via naturista (banhos, massagens como os que você descreve, inclusive). A seguir paralelamente estudou ioga e enveredou pelo espiritualismo. Deu aulas de ioga até os 87 anos e faleceu com 91. Moral da estória (para você): não desista.

  2. Sofro muito com isso,as crises vêm acompanhadas de muita ansiedade e medo. Tomo sertralina para ansiedade mas na hora das crises parece que não faz efeito.Tenho cólicas forte que até me leva a desmaiar em certas ocasiões. Muito difícil conviver com isso!

  3. Tenho muito estufamento, constipação, dores no estômago, cólicas, tudo o que como me faz mal.
    Refluxo, boca amarga.
    Já fiz inúmeros exames, colonoscopia, endoscopia, lactose, glúten, amilase ,lipase e outras enzimas. Tomo ansiolítico. Estou em crise a 4 meses.

    1. Grato por seu comentário no blog, e queira me desculpar pela demora em responder. Suponho que você já está muito bem informada sobre a Síndrome do Intestino Irritável, e sabe que é uma doença crônica com sintomas bem característicos, tratamentos etc… Os exames médicos de praxe, pelo visto, você já fez todos. Ansiolítico? Cuide de não deixar a condição física se estender para um problema mental, como desânimo e ansiedade. Exercício, distração e respiração diafragmática podem ajudar a afastar essa possibilidade, considerando que sobre a sua dieta não opino por razões óbvias. Espero que consiga aliviar em alguma medida seu desconforto. Julio

  4. Tenho uma dor na lateral direita que erradia pra dentro da vagina não dói nem arde pra fazer xixi já fiz exame de urina não é infecção já tirei útero e ovários pode ser do intestino?

    1. Claudete, pode ser várias coisas/doenças/síndromes crônicas – ou nenhuma. Não adianta especular sem ver um médico (reumatologista por conta da irradiação; ou ginecologista também) e construir um diagnóstico.

  5. Estou com mudanças do hábito intestinal com constipação e quando evacuo fico com a sensação de que não esvaziou tudo e um pouco de cólica vomite fosse cólica menstrual
    Tenho 70 anos e estou com esse problema há quase 2 meses

  6. Tenho SII a mais ou menos um ano e meio.
    Não sei se é da síndrome, mas o que mais me incomoda é a náusea e os lábios secos.
    Já me consultei com nove médicos e nenhum tem um diagnóstico.

    1. Sonia, você deve ter constatado (no post lido), que esses dois sintomas (náusea e lábios secos) não estão entre os mais associados a SII. Como a SII convive e/ou se confunde com várias outras doenças crônicas, talvez você deva encontrar a explicação em alguma delas, ainda não diagnosticada. Não há teste para SII, mas você pode precisar de alguns testes para descartar outras possíveis causas. Contudo, após consultar 9 médicos, aquilo deveria ter sido checado e atualmente ser improvável! Os sintomas da SII podem ou não desaparecer, no entanto, o tratamento pode ajudar a diminuir os sintomas. As terapias podem incluir medicamentos e suplementos, mudanças na dieta, técnicas de mente e corpo e até mesmo exercícios. Você já tentou consistentemente cada um desses? Já seguiu um programa reunindo vários deles?

      1. Fui diagnosticada com SII, sinto dores a 6 meses no abdômen na região da pelve, nos flancos e na lombar, sempre nos mesmo lugares. Tenho receio do diagnóstico está errado e não estar tratando corretamente outros problemas 😞

        1. De fato, o diagnóstico da SII não é fácil. Os sintomas parecem com os de outras doenças crônicas (ex.: fibromialgia). Por outro lado, muitas autoridades da SII recomendam vários testes diagnósticos: a realização de um hemograma completo (CBC), velocidade de hemossedimentação (ESR), soro químicas e exames de fezes para ovos e parasitas (O&P) e sangue oculto (FOBT). A visualização colônica com sigmoidoscopia flexível, enema baritado ou colonoscopia (se o paciente tiver mais de 50 anos de idade) também é recomendada. Veja se o seu diagnóstico foi baseado no anterior. (Fonte: https://deepblue.lib.umich.edu/bitstream/handle/2027.42/72511/j.1572-0241.2002.07027.x.pdf?sequence=1)

  7. Sofro muito com isso . Desde uma crise de diverticulite nunca mais meu intestino ficou bom . Cada dia de um jeito, dores crônicas, dor no reto , vários médicos,. medicamentos, exames e nada . O diagnóstico é sempre esse SII. Muita ansiedade pois cada dia é uma luta com o organismo e com a mente . Sempre pensando o pior . E assim vamos seguindo…

  8. A meses sinto muita dor no estômago pontadas fortíssimas q me empedrem de ficar erguida na hora da crise. Mês passado estava constipada porém me dava vontade de ir ao banheiro normal e ao “evacuar” só saía uma espuma branca e nada mais. Agora estou evacuando porém verde escuro… ainda não consegui clínico no posto para fazer exames…

    1. Lamento sua condição. Realmente, sem antes um bom gastroenterologista examinar seus sintomas e resultados de exames etc., não há o que fazer. Temo que se, no desespero, você tentar se entupir de analgésicos as coisas piorem muito mais. Tome cuidado com isso.

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