Os laboratórios de todo o mundo farejaram sangue, literalmente. Os “testes rápidos” para detectar a infecção por coronavírus causando a doença de Covid 19 hoje são vendidos e realizados em farmácias no Brasil, e até na própria residência, nos Estados Unidos. Contudo, o mercado de testes ficou tão poluído, tão rápido, que seus resultados levaram o FDA americano a mudar sua opinião, de permissiva para cautelosa. Associações médicas em vários países têm advertido o mesmo. Em cerca de 15 minutos, o “teste rápido” permite detectar no sangue, soro ou plasma a presença de anticorpos que supostamente sugerem imunidade. Porém, isso não é garantido e note que a Organização Mundial da Saúde (8 de abril de 2020) recomendava esses testes apenas em ambientes de pesquisa e exigia uma validação adequada de seus resultados antes de endossar seu uso com fins de diagnóstico.
“O teste é fundamental para entender o padrão de propagação do vírus, a fim de desenvolver estratégias para mitigar a disseminação.”
Dentro de tudo o que se fala sobre o novo coronavírus você já deve ter ouvido que a capacidade de um país testar toda a sua população é essencial.
Em todo o mundo, centenas de milhares de pessoas precisariam ser testadas diariamente antes das autoridades das cidades começarem a afrouxar as restrições.
A testagem em cidades de São Paulo já está correndo solta e, a julgar pelas pretensões de alguns dos prefeitos, você e eu temos 25% de chance de sermos testados.
Não dói, carece de efeitos colaterais e é de graça. Porém, é isso suficiente para motivar você?
(Eu estou pressupondo que a vida é mais prazerosa quando a gente faz o que tem interesse em fazer, mas enfim, esse sou eu… releve.)
Afinal, por qual motivo testar? E testar como? Afinal, o que é um teste desses, como funciona e quais benefícios traz para você e sua família?
Se você não sabe e lhe incomoda um tiquinho que seja, o fato de não saber, continue por aqui. Essas e outras perguntas do gênero vou responder numa série de vídeos.
Para começar, são ao menos três tipos de teste que ajudam a conter a pandemia:
- Um detecta uma infecção ativa, é o RT-PCR – fique com a sigla porque ela significa Reação em Cadeia da Polimerase com Transcrição Reversa e você não quer andar por aí assustando crianças falando isso…
- Depois vem o teste, o sorológico, que revela se você tem anticorpos que poderiam deixá-lo imune ao vírus.
Deste teste existem duas versões. O chamado teste rápido foi aplicado no Distrito Federal há duas semanas e é usada em São Paulo.
Assista aqui um breve vídeo sobre este tipo de teste “made-by-mim-mesmo”.
- Um terceiro teste sinaliza que o vírus já saiu do corpo. Chama teste antígeno. Ele é menos acessível que os dois anteriores.
Todos os três testes precisam de material retirado do portador do vírus em potencial. O primeiro e o terceiro usam secreções do nariz e garganta; o teste de anticorpos, o sorológico usa o sangue.
Por fim, de que serve testar uma população afetada por um surto viral?
Vira e mexe, gostemos ou não, aplicação de testes atende mais os interesses da autoridade sanitária do que os da pessoa testada. Com base nos diagnósticos dos moradores infectados de uma região ou de um bairro, é possível rastrear a propagação da doença e assim orientar políticas sanitárias, como quais cidades devem ser postas em quarentena e quais não.
Quanto à pessoa testada, o diagnóstico pode orientar a conduta médica apropriada: internação, isolamento social ou outro procedimento pertinente para cada caso, porém como parte de um exame clínico abrangente. Contudo, por diversos motivos que afetam a confiabilidade dos resultados, a versão rápida do teste sorológico está sendo universalmente criticada. O FDA americano, por exemplo, acaba de mudar a sua política – antes liberal – em relação aos testes de anticorpos:
Sob essa política revisada, o FDA destacou as seguintes expectativas para os desenvolvedores de testes de anticorpos:
“Os fabricantes comerciais enviarão solicitações, com seus dados de validação, dentro de 10 dias úteis a partir da data em que notificaram o FDA de seus testes de validação OU a partir da data desta política, o que ocorrer posteriormente.”
Além disso, o FDA forneceu recomendações específicas de limite de desempenho para especificidade e sensibilidade para todos os desenvolvedores de testes sorológicos.
Paralelamente, os laboratórios de alta complexidade que desenvolvem seus próprios testes, como é provavelmente o caso dos grandes laboratórios no Brasil, ainda devem ter um certificado das Alterações de Aperfeiçoamento do Laboratório Clínico (CLIA) fornecido pelos Centros de Serviços Medicare e Medicaid (CMS) para desenvolver legalmente um teste de sorologia.
Em suma, ao menos nos EUA a mamata dos laboratórios acabou. E por aqui, se você pensava ir fazer o seu testezinho do Covid 19 na farmácia mais próxima que estiver habilitada, pense duas vezes. Vai se consultar com um médico primeiro.