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O transtorno depressivo maior em pacientes com dor crônica

O transtorno depressivo maior em pacientes com dor crônica

Há 4 meses postei sobre a relação entre dor crônica e depressão. Vários dados de pesquisa confirmaram a associação, mas a meu ver o principal destaque foi o de que, em muitos países, o Brasil Brasil inclusive, a maioria dos casos de saúde mental, não é reconhecida pela atenção médica básica. Assim sendo, calcula-se que cerca de 60% dos casos de depressão, não detectados preventivamente, poderiam ter sido reconhecidos se os pacientes tivessem sido avaliados quanto a esse transtorno de saúde mental.

A razão de voltar ao assunto, porém, é outra. Na mesma época da postagem, a Academy of Family Physicians dos EUA Estados Unidos recomendou, pela primeira vez, que os médicos examinassem todos os adultos com idades entre 19 e 64 anos, para transtornos de ansiedade e transtorno depressivo maior.1

Como as antigas definições relativas a transtorno depressivo maior mudaram recentemente com a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), eu achei oportuno trazer à tona os novos critérios, e agregando dados de pesquisa sobre a prevalência dessa condição de saúde mental e sua associação com a dor crônica.

“Depressão é sentir que você perdeu algo, mas não tem ideia de quando ou onde o perdeu pela última vez. Então um dia você percebe que o que perdeu foi você mesmo.”

– Anônimo

Muitos estudos de pacientes com dor crônica documentaram uma alta prevalência de transtorno depressivo maior (TDM).2

A prevalência de 12 meses de transtorno depressivo maior nos EUA Estados Unidos é de aproximadamente 7%, com diferenças marcantes por faixa etária (a faixa entre 18 e 29 anos tem uma taxa 3 vezes maior do que a daqueles com mais de 60 anos) e sexo (a taxa das mulheres é 1,5 a 3 vezes maior que os homens).

O diagnóstico de transtorno depressivo maior é baseado na presença de um episódio único ou recorrente, gravidade atual, características psicóticas e estado de remissão.

Critérios de Sintomas DSM-5 para Episódio Depressivo Maior (Adultos)

  • Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
  • Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (sente-se triste, vazio, sem esperança) ou observação feita por outros (parece choroso).
  • Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (conforme indicado por relato subjetivo ou observação).
  • Perda de peso significativa quando não faz dieta ou ganho de peso (por exemplo, uma mudança de mais de 5% do peso corporal em um mês) ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias.
  • Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
  • Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outros, não apenas sentimentos subjetivos de inquietação ou desaceleração).
  • Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
  • Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante) quase todos os dias (não apenas autocensura ou culpa por estar doente).
  • Capacidade diminuída de pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observado por outros).
  • Pensamentos recorrentes de morte e ideação suicida recorrente sem um plano específico, ou tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.

Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento.

O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.3

Os transtornos depressivos incluem vários outros diagnósticos, incluindo transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância e transtorno depressivo devido a outra condição médica.

O DSM-5 também contém alguns novos transtornos depressivos, incluindo o transtorno disruptivo da desregulação do humor e alguns transtornos modificados, como o transtorno depressivo persistente (anteriormente conhecido como transtorno distímico). A característica comum desses transtornos é a incidência de tristeza, sentimentos de vazio e/ou irritabilidade e alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a função do indivíduo. O que difere entre eles é a duração, o momento ou a etiologia presumida.4

Resultados de Pesquisa

Numa amostra aleatória de 3.243 indivíduos (18 anos), representativos dos habitantes da Califórnia (EUA Estados Unidos), a prevalência pontual de Condição Física Dolorosa Crônica (CFDC) foi de 49%.

Dor na região lombar foi a queixa mais frequente; a prevalência de transtorno depressivo maior (TDM) em 1 mês foi de 6,3%; e 66,3% dos indivíduos com TDM relataram pelo menos um CFDC.

Em 57,1% dos casos, a dor apareceu antes do TDM. A intensidade da dor foi aumentada por falta de sono, estresse e cansaço em indivíduos com TDM.

Estar confinado à cama, tirar licença médica e a interferência da dor com o funcionamento diário foram duas vezes mais frequentes entre os indivíduos TDM com CFDC do que em indivíduos sem-TDM com CFDC; indivíduos obesos com dor crônica (DC) tiveram 2,6 vezes mais chances de ter TDM.

Em suma: a dor crônica está altamente ligada ao transtorno depressivo. Deteriora as atividades físicas, ocupacionais e sócio-profissionais. A dor e os distúrbios do sono são o motivo principal da consulta médica, em vez do humor deprimido, destacando o risco de perder um diagnóstico de depressão.

Fonte: “Chronic pain and major depressive disorder in the general population”, de Maurice M. Ohayon e Alan F. Schatzberg.

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