Desde a sua formulação em 1990, os Critérios Preliminares de Classificação da fibromialgia propostos pelo American College of Rheumatology foram a “regra d´ouro” na prática clínica. Ou na teoria, melhor dizendo, porque na verdade eles mereceram aceitação universal de cientistas e pesquisadores epidemiologistas, mas nem tanto dos clínicos. A maioria destes, sabe-se, nunca chegou a utilizá-los como previsto. Ao ponto que em 2009, na Alemanha, uma dezena de cientistas recomendou mudanças rapidamente aceitas, porém ainda não plenamente aplicadas, especialmente no atendimento primário. Este post, baseado no e-book “Tudo que você queria saber sobre FIBROMIALGIA e tinha medo de perguntar” Parte 2, comenta o que mudou.
“Minha dor é invisível, assim como a dor que você causa quando não acredita em mim.”
A fibromialgia (FM) é um distúrbio de dor crônica comum – ou uma doença crônica “por direito próprio”, como a artrite reumatoide ou a diabete, segundo o entendimento científico mais recente – que apresenta enormes desafios de diagnóstico para os médicos. Uma pesquisa abrangendo 800 pacientes e 1622 médicos em 6 países europeus, além do México e Coréia do Sul, mostrou que os pacientes – 86% do sexo feminino – esperam em média 6,5 anos até se chegar num diagnóstico definitivo.
Vários critérios de classificação, diagnóstico e triagem foram desenvolvidos ao longo dos anos, mas como a doença ainda não é de todo conhecida, critérios universais precisos, que sejam ao mesmo tempo científicos e práticos para uso clínico continuam em falta.
Desde a sua formulação em 1990, os Critérios Preliminares de Classificação da fibromialgia propostos pelo American College of Rheumatology foram aceitos pela classe médica, mas não de todo entendidos, e muito menos praticados. Na verdade, eles mereceram aceitação universal de cientistas e pesquisadores epidemiologistas, mas nem tanto dos clínicos. A maioria destes, sabe-se, nunca chegou a utilizá-los como previsto. Ao ponto que em 2009/2010, na Alemanha, uma dezena de cientistas recomendou mudanças rapidamente aceitas.
O objetivo desse post é mostrar como a Avaliação Diagnóstica da Fibromialgia ficou depois daquilo.
Basicamente, que a síndrome de fibromialgia fosse diagnosticada de acordo com os critérios do American College of Rheumatology ou de acordo com critérios alternativos baseados em sintomas (dor generalizada, sensação de rigidez e inchaço das mãos, pés ou face, fadiga física ou emocional e perturbação do sono). Que isso fosse feito com base nas informações dos pacientes, sem qualquer teste dos pontos dolorosos; e que o diagnóstico de fibromialgia não fosse rejeitado se os pacientes dissessem que têm “dor em toda parte” durante o exame.
Ou seja, o relato do paciente, e a sua interpretação por parte de um médico experiente, passaram a ser os pilares do processo de diagnóstico da fibromialgia.
A retirada dos pontos sensíveis dos Critérios Preliminares de Classificação da fibromialgia em 2010, mudou o exame físico do paciente?
Não. A principal forma de realização desse exame, ao menos por parte dos reumatologistas, ainda inclui fazer pressão com os dedos em 18 pontos específicos do corpo. Alguns reumatologistas acreditam que testar esses pontos sensíveis é clinicamente útil.
Outros testam somente alguns, e ainda outros preferem realizar a apalpação por zonas do corpo. De qualquer modo, o American College of Rheumatology não mais recomenda a utilidade da apalpação nos pontos sensíveis, enquanto na Alemanha a diretriz é se basear no relato do paciente.
O que o paciente pode esperar numa primeira avaliação diagnóstica da fibromialgia?
Veja a seguir um traçado geral. Para uma descrição mais completa, veja o ebook “Tudo que você queria saber sobre FIBROMIALGIA e tinha medo de perguntar” Parte 2.
Avaliação diagnóstica da fibromialgia
Averiguação da História Completa | |
Sintomas gerais: | Doenças dos mais próximos Medicamentos atuais Atividades prejudicadas da vida diária Noções subjetivas de causa e medos relacionados à doença Estressores psicossociais |
fadiga | |
fraqueza | |
outras queixas físicas (ex: hábitos intestinais irregulares, dor abdominal, dispepsia, sintomas urinários, síndrome de Sjögren, irritabilidade geral) | |
queixas de saúde mental (ex.: distúrbios do sono ou falta de concentração) | |
Exame físico de todo o corpo | |
Testes diagnósticos auxiliares planejados para a rápida exclusão de outras condições |
O protocolo acima é seguido pela maioria dos médicos e médicas ao diagnosticar fibromialgia?
No Brasil, para variar, não há dados a respeito. No exterior é diferente. Há um ano eu me referia a uma pesquisa realizada numa clínica universitária de reumatologia americana em que de 497 pacientes, os médicos não identificaram corretamente 60 pacientes com critérios positivos, e identificaram incorretamente 43 pacientes com critérios negativos.
Mais recentemente, também numa comunidade americana, entre 3.276 pacientes de uma rede educacional de clínicas de atenção primária, foi constatado que:
- Dois terços dos pacientes com diagnóstico médico de fibromialgia não satisfaziam os critérios de fibromialgia.
- Dois terços dos pacientes que satisfaziam os critérios não receberam o diagnóstico de fibromialgia.
- O diagnóstico médico de fibromialgia demonstrou ser tendencioso em relação ao sexo.
Como explicar essa enorme dissonância entre os vereditos médicos e os critérios de diagnóstico oficiais?
A primeira razão, segundo os pesquisadores, é clara e simples: a maioria dos médicos não conhece ou não presta atenção aos critérios.1[Internet] ncbi.nlm.nih.gov. Acesse o link2[Internet] ncbi.nlm.nih.gov. Acesse o link