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O dia da mulher. Uma reflexão como homenagem.

O dia da mulher. Uma reflexão como homenagem.

A celebração global do Dia Internacional da Mulher é um momento para refletir sobre o quão longe as mulheres chegaram, defender o que ainda é necessário e ações para continuar quebrando barreiras. Porém, no mundo da saúde, as mulheres que produzem a ciência da medicina, as que medicam gente, e as que são medicadas, têm o que celebrar? Fora do Brasil, a resposta não é alvissareira. E dentro? Este post revela, a quem interessar, a opinião estritamente pessoal que o condutor deste blog tem a respeito.

“Às vezes fazem falta um par de culhões para se ser uma mulher”

– Autor(a) anônimo(a)

Todo ano nessa época, a mesma coisa. O Dia da Mulher, o Mês da Mulher, pauta cheia disso nos jornais, revistas, TV. Os focos são sempre os mesmos: o avanço feminino nas diretorias das grandes empresas, na liderança do empreendedorismo, na conquista de empregos na construção civil, na política, na polícia, no futebol etcétera. O cardápio é sempre o mesmo – e as reações do respeitável também. Tem quem comemore alguns avanços, sempre tímidos, porém “muito promissores, o próximo ano será maior”; e há as que se queixam daquilo ter sido pouco, ínfimo, injusto, inconstitucional, etcétera.

Alguém me perguntou se o blog iria homenagear a mulher no seu Dia, 8 de Março. Um dia, também me disse, “… dedicado a honrar as conquistas das mulheres ao longo da história e em todo o mundo.”

Eu não sou do grêmio feminino e, uma vez que desafiado a comemorar o tal Dia, fui obrigado a me informar sobre a sua origem. Se você for mulher, certamente já sabe disso há muito tempo, então vou ser sucinto.

Por muitos anos, associou-se o dia 8 de março – Dia da Mulher – ao incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist, em New York, ocorrido em 25 de março de 1911, matando 125 mulheres e 21 homens. Mas a ideia de uma celebração anual surgiu nas Conferências de Mulheres da Internacional Socialista, em Copenhague, 1910, embora uma data específica não fosse definida. A partir de 1913, as mulheres russas passaram a celebrar a data com manifestações realizadas no último domingo de fevereiro.

“Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no antigo calendário russo), dezenas de milhares de mulheres russas saíram às ruas (em Petrogrado, atualmente São Petersburgo) exigindo mudanças. O pedido unificado de ajuda abriu caminho para que as mulheres russas recebessem direitos de voto logo depois.”

Caramba, as russas… (O Czar Nicolau II tinha abdicado 5 dias antes e a Revolução Bolchevique veio 7 meses depois.)

Então, convenhamos, o 8 de Março não é um dia festivo, alegre “…dedicado a honrar as conquistas das mulheres ao longo da história e em todo o mundo.”

Ele é mais bem um dia de guerra, em que mulheres de diferentes origens e culturas se unem para lutar pela paridade de gênero e pelos direitos das mulheres.

Eu ignorava isso… E tudo bem, porque como eu já disse, não sou do grêmio. As mulheres em geral já saberiam, suponho.

Pois bem, e como um blog sobre dor crônica poderia homenagear a mulher no seu dia de luta?

Talvez informando que as mulheres são mais prevalentes que os homens no território das dores crônicas?

Grafico

O gráfico acima é um dos muitos que podem ser angariados para provar o anterior. (Os dados são do Canadá. Porém, são semelhantes no Brasil e noutros países mais desenvolvidos.) A mulher ganha do homem em dores crônicas e lidera em 7 das 10 principais doenças autoimunes.

Não, não é uma boa ideia. Frias estatísticas não rimam com luta. Então, que tal averiguar onde as mulheres estão lutando por “paridade de gênero” e “pelos seus direitos” no mundo da saúde, no Ocidente? Seria uma referência para depois investigar o mesmo no Brasil e, ato seguido, dedicar às respectivas guerreiras uma merecida homenagem, certo?

Certo. Então, que mulheres teoricamente teriam que “lutar pelos seus direitos” no âmbito da saúde? Responder isto não é difícil. Nos últimos tempos o blog publicou várias matérias apontando disparidades de gênero relacionadas a saúde afetando três grupos femininos: as cientistas, as médicas e as pacientes. E pode-se constatar movimentos telúricos bem expressivos em todos eles. Vejamos alguns exemplos:

As Cientistas

Nos Estados Unidos hashtags tais como #womeninSTEM ou #WomenInScience já são um lugar comum. E o que seria Stem? A abreviatura de Women in Science, Technology, Engineering, and Mathematics, um movimento impulsionado (vigorosamente, aliás) pela American Association of University Women (AAUW), ou seja, mulheres universitárias. O seu objetivo? Demolir barreiras ambientais e sociais – incluindo estereótipos, preconceito de gênero e clima dos departamentos de ciência e engenharia em faculdades e universidades – que continuam a bloquear o progresso das mulheres em STEM.

As Médicas

Na Argentina, tempos atrás, o jornal El Clarín publicou enorme matéria sob o seguinte título: “Siete de cada diez estudiantes de medicina son mujeres, pero no cede el ‘techo de cristal’”. De fato, a primeira parte da frase é uma tendência mundial que não mete medo. Na Europa, a proporção é um pouco maior (75%), enquanto no Canadá, EUA e México ela beira os 60%. A segunda parte, sim, incomoda. O “techo de cristal” significa salários menores (principalmente no âmbito privado) e limitado acesso a postos de liderança na área da saúde, acadêmica ou clínica. Na Província de Buenos Aires as mulheres ocupam apenas três de cada dez postos de direção nos hospitais.

As Pacientes

O ebook O Paradoxo de EVA, acessível gratuitamente no blog, se vale de uma infinidade de exemplos, ilustrações e citações retiradas de artigos publicados na mídia séria (ex.: The New York Times) e nas revistas científicas de maior renome (ex.: The Lancet) para sustentar a tese seguinte:

A mulher sofre com dor mais do que o homem e, no entanto, não recebe a mesma atenção (ou proteção) do sistema de saúde (fármacos, atendimento médico), em parte por conta de um viés de gênero.

Isso, na América do Norte, no Reino Unido, nos países nórdicos, na Austrália…

“Uma mulher com voz é, por definição, uma mulher forte. Mas a busca para encontrar essa voz pode ser notavelmente difícil.”

– Melinda Gates

E você deve estar se perguntando: e o Brasil?

A verdade é que eu não sei. Por aqui não há evidências científicas atestando qualquer protelação feminina seja na ciência, na medicina clínica ou no atendimento médico. Nenhuma faculdade de medicina, fisioterapia, ou odontologia, que eu saiba, estudou, pesquisou ou lecionou sobre isso. Artigos científicos a respeito, portanto nem se fala. As associações médicas? Indiferença total. E as autoras de livros como os que você vê a seguir, todos eles best sellers na Amazon a cargo de ex-pacientes crônicas que um dia decidiram botar a boca no trombone e denunciar o maltratadas que foram por sistemas de saúde supostamente os melhores do mundo?

Livros

Ausência absoluta.

Então, num dia de guerra em defesa dos direitos da mulher etcétera, a quem eu poderia homenagear?

Aceito sugestões, dispenso insultos.


O dia da mulher. Uma reflexão como homenagem.

“Em dezembro 2019, Donna Strickland se tornou a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de Física em 55 anos. Hoje, no Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, é mais importante do que nunca celebrar a conquista de Donna. Mas podemos imaginar um mundo em que as manchetes recentes tenham sido redigidas de maneira diferente? E se, em vez de ser vista como uma ‘mulher’ primeiro, Donna fosse simplesmente descrita como uma excelente cientista? Eu gostaria que o sexo dela fosse irrelevante, que não tivesse que ser mencionado, mas em dias como hoje, deveria ser.”

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