Neurociência e Dor - by dorcronica.blog.br

O desafio da nova (neuro)ciência da dor

O desafio da nova (neuro)ciência da dor

Afinal, o que muda na relação entre o profissional da saúde e o(a) paciente no contexto de um modelo biopsicossocial?

“(Percebe-se) uma contradição entre a excelência da formação biomédica, por um lado, e a fragilidade de atributos essenciais para um bom atendimento ao paciente, por outro.”

– George Engel M.D., em “A necessidade de um novo modelo médico: um desafio para a biomedicina”.
A história do estudo da dor, mostra uma clara evolução, de um modelo simplista que durou séculos, para um outro, muito mais recente e complexo, representado pela Neuromatrix.

Tal avanço possui implicações decisivas quanto ao desenho de tratamentos para aliviar a dor, assim como também para a relação Profissional da saúde/Paciente.

A noção de Descartes (1596-1650) decretava – isso mesmo, decretava – que a dor era necessariamente física por decorrer de uma anormalidade estrutural do corpo (ex.: uma ferida aberta, uma tendinite, uma hérnia de disco…). Qualquer tratamento teria que visar a correção dessa anormalidade. Corrigida, adeus dor. Mais lógico, impossível!

O fato de, mais tarde, o cérebro vir a ser reconhecido como um território abrangendo, além do músculo-cérebro propriamente dito, o tronco dorsal e a medula, não mudou a reclusão física do fenômeno da dor.

A “teoria cartesiana da dor” chama-se dessa forma não só pelo nome do fundador, mas também por ser ultra-racional, separando mente e corpo e confinando a dor neste último.

Aquela visão não explicava “anormalidades” como, por exemplo, pessoas com falhas estruturais que não sentem dor, ou sem falhas estruturais que sim, o sentem. (O exemplo da Dor do Membro Fantasma é clássico: o sujeito sofre a amputação de uma perna e anos depois continua se queixando de dor… nela. Como pode?). O preço do equívoco? Uma boa parte da população de pacientes – principalmente aqueles sofrendo de dor crônica – ficou a ver navios. E viva-se com isso.

As novas teorias sobre a dor – a do Controle do Portão da Dor e a da Neuromatrix, ambas de autoria de Ronald Melzack, um psicólogo canadense e professor emérito da McGill University –trouxeram à tona uma perspectiva mais realista de como a dor é “gerenciada” pelo cérebro: através de um constante – até dormindo, acredite! – fluxo de interconexões entre redes neurais responsáveis por zilhões de sensações – ou percepções, se preferir. Para super-simplificar digamos que uma interconexão – ou neurotag, na linguagem da Neuromatrix – responde pela cor azul, outra, pelo aroma da grama, outra, pelo amor que você sente pelo seu clube do coração, outra por uma lembrança angustiante qualquer, e claro, ainda outra pela dor (onde, quando e como ela for provocada). Segundo Melzack, nós, humanos, somos a todo instante o resultado de uma conversa de comadres protagonizada pelos milhões de neurônios que temos na cabeça, organizados em bandos e sinapseando ininterruptamente.

“O seu cérebro tem papel fundamental no controle da sua dor. Como você se sente ou o que você está pensando sobre sua dor tem impacto direto sobre o que irá ocorrer com o sinal de dor na espinha dorsal – onde a dor é modulada – e assim influencia enormemente quanta dor você irá sentir”.

– Charles Argoff, em Defeat Chronic Pain

Mas essa é somente uma parte da complexidade da coisa. As menções ao clube do coração e a lembrança angustiante não ocorreram por acaso. A primeira é uma emoção, a segunda tem a ver com estresse. Nem um, nem outro tem a ver diretamente com tendinite ou dor molar, e no entanto, segundo a Teoria da Neuromatrix, ambos podem provocar dor.

O que nos diz tudo isso? De cara, que tratamentos mais eficazes para a dor – a crônica especialmente – devem incluir a investigação e remoção de travas emocionais e de fatores de estresse relacionados à dor. Nada fácil porque amiúde travas do gênero moram no subconsciente, esse buraco negro onde guardamos coisas das quais nem sequer queremos saber.

O portador de dor crônica precisa então decidir o que fazer. Uma opção é prosseguir a romaria atrás de alguém, um médico famoso, um acupunturista made in China, um especialista em trigger points… capaz de aliviá-lo à moda antiga. A esperança é a última que morre, e às vezes a gente morre junto. Uma segunda opção é descobrir um profissional da saúde qualificado para agir dentro da plataforma intelectual exigida pela Neuromatrix. Sorte nisso, são raros. A terceira opção é, até onde possível, assumir a responsabilidade pela cura.

Maluquice?

Pode ser, mas para muitos não há outra saída.

Assim sendo:
PASSO 1 Confirme e reflita sobre o que leu aqui.
PASSO 2 Confirme seu diagnóstico com um bom médico.
PASSO 3 Avalie se já esgotou todas as opções de cura tradicionais e nada deu certo.
PASSO 4 Leia e aprenda sobre dor. Leia e aprenda sobre a psicologia da dor. Leia e aprenda sobre a neurociência da dor. (Não se assuste com esse último. Se você for alfabetizado, você pode.)
PASSO 5 Informe-se sobre o arsenal de estratégias e técnicas modernas que hoje existe para tratar da dor crônica complementando a terapia convencional (analgésicos, calor/frio, fisioterapia). Tem opções promissoras nesse âmbito (ex.: Terapia Cognitiva Comportamental) e também muito lixo. Informe-se direito.
PASSO 6 Escolha e pratique religiosamente não mais de duas dessas técnicas durante um mês.
PASSO 7 Examine o que aprendeu no período, veja até que ponto a dor amenizou, avalie seu estado de ânimo, calcule o custo-benefício de continuar e, se for o caso, repita ou amplie o PASSO 6.

Sorte por aí.

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