Uma abordagem abrangente, multimodal e holística é fundamental para tratar a dor aguda, mas faltam caminhos clínicos uniformes e baseados em evidências para tanto. Nos Estados Unidos, um relatório elaborado por um painel de experts – o Acute Pain Medicine Shared Interest Group (MDASIG) da American Academy of Pain Medicine (AMDA) – descreve a situação e propõe soluções, entre elas a criação de uma Medicina da Dor Aguda. A sua prática deve adotar uma abordagem multimodal, holística, abrangente e multidisciplinar para o cuidado do paciente com dor aguda, reconhecendo que nenhum remédio único provavelmente oferecerá uma solução global.1Buckenmaier CC., 3rd The Acute Pain Medicine Special Interest Group (APMSIG). Pain Med. 2013;14(8):1117–8. [PubMed] [Google Scholar]
A intenção do painel de experts e da Medicina da Dor Aguda, seria melhorar a qualidade da recuperação do paciente após cirurgia, doença ou trauma, para assim reduzir a conversão da dor aguda para a dor crônica.
Essa postagem reúne os trechos do relatório que a mim pareceram ser aplicáveis ao Brasil.
A prática da Medicina da Dor Aguda envolve a prática da medicina em vários níveis de internação, reabilitação e recuperação do paciente em casa. Especialistas em Medicina da Dor Aguda diagnosticam variantes e condições relacionadas à dor aguda, oferecem terapias médicas, intervencionistas e de medicina complementar e integrativa (CIM), e fornecem prevenção primária e secundária de dor aguda sempre que possível, tudo por meio de relacionamentos diretos entre paciente e médico.
Por que a prática de Medicina da Dor Aguda está ganhando atenção?2Dubois MY, Gallagher RM, Lippe PM. Pain medicine position paper. Pain Med. 2009;10(6):972–1000. [PubMed] [Google Scholar]3Institute of Medicine (IOM) Relieving Pain in America: A Blueprint for Transforming Prevention, Care, Education, and Research.The National Academies Press; Washington, DC: 2011. [Google Scholar]
Em primeiro lugar, ajuda a (….) reduzir complicações, facilitar a recuperação e encurtar as estadias após cirurgia, trauma ou doença. O controle da dor aguda também é um componente essencial das atuais vias clínicas e protocolos de recuperação aprimorados após a cirurgia.4White PF, Kehlet H, Neal JM, et al. The role of the anesthesiologist in fast-track surgery: From multimodal analgesia to perioperative medical care. Anesth Analg. 2007;104(6):1380–96. [PubMed] [Google Scholar]5Carroll I, Hah J, Mackey S, et al. Perioperative interventions to reduce chronic postsurgical pain. J Reconstr Microsurg. 2013;29(4):213–22. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]
Em segundo lugar, regimes multimodais cada vez melhores trouxeram o controle diário da dor aguda a um nível de eficácia anteriormente visto apenas em protocolos de pesquisa intensiva.6White PF, Kehlet H, Neal JM, et al. The role of the anesthesiologist in fast-track surgery: From multimodal analgesia to perioperative medical care. Anesth Analg. 2007;104(6):1380–96. [PubMed] [Google Scholar] Infelizmente, a dependência unimodal de opioides sistêmicos para controle agressivo da dor está repleta de efeitos colaterais graves e às vezes fatais7Oderda GM, Said Q, Evans RS, et al. Opioid-related adverse drug events in surgical hospitalizations: impact on costs and length of stay. Ann Pharmacother. 2007;41(3):400–06. [PubMed] [Google Scholar]8Overdyk FJ. Postoperative opioids remain a serious patient safety threat. Anesthesiology. 2010;113(1):259–60. [PubMed] [Google Scholar], exigindo a necessidade de progresso na administração de analgesia poupadora de opioides eficaz.
Terceiro, clínicos e neurocientistas reconhecem que a transição da dor aguda para crônica pode começar minutos após a lesão, tornando a distinção entre as duas artificial.9Carr DB, Goudas LC. Acute pain. Lancet. 1999;353(9169):12, 2051–8. [PubMed] [Google Scholar]10Fassoulaki A, Triga A, Melemeni A, Sarantopoulos C. Multimodal analgesia with gabapentin and local anesthetics prevents acute and chronic pain after breast surgery for cancer. Anesth Analg. 2005;101(5):1427–32. [PubMed] [Google Scholar]11Young Casey C, Greenberg MA, Nicassio PM, Harpin RE, Hubbard D. Transition from acute to chronic pain and disability: a model including cognitive, affective, and trauma factors. Pain. 2008;134(1-2):69–79. [PubMed] [Google Scholar]12Voscopoulos C, Lema M. When does acute pain become chronic? Br J Anaesth. 2010;105(Suppl 1):i69–i85. [PubMed] [Google Scholar]13Schmidt PC, Ruchelli G, Mackey SC, Carroll IR. Perioperative gabapentinoids: choice of agent, dose, timing, and effects on chronic postsurgical pain. Anesthesiology. 2013;119(5):1215–21. [PubMed] [Google Scholar] Dados populacionais sugerem que um melhor controle da dor aguda pode, para alguns pacientes, reduzir o risco de que a dor de uma operação ou doença médica aguda (por exemplo, herpes zoster) se torne crônica.14May A. Chronic pain may change the structure of the brain. Pain. 2008;137(1):7–15. [PubMed] [Google Scholar]
Finalmente, as recompensas por melhorar a experiência dos pacientes com os cuidados – incluindo maiores pontuações de satisfação do paciente e redução dos custos totais de saúde a longo prazo – são proporcionais aos esforços para controlar a dor aguda de forma eficaz.
Antecedentes do Grupo de Interesse Compartilhado em Medicina da Dor Aguda e Criação do Painel MDASIG
Destaca-se o reconhecimento geral entre os especialistas em dor de que a dor crônica geralmente evolui de um episódio agudo. Além disso, o processo de doença da dor é um continuum que é influenciado por fatores preexistentes do paciente, fatores ambientais e componentes agudos e crônicos. Embora a AMDA historicamente tenha se concentrado na porção mais debilitante física e socialmente desse continuum, ou seja, a dor crônica, é necessária atenção crescente para o manejo eficaz da dor aguda, particularmente porque pode atenuar ou prevenir a progressão para a dor crônica.
O painel de experts tomou como base a terminologia da IASP e chegou a um consenso de que a experiência da dor aguda engloba as seguintes características importantes:
- Tem um evento instigante
- É de início súbito
- O tempo é limitado
- Tem potencial para evoluir para uma condição patológica
Medição da Dor Aguda
As preocupações com a alta incidência de cronificação da dor associada à dor aguda mal controlada deram maior ênfase à necessidade de avaliações mais abrangentes da dor além da intensidade da dor.15Carr DB, Goudas LC. Acute pain. Lancet. 1999;353(9169):12, 2051–8. [PubMed] [Google Scholar]16Woolf CJ. Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain. 2011;152(3 Suppl):S2–15. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]17Mifflin KA, Kerr BJ. The transition from acute to chronic pain: understanding how different biological systems interact. Can J Anaesth. 2014;61(2):112–22. [PubMed] [Google Scholar]
Programas de melhoria de qualidade mais robustos estão se concentrando em resultados multivariáveis relevantes relatados pelo paciente. O Revised American Pain Society Patient Outcome Questionnaire (APS-POQ-R) é um exemplo de um instrumento PRO multidimensional para facilitar a coleta de dados de dor para medir a qualidade do tratamento da dor.18Gordon DB, Dahl JL, Miaskowski C, et al. American pain society recommendations for improving the quality of acute and cancer pain management: American Pain Society Quality of Care Task Force. Arch Intern Med. 2005;165(14):1574–80. [PubMed] [Google Scholar]
O APS-POQ-R foi projetado para uso em atividades de melhoria da qualidade no gerenciamento da dor em hospitais para adultos e mede 6 aspectos de qualidade, incluindo (1) gravidade e alívio da dor; (2) impacto da dor na atividade, sono e emoções negativas; (3) efeitos colaterais do tratamento; (4) utilidade das informações sobre o tratamento da dor; (5) capacidade de participar das decisões de tratamento da dor; e (6) uso de estratégias não farmacológicas.
As organizações de saúde também são instadas a rastrear eventos adversos graves relacionados a opioides como parte dos programas padrão de melhoria da qualidade.19The Joint Commission Safe use of opioids in hospitals. The Joint Commission Sentinel Event Alert. 2012;49:1–5. [PubMed] [Google Scholar]
Dimensões da Medição da Dor
Os avanços na compreensão dos aspectos multidimensionais da dor ampliam as possibilidades de programas baseados em relatos de pacientes (PROs).20Younger J, McCue R, Mackey S. Pain outcomes: a brief review of instruments and techniques. Curr Pain Headache Rep. 2009;13(1):39–43. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]21Malhotra A, Mackey S. Outcomes in pain medicine: a brief review. Pain Ther. Dec. 2012;1(1):5. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar] Embora avaliações regulares e reavaliações da intensidade da dor continuem sendo requisitados, a dependência apenas da intensidade da dor apresenta problemas significativos.
- Primeiro, riscos inerentes à segurança do paciente podem ocorrer quando o manejo agressivo de opioides é usado para tratar o escore de intensidade da dor com avaliação inadequada, especialmente em pacientes virgens de opioides e pacientes clinicamente comprometidos, com protocolos que estipulam titulação específica.
- Em segundo lugar, existem diferenças na natureza subjetiva e na interpretação das escalas de avaliação da dor por pacientes e profissionais de saúde.
- Em terceiro lugar, as classificações da dor com movimento ou atividade são igualmente, se não mais importantes do que as classificações em repouso, mas muitas vezes não são obtidas e documentadas rotineiramente.22Breivik H, Borchgrevink PC, Allen SM, et al. Assessment of pain. Br J Anaesth. 2008;101(1):17–24. [PubMed] [Google Scholar]
- Por fim, as classificações unidimensionais da dor falham em capturar o impacto da dor nos aspectos de saúde e bem-estar críticos para avaliar a melhora e recuperação geral do paciente e a eficácia dos planos de tratamento.23Younger J, McCue R, Mackey S. Pain outcomes: a brief review of instruments and techniques. Curr Pain Headache Rep. 2009;13(1):39–43. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]24Malhotra A, Mackey S. Outcomes in pain medicine: a brief review. Pain Ther. Dec. 2012;1(1):5. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]
As estratégias multidimensionais de medição da dor oferecem vantagens significativas ao medir domínios importantes como a funcionalidade; interferência da dor; percepções de alívio da dor; qualidade e caráter da dor; experiências psicológicas (por exemplo, ansiedade, depressão); papéis sociais, funcionamento e interações; problemas do sono; e satisfação com o cuidado da dor.25Gordon DB, Polomano RC, Pellino TA, et al. Revised American Pain Society Patient Outcome Questionnaire (APS-POQ-R) for quality improvement of pain management in hospitalized adults: preliminary psychometric evaluation. J Pain. 2010;11(11):1172–86. [PubMed] [Google Scholar]26Malhotra A, Mackey S. Outcomes in pain medicine: a brief review. Pain Ther. Dec. 2012;1(1):5. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]27Zalon ML. Comparison of pain measures in surgical patients. J Nurs Meas. 1999;7(2):135–52. [PubMed] [Google Scholar]28McCarberg BH, Nicholson BD, Todd KH, Palmer T, Penles L. The impact of pain on quality of life and the unmet needs of pain management: results from pain sufferers and physicians participating in an Internet survey. Am J Ther. 2008;15(4):312–20. [PubMed] [Google Scholar]29Benbernou A, Drolet M, Levin MJ, et al. Association between prodromal pain and the severity of acute herpes zoster and utilization of health care resources. Eur J Pain. 2011;15(10):1100–6. [PubMed] [Google Scholar]30Wylde V, Rooker J, Halliday L, Blom A. Acute postoperative pain at rest after hip and knee arthroplasty: severity, sensory qualities and impact on sleep. Orthop Traumatol Surg Res. 2011;97(2):139–44. [PubMed] [Google Scholar]
Conceitos como catastrofização da dor e evitação do medo, estudados principalmente no contexto da dor crônica31Darnall BD, Sturgeon JA, Kao MC, Hah JM, Mackey SC. From Catastrophizing to Recovery: a pilot study of a single-session treatment for pain catastrophizing. J Pain Res. 2014;7:219–26. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar], agora são incorporados aos estudos de dor aguda.32Theunissen M, Peters ML, Bruce J, Gramke HF, Marcus MA. Preoperative anxiety and catastrophizing: a systematic review and meta-analysis of the association with chronic postsurgical pain. Clin J Pain. 2012;28(9):819–41. [PubMed] [Google Scholar]33Zale EL, Lange KL, Fields SA, Ditre JW. The relation between pain-related fear and disability: a meta-analysis. J Pain. 2013;14(10):1019–30. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]34Kristiansen FL, Olesen AE, Brock C, et al. The role of pain catastrophizing in experimental pain perception. Pain Pract. 2014;14(3):E136–45. [PubMed] [Google Scholar] Uma revisão sistemática e metanálise de 29 estudos, envolvendo o uso de 14 instrumentos para medir ansiedade e catastrofização da dor, demonstrou uma associação estatisticamente significativa entre essas variáveis e o desenvolvimento de síndromes dolorosas pós-cirúrgicas.35Theunissen M, Peters ML, Bruce J, Gramke HF, Marcus MA. Preoperative anxiety and catastrophizing: a systematic review and meta-analysis of the association with chronic postsurgical pain. Clin J Pain. 2012;28(9):819–41. [PubMed] [Google Scholar]
O medo e a incapacidade relacionados à dor, muitas vezes vistos como mais relevantes para a dor crônica, também têm implicações para aqueles que sofrem de dor aguda, conforme revelado por outra meta-análise.36Zale EL, Lange KL, Fields SA, Ditre JW. The relation between pain-related fear and disability: a meta-analysis. J Pain. 2013;14(10):1019–30. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]
Além disso, uma medida da impressão global do paciente de mudança ou melhora de terapias de dor é comumente empregada na pesquisa da dor e é recomendada no Relatório IMMPACT de 2008 abordando a importância clínica dos resultados do tratamento em ensaios clínicos.37Dworkin RH, Turk DC, Wyrwich KW, et al. Interpreting the clinical importance of treatment outcomes in chronic pain clinical trials: IMMPACT recommendations. J Pain. 2008;9(2):105–21. [PubMed] [Google Scholar]
Biomarcadores de dor aguda
Ao longo da última década, vários biomarcadores de dor aguda foram descobertos. Alguns dos biomarcadores mais simples incluem consideração unidimensional de variáveis fisiológicas, como frequência cardíaca e frequência respiratória, embora o processamento avançado dessas variáveis (por exemplo, variabilidade da frequência cardíaca) permita avaliações do fluxo simpático.38Sesay M, Robin G, Tauzin-Fin P, et al. Responses of heart rate variability to acute pain after minor spinal surgery: optimal thresholds and correlation with the numeric rating scale. J Neurosurg Anesthesiol. 2014 Aug 7; [Epub ahead of print] [PubMed] [Google Scholar]39Koenig J, Jarczok MN, Ellis RJ, Warth M, Hillecke TK, Thayer JF. Lowered parasympathetic activity in apparently healthy subjects with self-reported symptoms of pain: preliminary results from a pilot study. Pain Pract. 2014 Feb 27; doi: 10.1111/papr.12177. [Epub ahead of print] [PubMed] [Google Scholar]40Nielsen R, Nikolajsen L, Krøner K, et al. Pre-operative baroreflex sensitivity and efferent cardiac parasympathetic activity are correlated with postoperative pain. Acta Anaesthesiol Scand. 2014 Dec 23; doi: 10.1111/aas.12457. [Epub ahead of print] [PubMed] [Google Scholar] O processamento adicional dessas variáveis fisiológicas também pode permitir a avaliação do equilíbrio relativo da atividade nociceptiva e antinociceptiva durante a anestesia, permitindo assim a antecipação e otimização do manejo da dor aguda pós-operatória com base em eventos intraoperatórios.41Ledowski T. Analgesia-nociception index. Br J Anaesth. 2014;112(5):937. [PubMed] [Google Scholar]
O trabalho em biomarcadores genéticos passou gradualmente da identificação e caracterização de polimorfismos de um único gene, como OPRM1 e COMT, para a consideração simultânea de um grande número de genes por meio de chips de genes em um número cada vez maior de coortes de pacientes.42Kolesnikov Y, Gabovits B, Levin A, Voiko E, Veske A. Combined catechol-O-methyltransferase and mu-opioid receptor gene polymorphisms affect morphine postoperative analgesia and central side effects. Anesth Analg. 2011;112(2):448–53. [PubMed] [Google Scholar]43Sadhasivam S, Chidambaran V. Pharmacogenomics of opioids and perioperative pain management. Pharmacogenomics. 2012;13(15):1719–40. [PubMed] [Google Scholar] A pesquisa sobre biomarcadores genéticos progrediu constantemente do estágio T1 de pesquisa translacional para o estágio T4, em que vários biomarcadores genéticos para sensibilidade à dor e eficácia analgésica foram estudados no ambiente clínico.
A fronteira dos insights genômicos sobre a dor aguda cresceu para incluir a consideração de fontes proteonômicas e metabolômicas de variação observada do paciente.44Reisdorph NA, Reisdorph R. Proteomics and metabolomics and their application to analgesia research. Methods Mol Biol. 2010;617:457–73. [PubMed] [Google Scholar]45Legg K. Metabolomics: Gaining insight into pain. Nat Rev Drug Discov. 2012;11(3):188–9. [PubMed] [Google Scholar]Estudos metabolômicos de dor aguda identificaram novos mecanismos de transmissão de sinal nociceptivo e sensibilização central, bem como múltiplos alvos para o desenvolvimento farmacêutico.46Patti GJ, Yanes O, Shriver LP, et al. Metabolomics implicates altered sphingolipids in chronic pain of neuropathic origin. Nat Chem Biol. Jan 22. 2012;8(3):232–4. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar] O mapeamento de biomarcadores de citocinas para diferentes fenótipos e gravidades de dor aguda oferece uma excelente oportunidade para associar lesões periféricas com sensibilização central e já forneceu vários alvos para intervenção terapêutica.47Schroeder M, Viezens L, Schaefer C, et al. Chemokine profile of disc degeneration with acute or chronic pain. J Neurosurg Spine. 2013;18(5):496–503. [PubMed] [Google Scholar]48Avdagic SS, Krdzalic G, Avdagic H, Uljic V, Piric M. Effects of postoperative analgesia on acute phase response in thoracic surgery. Med Arh. 2010;64(2):113–5. [PubMed] [Google Scholar]49Cuellar JM, Scuderi GJ, Cuellar VG, Golish SR, Yeomans DC. Diagnostic utility of cytokine biomarkers in the evaluation of acute knee pain. J Bone Joint Surg Am. 2009;91(10):2313–20. [PubMed] [Google Scholar]50Wang XM, Hamza M, Wu TX, Dionne RA. Upregulation of IL-6, IL-8 and CCL2 gene expression after acute inflammation: Correlation to clinical pain. Pain. 2009;142(3):275–83. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]
Fonte: Dailymail.co.uk
A neuroimagem funcional do cérebro e da medula espinhal oferece uma das medidas mais objetivas até agora de dor aguda.51Mackey SC. Central neuroimaging of pain. J Pain. 2013;14(4):328–31. [PubMed] [Google Scholar]52Brown JE, Chatterjee N, Younger J, Mackey S. Towards a physiology-based measure of pain: patterns of human brain activity distinguish painful from non-painful thermal stimulation. PLoS One. 2011;6(9):e24124. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar] Essas abordagens combinam dados de ressonância magnética funcional (fMRI) com algoritmos de “aprendizado de máquina” obtidos em pacientes em repouso ou experimentando níveis variados de nocicepção induzida experimentalmente. O resultado é um método de classificação com o qual os dados de fMRI podem ser usados para prever com precisão se um paciente estava sentindo dor aguda no momento da imagem. Notavelmente, esse progresso estimulou uma discussão provocativa sobre a comparação das classificações relatadas pelo paciente sobre a intensidade da dor aguda com medições objetivas da dor aguda obtidas por meio de neuroimagem. Biomarcadores de neuroimagem podem oferecer a oportunidade de analisar aspectos nociceptivos e aspectos psicossociais da dor aguda nos domínios de diagnóstico e tratamento.
Modelos análogos
Um tema recorrente da discussão deste painel foi a distinção clínica entre dor aguda “menor” e dor aguda “maior” ou de “alto impacto”. A dor aguda é análoga aos sinais e sintomas esperados de inflamação após trauma tecidual. No entanto, em certos pacientes, dado um grau suficiente de lesão ou inflamação ou ambos, a resposta típica, esperada e fisiológica se transforma em fenômenos fisiopatológicos que podem se autoperpetuar sem benefício aparente. Também semelhante à sepse, evidências crescentes sugerem que as estratégias de prevenção primária e secundária podem interromper essa progressão da resposta fisiológica para a doença fisiopatológica. Os pacientes retornam à linha de base dentro de vários dias após o insulto ou o processo agudo se transforma em um estado de doença crônica latente por meses a anos.
Diferenciação entre dor aguda e crônica
A diferenciação entre dor aguda e crônica é feita do ponto de vista clínico e mecanicista. Ao contrário da dor aguda, a dor crônica geralmente não é limitada no tempo, produzindo alterações fisiopatológicas do sistema orgânico sem propósito útil.
A duração de 3 a 6 meses é um ponto de corte comum para diferenciar a dor aguda da dor crônica. No entanto, essas ferramentas descritivas são arbitrárias e imprecisas. Em vez disso, entender os mecanismos subjacentes ao subtipo de dor nas dimensões de tempo, experiência, fisiopatologia e resultados é provavelmente a abordagem mais apropriada.
Em relação à dor aguda, a literatura científica descreve a ativação de nociceptores periféricos transmitindo sinais de dor centralmente após a ativação por uma série de mediadores (por exemplo, pressão, calor, citocinas inflamatórias e quimiocinas.53Voscopoulos C, Lema M. When does acute pain become chronic? Br J Anaesth. 2010;105(Suppl 1):i69–i85. [PubMed] [Google Scholar]
É importante notar que cada etiologia da dor aguda mantém uma impressão digital única de tal ativação e, em situações normais, se resolve com a cura. Em relação à dor crônica, a ativação desses nociceptores continua levando a alterações neuroplásticas permanentes no sistema nervoso central, promovendo posteriormente a cronificação. Mais uma vez, vários mecanismos foram elucidados em relação à cronificação, incluindo o envolvimento do receptor N-metil D-aspartato (NMDA), sistema ciclooxigenase 2 (COX-2), microglia e sistema endocanabinoide.54Voscopoulos C, Lema M. When does acute pain become chronic? Br J Anaesth. 2010;105(Suppl 1):i69–i85. [PubMed] [Google Scholar] Assim, regimes de tratamento individualizados que se concentram na dor imediata, mas também bloqueiam a transição da dor aguda para a crônica, são essenciais.
Embora a dor aguda e a dor crônica tenham diferenças notáveis, elas também têm inúmeras semelhanças. Por exemplo, ambas as condições compartilham fatores de risco, como predisposição genética, predisposições psicossociais (por exemplo, ansiedade, catastrofização) e limiares de dor.55Pergolizzi JV, Jr, Raffa RB, Taylor R., Jr Treating acute pain in light of the chronification of pain. Pain Manag Nurs. 2014;15(1):380–90. [PubMed] [Google Scholar] Além disso, ambos os tipos de dor requerem os objetivos do tratamento de minimizar a dor, otimizar a função e abordar os fatores psicológicos.56National Pharmaceutical Council, Inc., in collaboration with the Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations [December 12, 2014];Pain: Current Understanding of Assessment, Management, and Treatments [monograph] Published December 2001. Available at: http://www.npcnow.org/system/files/research/download/Pain-Current-Understanding-of-Assessment-Management-and-Treatments.pdf.
Embora reconhecendo semelhanças e diferenças, permanecem 4 questões essenciais:
- Quais pacientes experimentarão dor aguda grave?
- Como identificamos regimes de tratamento individualizados ideais?
- Quais pacientes desenvolverão dor crônica após lesão ou cirurgia e quais estratégias de prevenção devem ser utilizadas?
- Quais pacientes procurarão terapia com opioides a longo prazo após lesão ou cirurgia e quais estratégias de prevenção devem ser utilizadas?
Transição de dor aguda para crônica
Quase todos os casos de dor crônica começam como dor aguda. A exposição prolongada à dor aguda leva a mudanças estruturais no sistema nervoso central que transformam essa condição em uma síndrome de dor crônica.57Mackey SC, Maeda F. Functional imaging and the neural systems of chronic pain. Neurosurg Clin N Am. 2004;15(3):269–88. [PubMed] [Google Scholar]58Younger JW, Shen YF, Goddard G, Mackey SC. Chronic myofascial temporomandibular pain is associated with neural abnormalities in the trigeminal and limbic systems. Pain. 2010;149(2):222–8. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]59Barad MJ, Ueno T, Younger J, Chatterjee N, Mackey S. Complex regional pain syndrome is associated with structural abnormalities in pain-related regions of the human brain. J Pain. 2014;15(2):197–203. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]60Ung H, Brown JE, Johnson KA, Younger J, Hush J, Mackey S. Multivariate classification of structural MRI data detects chronic low back pain. Cereb Cortex. 2014;24(4):1037–44. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar] Dependendo do tipo de cirurgia, até 50% a 70% dos pacientes podem sentir dor no local da cirurgia pelo menos 6 meses após a cirurgia, com aproximadamente 10% classificando sua dor como severa em intensidade.61Kehlet H, Jensen TS, Woolf CJ. Persistent postsurgical pain: risk factors and prevention. Lancet. 2006;367(9522):1618–25. [PubMed] [Google Scholar]62Reddi D, Curran N. Chronic pain after surgery: pathophysiology, risk factors and prevention. Postgrad Med J. 2014;90(1062):222–7. quiz 226. [PubMed] [Google Scholar]
Fatores de risco estabelecidos para a transição da dor aguda para crônica no ambiente cirúrgico incluem idade mais jovem, sexo feminino, catastrofização, baixo nível socioeconômico, dor pré-operatória, controle inibitório nocivo difuso prejudicado, tipo e duração da cirurgia, lesão de nervos específicos, gravidade da dor aguda e, possivelmente, exposição prévia à radioterapia e quimioterapia.63Young Casey C, Greenberg MA, Nicassio PM, Harpin RE, Hubbard D. Transition from acute to chronic pain and disability: a model including cognitive, affective, and trauma factors. Pain. 2008;134(1-2):69–79. [PubMed] [Google Scholar]64Katz J, Seltzer Z. Transition from acute to chronic postsurgical pain: risk factors and protective factors. Expert Rev Neurother. 2009;9(5):723–44. [PubMed] [Google Scholar] Notavelmente, o foco da pesquisa até o momento tem sido nas transições de dor aguda para crônica no cenário perioperatório; as investigações sobre a transição aguda para crônica em pacientes não operatórios estão atrasadas.
A associação entre a gravidade da dor aguda e o risco de dor crônica
Ainda não está claro se a associação da intensidade da dor aguda com a incidência de dor crônica é baseada em altas cargas nociceptivas, baixa eficácia analgésica, alta sensibilidade à dor, pobre enfrentamento, todos os itens acima, ou talvez nenhum dos anteriores. Além disso, dada a importância do tempo em tais transições, ainda não está claro se existem certos limiares temporais ou mesmo espaciais de dor aguda que aumentam a probabilidade de desenvolver dor crônica. Também permanece possível, se bem improvável, que as observações de dor aguda e crônica sejam condicionalmente independentes uma da outra.
Analisar os efeitos independentes dos fatores acima é difícil em ambientes experimentais – muito menos clínicos –, uma vez que o estado observado de um paciente com dor reflete a interação dos fatores acima. Ainda não está claro se isso representa múltiplas facetas de uma única doença (por exemplo, dor no peito e dormência no braço de um infarto do miocárdio com elevação do segmento ST [STEMI]) ou estados de doença separados com mecanismos distintos que apresentam um conjunto semelhante de sintomas (por exemplo, doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e STEMI produzem desconforto torácico, mas têm mecanismos radicalmente distintos).
Um número limitado de estudos identificou preditores para o desenvolvimento de síndromes de dor crônica pós-cirúrgica (CPSP), reforçando fortemente a justificativa para a defesa de uma avaliação perioperatória mais abrangente da dor e resultados relacionados e manejo agressivo da prevenção da dor.65Theunissen M, Peters ML, Bruce J, Gramke HF, Marcus MA. Preoperative anxiety and catastrophizing: a systematic review and meta-analysis of the association with chronic postsurgical pain. Clin J Pain. 2012;28(9):819–41. [PubMed] [Google Scholar]66Lavand’homme PM, Grosu I, France MN, Thienpont E. Pain trajectories identify patients at risk of persistent pain after knee arthroplasty: an observational study. Clin Orthop Relat Res. 2014;472(5):1409–15. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]67Lewis GN, Rice DA, McNair PJ, Kluger M. Predictors of persistent pain after total knee arthroplasty: a systematic review and meta-analysis. Br J Anaesth. 2014 Dec 26;:aeu441. [Epub ahead of print] [PubMed] [Google Scholar]68Pinto PR, McIntyre T, Ferrero R, Almeida A, Araújo-Soares V. Risk factors for moderate and severe persistent pain in patients undergoing total knee and hip arthroplasty: a prospective predictive study. PLoS One. 2013;8(9):e73917. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]69Dahl JB, Kehlet H. Preventive analgesia. Curr Opin Anaesthesiol. 2011;24(3):331–8. [PubMed] [Google Scholar]
Estima-se que 10% a 50% dos pacientes submetidos a procedimentos comuns, como toracotomia, cirurgia de mama, correção de hérnia inguinal, amputação de perna e revascularização do miocárdio, apresentam dor crônica após a cirurgia.70Kehlet H, Jensen TS, Woolf CJ. Persistent postsurgical pain: risk factors and prevention. Lancet. 2006;367(9522):1618–25. [PubMed] [Google Scholar] Curiosamente, existe um corpo de evidências mais extenso para CPSP para pacientes submetidos a cirurgia para câncer.71Cregg R, Anwar S, Farquhar-Smith P. Persistent postsurgical pain. Curr Opin Support Palliat Care. 2013;7(2):144–52. [PubMed] [Google Scholar] Vários estudos descobriram altas taxas de CPSP entre pacientes submetidos a cirurgia geral, próteses articulares e prostatectomias.72Simanski CJ, Althaus A, Hoederath S, et al. Incidence of chronic postsurgical pain (CPSP) after general surgery. Pain Med. 2014;15(7):1222–9. [PubMed] [Google Scholar]73Wylde V, Hewlett S, Learmonth ID, Dieppe P. Persistent pain after joint replacement: prevalence, sensory qualities, and postoperative determinants. Pain. 2011;152(3):566–72. [PubMed] [Google Scholar]74Beswick AD, Wylde V, Gooberman-Hill R, Blom A, Dieppe P. What proportion of patients report long-term pain after total hip or knee replacement for osteoarthritis? A systematic review of prospective studies in unselected patients. BMJ Open. 2012;2(1):e000435. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]75Gerbershagen HJ, Ozgür E, Dagtekin O, et al. Preoperative pain as a risk factor for chronic post-surgical pain – six month follow-up after radical prostatectomy. Eur J Pain. 2009;13(10):1054–61. [PubMed] [Google Scholar] Simanski et al. realizaram uma avaliação de acompanhamento (média de 29 meses pós-operatório; N=911) e descobriram que CPSP, definida pela intensidade da dor ≥ 3 de 10, foi experimentada por 83 pacientes (14,8%).76Simanski CJ, Althaus A, Hoederath S, et al. Incidence of chronic postsurgical pain (CPSP) after general surgery. Pain Med. 2014;15(7):1222–9. [PubMed] [Google Scholar] Quando analisados por disciplina cirúrgica, 28% eram pacientes de cirurgia geral, 15% vascular e 57% trauma/ortopédico, sendo que a CPSP foi observada em pacientes com procedimentos maiores ou menores. A prevalência de dor crônica foi tão alta quanto 44% após a artroplastia total do joelho e 27% após a artroplastia total do quadril.77Wylde V, Hewlett S, Learmonth ID, Dieppe P. Persistent pain after joint replacement: prevalence, sensory qualities, and postoperative determinants. Pain. 2011;152(3):566–72. [PubMed] [Google Scholar] Em geral, as estimativas de prevalência de dor crônica variam de 10% a 34% após artroplastia total de joelho e de 7% a 23% após artroplastia total de quadril.78Beswick AD, Wylde V, Gooberman-Hill R, Blom A, Dieppe P. What proportion of patients report long-term pain after total hip or knee replacement for osteoarthritis? A systematic review of prospective studies in unselected patients. BMJ Open. 2012;2(1):e000435. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar] Uma proporção relativamente menor de pacientes, cerca de 14% em 3 meses e 1% em 6 meses, apresenta CPSP após a prostatectomia.79Gerbershagen HJ, Ozgür E, Dagtekin O, et al. Preoperative pain as a risk factor for chronic post-surgical pain – six month follow-up after radical prostatectomy. Eur J Pain. 2009;13(10):1054–61. [PubMed] [Google Scholar]
Uso perioperatório de opioides
A grande maioria dos pacientes cirúrgicos apresenta dor aguda e recebe prescrição de opioides. Em 1980, Porter e Jick publicaram uma carta ao editor do New England Journal of Medicine, amplamente citada, relatando uma pesquisa de seus pacientes hospitalizados nos quais o vício era raro após o uso de opioides prescritos (4/11.000).80Porter J, Jick H. Addiction rare in patients treated with narcotics. N Engl J Med. 1980;302(2):123. [PubMed] [Google Scholar] Assim, uma geração de médicos acredita que a magnitude dos distúrbios do uso de opioides após a prescrição no pós-operatório é pequena. No entanto, Wasan et al. e Ballantyne et al. conduziram revisões mais recentes da literatura e concluíram que as evidências para a afirmação anterior eram fracas e que as taxas reais após a cirurgia podem chegar a 10%.81Wasan AD, Correll DJ, Kissin I, O’Shea S, Jamison RN. Iatrogenic addiction in patients treated for acute or subacute pain: a systematic review. J Opioid Manag. 2006;2(1):16–22. [PubMed] [Google Scholar]82Ballantyne JC, LaForge KS. Opioid dependence and addiction during opioid treatment of chronic pain. Pain. 2007;129(3):235–55. [PubMed] [Google Scholar] Isso é particularmente importante, pois o abuso de opioides prescritos é uma crise nacional83Maxwell JC. The prescription drug epidemic in the United States: a perfect storm. Drug Alcohol Rev. 2011;30(3):264–70. [PubMed] [Google Scholar], custando mais de US$ 50 bilhões por ano84Hansen RN, Oster G, Edelsberg J, Woody GE, Sullivan SD. Economic costs of nonmedical use of prescription opioids. Clin J Pain. 2011;27(3):194–202. [PubMed] [Google Scholar], e a overdose de opioides prescritos é agora a principal causa de mortes por overdose não intencional nos Estados Unidos.85Centers for Disease Control and Prevention (CDC) CDC grand rounds: prescription drug overdoses – a U.S. epidemic. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2012;61(1):10–3. [PubMed] [Google Scholar] A exposição médica apropriada é parcialmente responsável: 35%-80% das pessoas viciadas em opioides relatam que foram expostas pela primeira vez a opioides prescritos para a dor pós-operatória.86Brands B, Blake J, Sproule B, Gourlay D, Busto U. Prescription opioid abuse in patients presenting for methadone maintenance treatment. Drug Alcohol Depend. 2004;73(2):199–207. [PubMed] [Google Scholar]87Potter JS, Hennessy G, Borrow JA, Greenfield SF, Weiss RD. Substance use histories in patients seeking treatment for controlled-release oxycodone dependence. Drug Alcohol Depend. 2004;76(2):213–5. [PubMed] [Google Scholar]88Passik SD, Hays L, Eisner N, Kirsh KL. Psychiatric and pain characteristics of prescription drug abusers entering drug rehabilitation. J Pain Palliat Care Pharmacother. 2006;20(2):5–13. [PubMed] [Google Scholar]89Barth KS, Maria MM, Lawson K, Shaftman S, Brady KT, Back SE. Pain and motives for use among non-treatment seeking individuals with prescription opioid dependence. Am J Addict. 2013;22(5):486–91. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]
Cuidados Transitórios
A transição do hospital para o domicílio ou outros ambientes é atualmente um período de descontinuidade dos cuidados, durante o qual pode não haver um profissional de saúde designado com responsabilidades primárias no tratamento da dor. Isso é mais pertinente do que nunca, com pressões crescentes para dar alta aos pacientes mais cedo, mesmo após cirurgias complexas. A dor permanece subavaliada e subtratada entre pacientes internados médicos e cirúrgicos.90Rockett MP, Simpson G, Crossley R, Blowey S. Characteristics of pain in hospitalized medical patients, surgical patients, and outpatients attending a pain management centre. Br J Anaesth. 2013;110(6):1017–23. [PubMed] [Google Scholar] Mesmo com o tratamento da dor intra-hospitalar de alta qualidade, o paciente pode ser substituído abruptamente de um regime analgésico individualizado por via parenteral ou regional para um regime oral padrão e, em seguida, receber alta com uma prescrição analgésica oral não individualizada. Os planos subsequentes para controlar a dor e os efeitos colaterais dos medicamentos e para acompanhamentos no consultório são frequentemente inadequados. Esses cuidados subótimos podem resultar em aumento da dor e estresse, interrupção do sono, diminuição da qualidade de vida, diminuição da satisfação do paciente, perda de confiança nos médicos e no sistema de saúde, aumento nas visitas ao departamento de emergência e outros resultados adversos.
Por exemplo, um estudo recente com 5.339 pacientes submetidos a cirurgia de coluna no Duke University Medical Center entre 2010 e 2011 descobriu que problemas relacionados à dor foram os principais impulsionadores das visitas pós-operatórias ao pronto-socorro: 643 pacientes responderam por 1.005 visitas ao pronto-socorro em 90 dias após a cirurgia.91Hopkins TJ, Guercio J, Saloom T, Shaw A, Aronson S. Postoperative emergency department utilization following elective spine surgery: a pilot study aimed to assess perioperative value delivery for chronic pain patients under the affordable care act (ACA) The Anesthesiology 2013 Annual Meeting Scientific Abstract Guide. 2013:68. Abstract FA A2260. [Google Scholar] Uma revisão de 204 queixas principais revelou que 112 (55%) estavam relacionadas à dor não controlada ou efeitos colaterais de medicação para dor.
As considerações antes da alta devem incluir a antecipação de necessidades analgésicas dinâmicas devido ao aumento da atividade física, incluindo a participação em terapias físicas e outras terapias de reabilitação; prever mudanças nas necessidades analgésicas devido ao tipo de lesão ou cirurgia; grau de tolerância a opioides92Huxtable CA, Roberts LJ, Somogyi AA, MacIntyre PE. Acute pain management in opioid tolerant patients: a growing challenge. Anaesth Intensive Care. 2011;39(5):804–23. [PubMed] [Google Scholar]; disponibilidade e acessibilidade dos medicamentos prescritos; tipo e experiência dos cuidadores; e transtornos médicos e psiquiátricos comórbidos. Com relação a este último, o mau manejo da dor aguda está associado à depressão e ansiedade.93Rockett MP, Simpson G, Crossley R, Blowey S. Characteristics of pain in hospitalized medical patients, surgical patients, and outpatients attending a pain management centre. Br J Anaesth. 2013;110(6):1017–23. [PubMed] [Google Scholar] Em pacientes com transtornos por uso de substâncias atuais ou passados, a dor não controlada pode levar à automedicação com álcool e drogas ilícitas e está associada à diminuição da retenção em programas de tratamento de manutenção de opioides.94Rosenblum A, Joseph H, Fong C, Kipnis S, Cleland C, Portenoy RK. Prevalence and characteristics of chronic pain among chemically dependent patients in methadone maintenance and residential treatment facilities. JAMA. 2003;289(18):2370–8. [PubMed] [Google Scholar]95Bounes V, Palmaro A, Lapayre-Mestre M, Roussin A. Long-term consequences of acute pain for patients under methadone or buprenorphine maintenance treatment. Pain Physician. 2013;16(6):E739–E47. [PubMed] [Google Scholar] Para pacientes com transtornos por uso de opioides em terapia de manutenção com agonistas opioides, é essencial um manejo especializado para conectar esses pacientes de volta à metadona ou buprenorfina.
Prevenção e Tratamento Multimodal
Um serviço de dor aguda que seja multidisciplinar e pratique analgesia multimodal é geralmente aceito como o melhor para alcançar um tratamento eficaz da dor aguda.96Siddall PJ, Cousins MJ. Persistent pain as a disease entity: implications for clinical management. Anesth Analg. 2004;99(2):510–20. table of contents. Review. [PubMed] [Google Scholar] A analgesia multimodal normalmente se refere ao uso de 2 ou mais medicamentos analgésicos que funcionam através de diferentes mecanismos, de forma aditiva ou sinérgica, reduzindo assim a dose e os efeitos colaterais de qualquer medicamento para dor.97American Society of Anesthesiologists Task Force on Acute Pain Management Practice guidelines for acute pain management in the perioperative setting: An updated report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Acute Pain Management. Anesthesiology. 2012;116(2):248–73. [PubMed] [Google Scholar] Um benefício adicional da analgesia multimodal é a redução do uso de opioides com seus efeitos colaterais associados e potencial de mortalidade.98Mathiesen O, Dahl B, Thomsen BA, et al. A comprehensive multimodal pain treatment reduces opioid consumption after multilevel spine surgery. Eur Spine J. 2013;22(9):2089–96. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar] Com o estabelecimento de serviços de dor aguda na maioria dos grandes hospitais e o desenvolvimento de anestesiologistas subespecializados em Medicina da Dor Aguda, a definição de analgesia multimodal expandiu-se significativamente além dos medicamentos para incluir técnicas analgésicas como anestesia regional.99Carroll I, Hah J, Mackey S, et al. Perioperative interventions to reduce chronic postsurgical pain. J Reconstr Microsurg. 2013;29(4):213–22. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]100Rawal N. 10 years of acute pain services–achievements and challenges. Reg Anesth Pain Med. 1999;24(1):68–73. [PubMed] [Google Scholar] É provável que essa definição se expanda ainda mais à medida que a Medicina da Dor Aguda amadurece para incluir abordagens não farmacológicas para a dor, como acupuntura, estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), técnicas de relaxamento (mindfulness), massagem e biofeedback. Essa abordagem necessariamente exigirá uma equipe especializada de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio. A subespecialidade da Medicina da Dor Aguda é projetada para liderar essa equipe de profissionais com o objetivo de tratamento superior da dor aguda para os pacientes.
Adequação das Diretrizes
A partir da síntese dos modelos acima, as diretrizes que abordam o manejo da dor aguda incluem aquelas atualizadas em 2012 pela American Society of Anesthesiologists (ASA), destinadas ao ambiente perioperatório.101American Society of Anesthesiologists Task Force on Acute Pain Management Practice guidelines for acute pain management in the perioperative setting: An updated report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Acute Pain Management. Anesthesiology. 2012;116(2):248–73. [PubMed] [Google Scholar] Louvável por aumentar a conscientização, as recomendações para adotar a analgesia multimodal e, sempre que possível, a anestesia regional, são inespecíficas. Além disso, a ASRA apresentou várias diretrizes abordando bolsas de estudos em anestesiologia regional e Medicina da Dor Aguda.102Hargett MJ, Beckman JD, Liguori GA, Neal JM. Education Committee in the Department of Anesthesiology at Hospital for Special Surgery. Guidelines for regional anesthesia fellowship training. Reg Anesth Pain Med. 2005;30(3):218–25. [PubMed] [Google Scholar]103Regional Anesthesiology and Acute Pain Medicine Fellowship Directors Group Guidelines for fellowship training in Regional Anesthesiology and Acute Pain Medicine: Second Edition, 2010. Reg Anesth Pain Med. 2011;36(3):282–8. [PubMed] [Google Scholar] Embora úteis, eles apontam para a contínua falta de uma estratégia abrangente de dor aguda que combine fatores específicos do paciente com padrões específicos de lesões agudas para orientar as escolhas de técnicas de dor aguda de precisão baseadas em evidências.
O esforço realizado pelos anestesistas australianos e neozelandeses e pela Faculdade de Medicina da Dor no Manejo da Dor Aguda: Evidência Científica chega mais perto de alcançar uma estratégia abrangente de dor aguda.104Macintyre PE, Schug SA, Scott DA, Visser EJ, Walker SM. Acute Pain Management: Scientific Evidence.3rd edition ANZCA & FPM; Melbourne, Australia: 2010. APM:SE Working Group of the Australian and New Zealand College of Anaesthetists and Faculty of Pain Medicine. [Google Scholar] Este texto amplo detalha tudo, desde avaliações adequadas para dor aguda a tratamentos farmacológicos, intervencionistas e alternativos para seu manejo. Ele fornece uma excelente revisão da literatura atual, mas, como acima, carece de uma abordagem específica do paciente e da lesão que é vital para o manejo da dor aguda. Essa falta, combinada com a falta de uniformidade nos métodos de classificação usados por várias sociedades, levou a um vazio na qualidade das revisões sistemáticas.
Medicina Sistemática da Dor Aguda e Resultados em Saúde
Até o momento, houve pouco trabalho sobre a relação custo-eficácia das equipes de Medicina da Dor Aguda. Pesquisas anteriores limitaram-se principalmente à administração de analgesia controlada pelo paciente, e mesmo essas melhorias foram consideradas custo-efetivas.105Sun E, Dexter F, Macario A. Can an acute pain service be cost-effective? Anesth Analg. 2010;111(4):841–4. [PubMed] [Google Scholar]106Stadler M, Schlander M, Braeckman M, Nguyen T, Boogaerts JG. A cost-utility and cost-effectiveness analysis of an acute pain service. J Clin Anesth. 2004;16(3):159–67. [PubMed] [Google Scholar] Fluxos de trabalho protótipos envolvendo artroplastia total da articulação ambulatorial demonstraram que isso era viável para pacientes selecionados e poderia oferecer uma economia substancial de custos, dados os volumes projetados de artroplastia total da articulação nas próximas décadas.107Cram P, Lu X, Kates SL, Singh JA, Li Y, Wolf BR. Total knee arthroplasty volume, utilization, and outcomes among Medicare beneficiaries, 1991-2010. JAMA. 2012;308(12):1227–36. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]108Kurtz S, Ong K, Lau E, Mowat F, Halpern M. Projections of primary and revision hip and knee arthroplasty in the United States from 2005 to 2030. J Bone Joint Surg Am. 2007;89(4):780–5. [PubMed] [Google Scholar]109Day JS, Lau E, Ong KL, Williams GR, Ramsey ML, Kurtz SM. Prevalence and projections of total shoulder and elbow arthroplasty in the United States to 2015. J Shoulder Elbow Surg. 2010;19(8):1115–20. [PubMed] [Google Scholar] Os atuais sistemas de seguro hospitalar muitas vezes impedem o investimento de longo prazo na melhoria do estado funcional do paciente, apesar do fato de que tais investimentos de longo prazo podem oferecer reduções substanciais nos custos totais de saúde.110American Hospital Association . In: Engaging Health Care Users: A Framework for Healthy Individuals and Communities.Chu Benjamin K., O’Brien John G., editors. American Hospital Association, 2012. Committee on Research; Chicago: Jan, 2013. [Google Scholar] No geral, uma abordagem que considera simultaneamente as implicações de curto e longo prazo das decisões de tratamento da dor aguda é superior ao modelo atual, que enfatiza apenas os efeitos de curto prazo que são mais facilmente visíveis com ferramentas de contabilidade histórica.
Os serviços de dor aguda tradicionalmente se concentram em diminuir os escores de intensidade da dor, o que é problemático por 2 razões:
- Primeiro, um foco tão isolado pode ser perigoso para populações inteiras de pacientes hospitalares. Por exemplo, levar a classificação de intensidade de dor de um paciente para zero pode não ser possível, e sua busca pode aumentar a morbidade e a mortalidade.
- Em segundo lugar, os últimos anos trouxeram um maior reconhecimento de que o papel do serviço de dor é diminuir a dor enquanto facilita a recuperação funcional.
Ferramentas como a Defense and Veterans Pain Rating Scale (DVPRS) oferecem uma abordagem mais holística para avaliar o nível de dor de um paciente dentro do contexto de outras dimensões de bem-estar, como humor e sono (Figura 1 e Figura 2).111Buckenmaier CC, 3rd, Galloway KT, Polomano RC, McDuffie M, Kwon N, Gallagher RM. Preliminary validation of the Defense and Veterans Pain Rating Scale (DVPRS) in a military population. Pain Med. 2013;14(1):110–23. [PubMed] [Google Scholar]112Defense & Veterans Center for Integrative Pain Management [December 11, 2014];Pain Assessment Screening Tool and Outcomes Registry (PASTOR) Available at: http://www.dvcipm.org/clinical-resources/pain-assessment-screening-tool-and-outcomes-registry-pastor.
Figura 1
Figura 2
Síntese
O gerenciamento eficaz da dor aguda oferece uma estratégia de prevenção primária para aliviar a dor do paciente e aumentar os custos de saúde. O Acute Pain Medicine Shared Interest Group (MDASIG) da American Academy of Pain Medicine (AMDA), ou Painel APMSIG, composto por uma colaboração de profissionais de saúde com interesse em dor aguda, reuniu-se com o objetivo de promover pesquisa baseada em evidências e educação em Acute Pain Medicine (APM), ou Medicina da Dor Aguda. Como parte de uma iniciativa de 3 anos, o painel estabeleceu prioridades destinadas a estabelecer um serviço de dor aguda multidisciplinar baseado em equipe como um componente essencial do atendimento de qualidade em qualquer hospital ou ambiente de atendimento agudo. Com essa direção para orientá-lo, a APM pode avançar e cumprir seu papel no tratamento contínuo da dor.