Todo ano me pergunto sobre o que uma mulher com dor crônica sente no seu dia, ou seja, no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Será que as homenagens retrospectivas corriqueiras – um político destacando os avanços da mulher na sociedade, uma feminista se queixando dos abusos… – trazem a ela algum conforto? A dúvida é válida porque essa mulher é especial, infelizmente. Ela convive com planos de saúde, consultas médicas, longas esperas em salas de espera, diagnósticos às vezes ininteligíveis, tratamentos incertos, perspectivas de cura improváveis e qualidade de vida (quase sempre) minguante.
A homenagem do blog é outra, bem mais concreta que as convencionais: quatro projetos realizados em benefício da mulher com dor crônica. Esse post os descreve.
“Se o sofrimento trouxer sabedoria, eu gostaria de ser menos sábio.”
Dia da Mulher. Homenagens por toda parte, todo ano os mesmos. As mesmas reclamações (ex.: poucas mulheres em postos de direção nas grandes empresas ou na política) e os mesmos trunfos (ex.: aproximadamente a metade dos lares e um terço dos empreendimentos novos no Brasil são chefiados por mulheres).
E nunca nada referente à saúde. Ou melhor, sobre o quanto a situação assimétrica da mulher na sociedade, se reflete no ambiente dos serviços médicos.
Então, a melhor homenagem que eu posso fazer à mulher com dor crônica nessa data comemorativa é listar o que por aqui, nesse blog, foi feito concretamente por ela.
Antes, um parêntese. Qual é o peso relativo da mulher com dor crônica no Brasil? Se, como dizem, a dor crônica afeta 35,5% dos brasileiros em geral, e a metade são mulheres, então teríamos 17,5% de 212 milhões = 37,1 milhões de mulheres nessa condição. Pouco não é, certo? Porém, é sabido que a dor crônica afeta mais as mulheres do que os homens: 2/3 contra 1/3, vira e mexe.1[Internet] scielo.br. Acesse o link2[Internet] scielo.br. Acesse o link
Então, a conta vai a 48,8 milhões de mulheres com dor(es) crônica(s), ou duas Austrálias e algo mais que uma Argentina e dois Chiles – completas. Enfim, só dizendo.
Voltando a homenagem à mulher. Foram quatro iniciativas.
Um aplicativo educacional, chamado ALÍVIO MULHER foi hospedado nas duas plataformas Google Play Store e App Store. Ele comporta 21 doenças tipicamente femininas e aproximadamente 4 mil questões fundamentadas em estudos e publicações nacionais e internacionais. Além das conhecidas, Endometriose, Cefaleia, Síndrome do Intestino Irritável, Fibromialgia, Dores Neuropáticas, Artrite Reumatoide, há outras como Cistite Infecciosa, Cistite Intersticial, Síndrome do Ovário Policístico e sobretudo Distúrbios do Sono.
A jogadora pode escolher qualquer dor/doença e testar seus conhecimentos sobre ela.
O ALÍVIO MULHER já foi baixado por mais de 50 mil pessoas. Também, foi plenamente traduzido ao inglês e espanhol.
A segunda iniciativa foi o ebook DORES Femininas, acessível no blog, sem custo. O objetivo é complementar o aplicativo ALÍVIO MULHER. A sua leitura prévia – são 220 páginas ilustradas – permite checar o aprendido usando o aplicativo. Ou ao contrário, usar a leitura do ebook para depois checar o aprendido no jogo. Por último, se não houver interesse em checar nada, o ebook, sozinho, ensina o básico sobre todas e cada uma das principais dores/doenças crônicas não malignas que mais afligem as mulheres.
A terceira iniciativa veio em dobro: duas pesquisas sobre a mulher com dor crônica e a medicina. A primeira, sobre o atendimento médico recebido, e a segunda, sobre o que os profissionais da saúde opinam das dores femininas (se elas são diferenciadas, emocionalmente influenciadas etc.). A escolha desses temas resultou da montagem do ebook “O PARADOXO DE EVA”, sobre a assimetria que caracteriza os cuidados que a medicina dispensa à mulher e aponta razões não só biológicas, mas também culturais para tanto.
Ambas as pesquisas foram patrocinadas pela Faculdade de Medicina de Jundiaí e aprovadas pelo Conselho de Ética em Pesquisa. O relatório da primeira pesquisa DOR NA MULHER está disponível no blog (clique aqui para vê-lo).
Uma quarta iniciativa: o ebook “INSÔNIA MULHER”, com 206 páginas ilustradas descrevendo tudo o que uma mulher – e homens também – devem saber para resolver seus problemas em relação ao sono. Como se sabe, dormir mal é uma característica das pessoas com dor crônica, e igualmente uma das principais causas dessa condição. Além disso, embora a má qualidade do sono afete entre 35% e 40% dos adultos, a prevalência da má qualidade de sono é quase duas vezes mais provável nas mulheres do que nos homens.
Aproveite tudo o que o blog pode oferecer para a mulher com dor crônica!