Descobrir o tratamento-mais-eficaz para a fibromialgia é mais difícil que encontrar o Santo Graal na Feira da Madrugada. Os sintomas são muitos e variados, e até hoje nem a farmacologia mais moderna resolve. Restou a atividade física, atualmente a terapia mais recomendada pelos estudiosos dessa síndrome crônica. Mas que tipo de exercício? Qual poderia ser seguro, eficaz no alívio da dor e, principalmente, capaz de devolver ao paciente o ânimo perdido para as agruras da doença. Até pouco tempo atrás, a hidroginástica e o Tai Chi eram as opções de praxe. Recentemente, todavia, o método Pilates entrou no podium após ter sido validado por estudos científicos sérios. Este post apresenta os 18 exercícios contidos em dois deles.
“O bom condicionamento físico é o primeiro requisito para se ser feliz”.
Este post apresenta duas séries de exercícios de Pilates distintas, apresentadas detalhadamente em vídeo, adequadas a necessidades diferentes de um paciente com fibromialgia.
Como a terapia farmacológica, desde analgésicos a opioides, não parece funcionar bem para a maioria dos fibromiálgicos – existe esse nome ou eu acabo de inventar? – a procura por terapias alternativas mais promissoras é intensa. No ebook “Tudo o que você queria saber sobre Fibromialgia e tinha medo de perguntar” eu listei várias. Dentre elas, duas possuíam alguma sustentação científica: Tai Chi e Pilates.
Escolhi me aprofundar na segunda. Três razões: eu pratico Pilates há décadas, o blog já hospeda várias séries de exercícios de Pilates recomendados a pacientes com dor crônica, e sempre tive curiosidade em saber se algum estudo científico recomendaria o Pilates para pacientes com fibromialgia.
Quem já ouviu falar mil vezes em Pilates mas nem por isso conhece a modalidade, pode se informar:
Pilates é uma abordagem específica de exercícios que foi fundada por Joseph Pilates (1880–1967) e foi inicialmente praticada por atletas e dançarinos. O treinamento de Pilates tem como objetivo melhorar a flexibilidade e a saúde geral do corpo, enfatizando a força “central” (troncular), a postura e a coordenação da respiração com o movimento.
Os exercícios de Pilates colocam os participantes em uma posição que minimiza o recrutamento muscular desnecessário, o que poderia levar à fadiga precoce, diminuição da estabilidade e recuperação prejudicada. Os exercícios de Pilates com foco principalmente nos extensores das costas e na musculatura abdominal, em particular no transverso abdominal, são conhecidos como fortalecimento do núcleo.
O objetivo do fortalecimento do núcleo sem forçar as articulações periféricas é realizado através da concentração em:
- coordenação da respiração com o movimento;
- estabilização escapular, pélvica e da caixa torácica durante os movimentos abdominais; e
- posicionamento da cabeça e da coluna cervical para evitar tensão no pescoço.
À medida que o participante desenvolve força e forma aprimoradas, a base de suporte é gradualmente reduzida para retreinar os mecanismos proprioceptivos enquanto promove padrões de movimento mais eficientes. Isso é parecido em princípio aos exercícios de estabilização dinâmica amplamente utilizados no tratamento e prevenção da lombalgia musculoesquelética (DL), que preconiza a promoção da eficácia dos estabilizadores profundos e a diminuição da contração dos músculos contraproducentes à atividade.1[Internet] livestrong.com. Acesse o link
Veja também nossas publicações relacionadas a Pilates:
Achei vários artigos ou revisões de artigos já publicados. No entanto, apenas dois estudos apresentaram boa qualidade, provando que para a fibromialgia o Pilates é tanto ou mais benéfico que outras atividades físicas.
Os Estudos
Um estudo pioneiro na matéria, de autoria de quatro fisioterapeutas turcos, foi publicado em 2009, na Physical Medicine and Rehabilitation. “Effects of Stott´s Pilates versus Yogic exercise in Fibromyalgia”.2Physical Medicine and Rehabilitation. “Effects of Stott´s Pilates versus Yogic exercise in Fibromyalgia”. International Journal of Physiotherapy and Research, 2015. Ele abrangeu 50 mulheres diagnosticadas com fibromialgia com base nos critérios do American College of Reumathology da época (eles mudaram em 2010).
O Stott´s Pilates visa o relaxamento, a flexibilização muscular e a conscientização mente-corpo, portanto é mais adequado à pacientes com fibromialgia que têm necessidades de reabilitação ou iniciantes sem familiaridade com a atividade física.
Nos anos seguintes seguiram-se vários outros ensaios semelhantes, a maioria, como eu já disse, comparando a eficácia do Pilates para tratar a fibromialgia, com a ioga, a iogasana, exercícios aeróbios aquáticos, exercícios funcionais etc. A praxe é submeter voluntários a prática periódica de uma série de exercícios de Pilates durante um período e depois comparar medidas de aproveitamento (ex.: dor) e/ou performance (ex.: flexibilidade) pré-intervenção versus pós-intervenção. Em todos os casos menos um, o Pilates se saiu vencedor, ainda que por pouca margem. Em todos os casos, todavia, a modalidade trouxe benefícios e nunca prejuízos aos praticantes, quase sempre mulheres.
O estudo “Mat Pilates é tão eficaz quanto o exercício aeróbio aquático no tratamento de mulheres com fibromialgia: um ensaio clínico, randomizado e cego”, foi publicado em 2020 pela Advances in Rheumatology.3[Internet] scielo.br. Acesse o link
O Mat Pilates, ou “Pilates no solo” visa fortalecer o “core” ou núcleo do corpo, um termo do Pilates que abrange abdominais, músculos da lombar, assoalho pélvico, quadris e glúteos. A modalidade é útil para pacientes com fibromialgia que sejam iniciantes ou possuam alguma familiaridade com a atividade física, especialmente se pensam progredir na prática.
Em ambos os casos, os pesquisadores testaram a hipótese de se, e em que medida, a prática de exercícios do método Pilates ameniza a dor em pacientes com fibromialgia. Após 12 semanas de tratamento para pacientes com fibromialgia foi constatado que o método Mat Pilates se mostrou eficaz na melhora da dor.
As Duas Séries de Videos
Eu repliquei as séries usadas nos estudos, visando os pacientes fibromiálgicos eventualmente interessados em aliviar seus sintomas via Pilates.
E fui além. Nos artigos originais, os diferentes exercícios de Pilates aparecem apenas fotografados, cada um na sua postura característica. Nos meus vídeos, cada exercício é apresentado esclarecendo primeiro a sua finalidade, seguido de sua execução correta, e por fim dos erros mais comuns e as variantes mais seguras para os iniciantes.
A produção foi encarregada a Macarena Lobos, fotógrafa profissional, e a Juliana Louback, fisioterapeuta, professora de Pilates há 8 anos e osteopata.
As duas séries, de 8 e 10 exercícios respectivamente, podem ser praticadas por indivíduos ou grupos com necessidades distintas, em casa e se valendo de apenas colchonete e bola.
Assim, nossos visitantes poderão aderir a exercícios de Pilates comprovadamente seguros e eficazes para aliviar sintomas da fibromialgia – e que não foram simplesmente tirados da revista Contigo ou do YouTube.
As duas séries podem ser acessadas aqui.
Você pode assistir um vídeo de cada exercício clicando no seu nome – abaixo, no caso do Mat Pilates:
Pilates para Fibromialgia – Série A
Ou os exercícios do Sttot’s Pilates:
Pilates para Fibromialgia – Série B
Em suma, ambos os estudos sugerem que o método Pilates pode melhorar a dor e a qualidade de vida de pessoas com fibromialgia. Parece óbvio que dessas séries deve-se selecionar os exercícios que se ajustem à necessidade do paciente. O nível de exigência física, por exemplo, deve variar dependendo de estar no começo de uma reabilitação e/ou ser iniciante na prática de atividade física.
Idealmente, a prática dos exercícios deveria ser orientada por um instrutor qualificado. No Brasil, isso é privilégio de poucos, mas não deveria ser desculpa para nada fazer. Cada pessoa conhece seu corpo e suas limitações de resistência e dor. O paciente fibromiálgico precisa se movimentar, e se possível, se exercitar prudentemente. O método Pilates hoje possui validade universal. Os vídeos aqui apresentados são autoexplanatórios. Um colchonete e uma bola de Pilates (R$ 39,90) são tudo que se precisa para praticar numa sala do próprio lar, se não houver outra opção. O que mais falta para começar?