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“Estresse bom” e dor. Acredite, eles andam juntos.

“Estresse bom” e dor andam juntos

O estresse bom sempre se pensou que pudesse mascarar uma dor aguda. É o soldado que continua lutando mesmo ferido, ou o atleta olímpico que completa a prova mesmo machucado. Todavia, um estudo de pesquisadores israelenses e canadenses enfraquece essa noção. O estresse psicossocial agudo conduz ao descontrole da dor e isso pode prejudicar o organismo. Noutras palavras, ficar com raiva no trânsito quase todo dia, por exemplo, irá intensificar a dor que a pessoa vier a sentir depois por qualquer motivo, seja no dentista, ou batendo a perna na porta do carro.

“O estresse é o lixo da vida moderna – todos nós o geramos, mas se você não o descartar adequadamente, ele se acumulará e ultrapassará sua vida.”

– Danzae Pace

Você já ouviu falar no estresse agudo? O chamado “estresse bom”? O que é “bom” por propiciar a reação fight or flight que na pré-história protegia os humanos de ataques de alossauros e velociraptors, e hoje, de assaltantes e sequestradores? E “bom”, também, por não fazer mal ao organismo, como o seu parente, o estresse crônico, que persiste ao longo do tempo e acaba provocando transtornos mentais como a ansiedade e a depressão?

A noção de que há um estresse bom tem um efeito estimulante em muitos dos que se sentem estressados porém-apenas-por-enquanto. Executivos ambiciosos, empreendedores visionários, médicos em ascensão profissional… correm freneticamente atrás de seus sonhos íntimos de grandeza, riqueza e/ou fama e até acham graça em dormir mal, viver constipados e …. Afinal, isso alimenta o ego e não prejudica o organismo. É por pouco tempo.

Quase nunca é… por pouco tempo, mas admitamos que seja. O estresse repentino, agudo, é mesmo inofensivo?

Pesquisadores israelenses e canadenses desmentem essa lenda urbana.

Eles aplicaram testes de estresse psicossocial agudo a 29 “jovens saudáveis” para avaliar o quanto estes conseguiam controlar a dor antes e depois da indução de estímulos estressantes.

O controle da dor foi testado termicamente – “…os participantes foram solicitados a sinalizar o momento em que um estímulo de calor gradualmente crescente se tornou doloroso para identificar seus respectivos limiares de dor.”

Os testes de dor ocorreram antes e depois de um estímulo psicossocialmente estressante, representado pela exposição ao Montreal Imaging Stress Task (MIST), um programa de computador de exercícios aritméticos cronometrados de contornos maquiavélicos. Isso porque  é dado aos participantes um “alvo” – é dito a eles que a pontuação média no MIST fica entre 80% e 90% – porém, depois, o tal programa sorrateiramente induz a errar os cálculos de modo que o “alvo” nunca é atingido e a pessoa, por mais que ela se empenhe, jamais melhora seu desempenho. Então, claro, a frustração é enorme, e o estresse agudo, a consequência.

E o que os pesquisadores descobriram?

Para entender a importância disso é necessário saber como a dor se processa. Simplificando ao máximo, digamos que a dor mais comum resulta do embate entre ações excitatórias e inibitórias que ocorrem no Sistema Nervoso Central (SNC) quando sinais de perigo vindos da periferia, onde houve uma agressão, sobem ao cérebro. Imagine que cada vez que isso ocorre uns homenzinhos vermelhos, perversos e sacanas, empurram os sinais de perigo para cima, no intuito de convencer mais rapidamente o cérebro a decretar dor; mas no meio do caminho eles enfrentam outros homenzinhos azuis, gente do bem, e cultivadores do “Veja bem…”, cujo propósito é bloquear a tentativa dos vermelhos. Bem, a essa altura você já deduziu que os homenzinhos vermelhos são neurônios excitatórios, e os azuis, neurônios inibitórios, todos morando no SNC (no corno dorsal, mormente).

Então, de novo: o que os pesquisadores descobriram?

Duas coisas. Uma, que o estresse psicossocial reduz a capacidade de modular a dor ou, mais precisamente, a capacidade da dor ser inibida durante a sua gestação no SNC. E duas, que quanto maior o estresse psicossocial agudo percebido, maior a redução dessa capacidade. O resultado – ou ao menos um fenômeno associado – é um aumento significativo na intensidade da dor.

Em síntese, o estresse psicossocial agudo interage com o sistema de dor – excitando-o anormalmente, ao que parece.

Essa noção, se verdadeira, têm implicações práticas. Para começar, derruba a noção romântica que as pessoas estressadas criam para si mesmas de que o estresse é a marca de um guerreiro, organicamente invulnerável. E também imune a prejuízos no organismo por causa do seu estresse ainda não ter atingido a categoria de “crônico”. Pelo visto o estresse agudo também torna a dor mais intensa, e assim mais lesiva à saúde do organismo.

Depois, a descoberta de que o estresse agudo pode se transformar em estresse crônico e outras doenças sistêmicas, mais rápido do que muita gente ainda pensa.

“O estresse pode ter repercussões positivas em um ambiente de trabalho desafiador, por exemplo, mas no geral ele tem efeitos principalmente negativos“, explica a Dra Ruth Defrin, da Universidade de Tel Aviv. Um desses efeitos é o de tornar disfuncional o sistema de processamento da dor, fazendo com que esta seja mais intensa do que normalmente deveria.

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