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Engane seu cérebro para aliviar a sua dor

Engane seu cérebro para aliviar a sua dor

O que é o primeiro que uma pessoa com dor crônica deve fazer ao iniciar qualquer recuperação? Fazer pouco do seu cérebro. Sério. A dor crônica resulta de um erro do cérebro ao interpretar sinais do corpo. Porque ele, o cérebro, supõe que esses sinais signifiquem perigo, cria a dor para o corpo se proteger da ameaça de imediato. Uma martelada no dedão ou um surto de fibromialgia, ambos provocam a mesma reação. Esse mecanismo funciona muito bem, até quando começa a funcionar mal, que é o caso da dor crônica. As manifestações do corpo são benignas, inconsequentes, mas o cérebro as considera perigosas e ponto final: haverá dor. Uma dor sem causa, injusta e frívola, mas persistente. Este post tenciona chamar a atenção para o lado oposto, o lado positivo, da referida fraqueza cerebral: o que acena com a possibilidade de o cérebro vir a ser enganado agora pela própria mente do paciente, para reverter o erro original. Ou seja, o que sugiro a este é desrespeitar seu cérebro, rir da sua pretensa infalibilidade, e se valer da própria mente para “re-enganá-lo” agora para obter alívio.

“Qualquer tolo inteligente pode tornar as coisas maiores, mais complexas e mais violentas. É preciso um toque de genialidade – e muita coragem – para se mover na direção oposta.”

– Albert Einstein

Embora a dor seja sempre uma sensação desagradável, ela é um mecanismo protetor indispensável. Um sistema de alarme – os entendidos dizem – que envia uma mensagem de perigo imediato face condições aparentemente prejudiciais e potencialmente fatais. Tente tocar numa panela fervente, e verá.

A dor também é uma experiência altamente subjetiva – as pessoas podem experimentar diferentes níveis de dor na mesma situação. Assim, enquanto algumas pessoas tendem a ter um limiar de dor muito baixo na cadeira do dentista – por exemplo, precisando de anestesia ao consertar cáries dentárias – outras parecem não ter problemas com isso.

Essas diferenças individuais parcialmente têm uma base genética, o que para uns significa que a dor que sentimos é uma espécie de marca de fábrica, ou uma fatalidade, se preferir. No entanto, também existem coisas que podem ajudar a “manipular” a mente e mudar a forma como sentimos a dor – como uma distração repentina. Isso pode ser tão simples quanto fazer alguém rir, pois isso desvia a atenção da dor, ajudando a reduzir sua percepção de intensidade e desconforto.

uma nova pesquisa mostra que, além de enganar a mente ao se distrair durante um episódio de dor, o cérebro também é capaz de ser enganado para sentir alívio da dor.

O poder da dor

Ao escanear o cérebro, as áreas que se iluminam quando a dor é sentida estão nas regiões frontais do cérebro. O córtex pré-frontal é responsável pela avaliação cognitiva da dor. Três áreas estão associadas à dor: o córtex pré-frontal medial (mPFC), o córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC) e o córtex orbitofrontal.

Regiões frontais do cérebro

Estas são as áreas do cérebro que regulam a intensidade e a qualidade da dor. Elas também são as áreas do cérebro responsáveis ​​por definir expectativas – o que não é coincidência. A expectativa desempenha um papel importante em como percebemos a dor e na intensidade com que ela é sentida.

Portanto, se você está esperando por uma injeção que lhe dizem que será muito dolorosa, é provável que você a experimente dessa maneira. Por outro lado, se algo doloroso acontecer inesperadamente – como uma topada no dedo do pé – pode demorar um pouco até você perceber a intensidade real da dor.

Desta forma, a agora um tanto famosa “ilusão da mão de borracha” revela a poderosa conexão entre o que vemos e o que sentimos.

Usando uma mão de borracha falsa, os psicólogos descobriram que podiam convencer as pessoas de que um braço artificial fazia parte de seu corpo. Para que isso acontecesse, os participantes tinham que esconder seu braço real (sob um pedaço de pano) e, em seguida, tanto o braço real quanto o braço falso eram acariciados simultaneamente.

Alguns estudos também sugeriram que a dor – não apenas o toque – pode ser percebida pela ilusão da mão de borracha. E há inúmeros vídeos no YouTube de pessoas se encolhendo quando a mão de borracha é ameaçada por um martelo ou picada por uma agulha.

Mente sobre a matéria. Para aliviar a dor.

Novas pesquisas agora mostram como, além de ser enganado para sentir dor, o cérebro também pode ser enganado para sentir alívio da dor. O estudo recente envolveu pesquisadores realizando a ilusão da mão de borracha e, em seguida, usando um thermode para fornecer estimulação de dor intensa em locais selecionados do braço real. Isso foi feito enquanto um thermode simulado visível foi anexado exatamente aos mesmos locais do braço de borracha, que então se acendeu durante a estimulação.

Descobriu-se que um grande número de participantes relatou sentir a dor como se viesse do braço de borracha. Os pesquisadores então usaram um falso creme para aliviar a dor – em outras palavras, um placebo – no “local dolorido” do braço de borracha. Desta vez, as pessoas que experimentaram a ilusão da mão de borracha também relataram uma diminuição na intensidade da dor.

“Embora ainda tenhamos que entender exatamente como os pensamentos realmente mudam a estrutura do cérebro, agora está claro que eles mudam, e a linha firme que Descartes traçou entre mente e cérebro é cada vez mais uma linha pontilhada.”

– Norman Doidge

O que o truque da mão de borracha mostra é que as mentes das pessoas podem ser enganadas para sentir tanto a dor quanto o alívio da dor em uma mão falsa, onde é claro que nenhum estímulo ou alívio da dor foi aplicado.

Mas a ilusão da mão de borracha é mais do que apenas um grande truque, ela também revela uma das ideias mais importantes da ciência do cérebro. Mostra como a percepção multissensorial pode influenciar a forma como vemos nosso próprio corpo. Também revela como o que sabemos ser verdade pode ser substituído pelo cérebro. No experimento, o cérebro está mudando para acomodar a nova mão de borracha – o que é chamado de neuroplasticidade. Esta é a ideia de que o cérebro pode mudar em resposta à experiência.

Em termos práticos, essa descoberta pode conduzir a um tratamento viável e ao alívio da dor em pessoas com dor crônica – e não apenas as que padecem da síndrome do membro fantasma, em que a dor é sentida como se viesse de um membro inexistente. A  neuroplasticidade pode originar tentativas de o próprio paciente vir a redefinir a dor em termos menos assustadores, facilitando o enfrentamento sereno de outras condições de dor crônica, como fibromialgia ou síndrome de dor regional complexa, potencialmente oferecendo esperança a milhares de pessoas cujas vidas são prejudicadas diariamente pelo medo associado a dores sem causa aparente, porém muito reais.

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