O vírus que causa a doença de coronavírus (COVID-19) é estável por várias horas a dias em aerossóis e superfícies, de acordo com um novo estudo dos cientistas do National Institutes of Health, CDC, UCLA e da Universidade de Princeton no The New England Journal of Medicine. Os cientistas descobriram que o coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) foi detectável em aerossóis por até três horas, até quatro horas em cobre, até 24 horas em papelão e até dois a três dias em plástico e aço inoxidável. Os resultados fornecem informações importantes sobre a estabilidade do SARS-CoV-2, que causa a doença de COVID-19, e sugerem que as pessoas podem adquirir o vírus pelo ar e depois de tocar em objetos contaminados.
A capacidade do vírus permanecer por tanto tempo apenas sublinha a importância da higiene das mãos e da limpeza de superfícies”.
Quanto tempo o novo coronavírus pode sobreviver fora do corpo humano?
Eis a pergunta da vez. Da experiência colhida com outros coronavírus, é sabido que que eles podem sobreviver em metal, vidro e plástico por vários (9) dias e que alguns podem até ficar por 28 dias em baixas temperaturas.
Mas, é o novo coronavírus?
Neeltje van Doremalen, virologista do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH), e mais outros colegas em boas universidades americanas (Princeton, California LA), além do Rocky Mountain Laboratories, um sofisticado centro de pesquisa biomédica sediado em Hamilton, Montana, EUA, fizeram alguns dos primeiros testes de quanto tempo o SARS-CoV-2 pode durar em diferentes superfícies.
O estudo do NIH, recém publicado no The New England Journal of Medicine (N van Doremalen, et al. Aerosol and surface stability of HCoV-19 (SARS-CoV-2) compared to SARS-CoV-1. DOI: 10.1056/NEJMc2004973 (2020)), tentou imitar o vírus sendo depositado por uma pessoa infectada em superfícies cotidianas em um ambiente doméstico ou hospitalar, como tossir ou tocar objetos. Os cientistas, então, investigaram quanto tempo o vírus permaneceu infeccioso nessas superfícies.
Os pesquisadores compararam o SARS 1 – também detetado na China em 2002 e que matou quase 800 pessoas – com o novo coronavírus (ou SARS-CoV-2, ou Covid-19, como quiser chamar. SARS significa Síndrome Respiratória Aguda).
Ambos os vírus mostram estabilidade no ar muito similar. A viabilidade do novo coronavírus submetido a aerolização é de até 3 horas.
Aerolização se refere especificamente à produção de partículas transportadas pelo ar (por exemplo, pequenas gotículas de líquido) contendo vírus ou bactérias infecciosas. Isso pode ocorrer quando um indivíduo infectado tosse, espirra, expira, ou vomita, mas também pode surgir por lavar o vaso sanitário ou perturbar fezes contaminadas secas (embora seja difícil imaginar quem poderia ter interesse neste último!).
O estudo descobriu também que o vírus SARS-CoV-2 sobrevive por mais tempo em papelão – até 24 horas – e até 2-3 dias em superfícies de plástico e aço inoxidável.
Os resultados sugerem que o vírus pode durar muito tempo em maçanetas de portas, bancadas revestidas ou revestidas com plástico e outras superfícies duras. Nas superfícies de cobre o vírus morre em cerca de quatro horas.
- Até 4 horas em cobre
- 24 horas em papelão e
- 2 ou 3 dias em plásticos e aço inoxidável, o que tem implicações em hospitais e salas de cirurgia
E em roupas e outras superfícies mais difíceis de desinfetar?
Ainda não se sabe quanto tempo o Covid-19 pode sobreviver. Em todo caso, as fibras naturais absorventes podem fazer com que o vírus seque rapidamente, sugere Vincent Munster, chefe da seção de ecologia de vírus do Rocky Mountain Laboratories e um dos responsáveis pelo estudo do NIH.
“Especulamos que, devido ao material poroso, ele desidrata rapidamente e pode ficar preso às fibras”, diz ele. As mudanças de temperatura e umidade também podem afetar o tempo de sobrevivência, e podem explicar por que é menos estável em gotículas suspensas no ar, à medida que são mais expostas.
O que fazer?
Os pesquisadores descobriram que, como outros coronavírus, o Covid-19 pode ser desativado em um minuto desinfectando as superfícies com 62-71% de álcool ou 0,5% de água oxigenada ou água sanitária contendo 0,1% de hipoclorito de sódio. Temperaturas mais altas também funcionam, mas somente acima de 56 ° C ou 132 ° F (o suficiente para causar ferimentos).
Os cientistas por fim destacaram algumas indagações adicionais:
- Se a viabilidade dos dois coronavírus é semelhante, por que o SARS-CoV-2 está resultando em mais casos? Evidências emergentes sugerem que pessoas infectadas com SARS-CoV-2 podem estar transmitindo vírus sem reconhecer ou antes de reconhecer sintomas. Isso tornaria as medidas de controle de doenças eficazes contra o SARS-CoV-1 menos eficazes contra seu sucessor.
- Ao contrário do SARS-CoV-1, a maioria dos casos secundários de transmissão de vírus do SARS-CoV-2 parece estar ocorrendo em contextos comunitários, e não em saúde. No entanto, as configurações de saúde também são vulneráveis à introdução e propagação do SARS-CoV-2, e a estabilidade do SARS-CoV-2 em aerossóis e superfícies provavelmente contribui para a transmissão do vírus em ambientes de saúde.
- O estudo em pauta ainda não foi publicado em uma revista científica.
- Ao menos até hoje, o Centers for Control and Prevention, a maior autoridade do Governo americano responsável pela saúde da população, não considera que tocar uma superfície ou objeto com o vírus e depois tocar o próprio rosto seja o principal meio de propagação do Covid-19. Lavar as mãos e limpar e desinfetar superfícies frequentemente tocadas diariamente, todavia, ainda é essencial para impedir a propagação do Covid-19.
- Existem evidências de que o vírus pode se propagar por outros meios que não o toque. Por exemplo, via matéria fecal, de maneira que quem não lavar bem as mãos após visitar o banheiro pode depois contaminar qualquer coisa que toque.
- Numa entrevista mostrada pela TV Bandeirantes (19/03/20), o infectologista Dr. Marcos Boulos afirmou a umidade facilitar a vida de qualquer vírus. Ao estacionar em células da saliva que podem ficar em superfícies, uma vez desidratada a célula, o vírus morre.
- Atualmente não se sabe quantos casos de infectados no mundo foram e/ou estão sendo causados diretamente por superfícies contaminadas.