O Guardian Australia conversou com o Prof John Wilson, presidente eleito do Royal Australasian College of Physicians e um médico especializado em respiração. Ele diz que quase todas as sérias consequências da Covid-19 apresentam pneumonia. Mas também diz que nem todos os contagiados com o vírus chegam nesse ponto. Longe disso, aliás.
“O coronavírus que causa o COVID-19 parece se espalhar como gripe, pelo ar, de pessoa para pessoa. Ao contrário do Ebola, SARS e MERS, ele pode ser transmitido por indivíduos antes do início dos sintomas ou mesmo se não adoecerem.”
As pessoas que pegam o Covid-19 podem ser divididas em quatro grandes categorias
As menos graves são aquelas pessoas que são “subclínicas” e que têm o vírus, mas não apresentam sintomas.
A seguir, estão as que recebem uma infecção no trato respiratório superior, que, diz Wilson, “significa que uma pessoa tem febre e tosse e talvez sintomas mais leves, como dor de cabeça ou conjuntivite”.
Essas pessoas com sintomas menores ainda são capazes de transmitir o vírus, mas podem não estar cientes disso. São as “assintomáticas”.
O terceiro e maior grupo é o daqueles que desenvolvem os mesmos sintomas semelhantes aos da gripe.
Aqui começam as más notícias, mas nem tanto
Segundo a Organização Mundial da Saúde cerca de 80% das pessoas com Covid-19 se recuperam sem a necessidade de tratamento especializado. Para quem vê o copo cheio, ainda que ele esteja pela metade, eis uma boa notícia.
Mais uma boa notícia, em termos: em Wuhan, descobriu-se que, daqueles que deram resultados positivos e procuraram ajuda médica, cerca de 6% tiveram uma doença grave”. Esses geralmente tinham desenvolvido “dificuldade em respirar” ou dispneia.
Esses dados batem mais ou menos com o que tem sido visto por aqui. Segundo relatado na última coletiva de imprensa das autoridades a cargo do monitoramento do Covid-19 em São Paulo (17/03/20), falou-se em 5% do total de infectados até o momento, sendo quase dois terços desse contingente composto por idosos. Ou seja, apenas pouco menos que 17% do total de infectados.
A má notícia – péssima, aliás – é que um terço desse pessoal acaba desenvolvendo uma doença grave que apresenta pneumonia. Ela é uma infecção que inflama os sacos de ar em um ou ambos os pulmões, que podem ficar cheios de líquido ou pus. Eis o quarto e último grupo de risco.
“Cuidem dos idosos. É hora do filho cuidar do pai”.
A pneumonia, enfim, pode ser fatal para qualquer pessoa, mas particularmente para bebês, crianças e pessoas com mais de 65 anos. No caso da pneumonia causada pelo Covid-19, especialmente este último grupo, o dos idosos.
E como é que o infectado do terceiro grupo sabe que pode estar indo para o quarto grupo?
Segundo o pneumologista Carlos Alberto de Barros Franco, “…que trata de seis pacientes com Covid-19, a evolução para um quadro grave costuma ocorrer entre o segundo e o quinto dia após o aparecimento dos sintomas.”
“A luz acende quando surge febre e quando ela se eleva. E quando a pessoa fica vermelha ao sentir dificuldade respiratória. O principal elemento é a falta de ar. Se isso acontecer, aí sim, a pessoa deve procurar o médico ou um hospital.”
Não é necessário ser bom de cálculo para projetar o que significam essas estatísticas num país de mais de 200 milhões de habitantes, com uma proporção enorme deles morando em comunidades onde as moradias são acanhadas e as vielas estreitas. Você já percebeu – e estranhou – o semblante preocupado e contrito das autoridades da saúde que aparecem na TV falando sobre o vírus e pedindo para você “fazer a sua parte, ficando em casa”? Agora entende por quê.
“Era óbvio, semanas atrás, para aqueles de nós na linha de frente da saúde pública que o rastreamento de contatos, na melhor das hipóteses, retardaria o vírus [COVID-19] temporariamente e nunca impediria que ele se espalhasse amplamente pelos EUA – nunca.”