Dor Crônica - by dorcronica.blog.br

Como o que pensamos sobre a dor, nos causa mais dor

Como o que pensamos sobre a dor, nos causa mais dor

Num post anterior eu me referi a pensamentos sobre a dor como principais impulsionadores da mesma. O teor desses pensamentos, eu escrevi, é quase sempre negativo – “desadaptativo”, conforme os eruditos, ou simplesmente “tóxicos”, na minha opinião. O meu propósito agora é comentar as duas principais maneiras em que esses pensamentos se expressam: cognições e crenças.

“Se você está angustiado por qualquer coisa externa, a dor não se deve à coisa em si, mas à sua estimativa dela; e isso você tem o poder de revogar a qualquer momento.”

– Marco Aurélio, Meditações

Mas antes, porque focar na toxicidade atribuída ao pensamento sobre a dor, e não nas coisas boas a ela associadas, como o seu caráter protetivo?

Porque em se tratando de dor crônica, a dor não é mais protetiva. Ela existe apenas para atazanar a vida do portador. E porque cultivar pensamentos tóxicos sobre a dor é muito mais comum e (quase) natural no ser humano, do que pensar o contrário.

Nada surpreendente, aliás.

De cara, o nosso cérebro ainda é um tanto pré-histórico. Ele ainda vive hipervigiando ameaças do ambiente – cataclismos e pterossauros, ora substituídos por impostos e assaltantes – e o ranço disso é a presença de um impulso “lute ou fuja”, ainda latente em nós. O fato é que ainda estamos programados para sermos hipersensíveis ao medo, e o medo é que gera e perpetua a dor.

Depois, a dor crônica pode enlouquecer o portador ou portadora. A possibilidade de a dor piorar, o pensar constantemente nela, a perda de esperança de se curar, e com frequência, tudo isso junto, derrubam qualquer um. Não mata, mas pode incapacitar.

Essas duas razões justificam a dor e suas circunstâncias evocarem em nossa mente pensamentos predominantemente negativos. Ou desadaptativos porque atrapalham qualquer tentativa de se conviver com a dor. Ou tóxicos, porque nos fazem raciocinar frequentemente “no vermelho”, pensando sempre no pior… o que, convenhamos, ajuda nada e nos afunda ainda mais.

Enfim, cada vez que pensamos na nossa dor e no que ocorre conosco relacionado a isso, é como se deflagrássemos uma espécie de campanha de ódio contra nós mesmos.

Dito isso, vamos às fake news veiculadas na tal campanha; especificamente, as cognições e crenças sobre a dor. (Para encurtar espaço, doravante, ao falar em “dor”, subentenda-se dor crônica e os sintomas que a acompanham, como fadiga, sono ruim, humor prejudicado etc.) 

Efeitos de Cognições e Crenças

Crenças e cognições de dor desempenham um papel importante no ajuste à dor. Certas cognições negativas e crenças negativas sobre a dor estão relacionadas a um pior funcionamento psicossocial e menor nível de atividade entre os pacientes com dor.

De outro lado, mudanças nas crenças negativas relacionadas à dor estão correlacionadas com a melhora nos sintomas depressivos e no funcionamento físico, bem como com a diminuição das visitas médicas relacionadas à dor.

Dor e Cognições

A dor é um fenômeno perceptivo subjetivo envolvendo o processamento cognitivo, e não um fenômeno puramente sensorial. Ora, cognitivo tem a ver cognição.

E o que é isso?

  • A cognição é como a mente percebe, lembra e pensa. Ela é composta por elementos críticos, como atenção, percepção, memória, habilidades motoras, funcionamento executivo e habilidades verbais e de linguagem.1
  • A cognição envolve a aquisição, processamento, armazenamento e recuperação de informações pelo cérebro.2
  • A cognição é um componente vital da percepção subjetiva da dor que requer avaliação cognitiva, aprendizado, recordação de experiências passadas e tomada de decisão ativa.3

As cognições têm sido definidas como autoafirmações que são “respostas específicas a um evento ambiental”.4 Cognições “tóxicas” são, por exemplo: “A dor crônica se resolve com medicamentos”; “Um surto de dor não tem como prevenir”; “Ninguém consegue explicar a dor. Nem a própria, nem a do outro.”

Cognições negativas sobre a dor têm demonstrado repetidamente prever dor, incapacidade e angústia entre pacientes com dor crônica.5 Além disso, essas cognições também foram associadas ao maior uso de recursos de saúde e maior uso de analgésicos. Por exemplo: “Eu já consultei ‘n’ médicos e nada”; “Sempre temos a cirurgia para reparar qualquer dano no organismo”; “No meu caso, remédios já pararam a dor”.

Dor e Crenças

Uma crença é uma ideia que consideramos correta. É uma aceitação de que algo existe ou é verdadeiro, haja ou não prova ou evidência. Dito de forma mais erudita, crenças são noções preexistentes sobre a natureza da realidade que moldam nossas percepções de nós mesmos e de nosso ambiente.6 As crenças de dor ajudam a obter uma compreensão estável dos eventos passados, presentes ou futuros. Por exemplo: “A medicina não resolve a dor persistente porque os médicos só querem ganhar dinheiro”. “Eu nunca vou melhorar porque o meu problema de saúde é complexo demais.”

Contribuem à formação das crenças sobre a dor em geral ou crônica:7

  • Nossas experiências anteriores diretas (sentidas) relacionadas à dor e sintomas coadjuvantes.
  • Observações de outras pessoas com sintomas semelhantes.
  • Informações que aprendemos sobre à dor de fontes como a mídia e médicos.
  • Nossa própria natureza, personalidade, maneira de ser etc.

Uma meta-análise de 11 pesquisas mostrou diferenças nas estratégias de enfrentamento da dor crônica, percepções da doença, autoeficácia, crenças de evitação do medo, e atitudes perante a dor em diferentes populações devido a discrepâncias raciais, étnicas e culturais.8 Em geral, quanto mais pessimistas as cognições e crenças sobre a dor, pior o comportamento dessas variáveis.

Em suma…

Uma redução das respostas desadaptativas à dor é crucial no ajuste à dor crônica. A única forma de se conseguir isso é eliminando os pensamentos tóxicos sobre a dor – leia-se cognições e crenças negativas ou equivocadas – antes que eles contaminem mente e corpo em definitivo, tornando a possibilidade de conseguir alívio e qualidade de vida, muito mais remota.

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