Como o manejo da dor crônica é um processo de longo prazo, é essencial encontrar um médico adequado, um especialista em dor, que inspire confiança. Embora uma extensa experiência médica e compaixão sejam qualidades óbvias, também contam a experiência para avaliar pacientes com distúrbios de dor difíceis e um bom domínio dos vários testes de diagnóstico usados para localizar a causa da dor crônica. No presente, esse médico é uma avis rara na atenção básica, ou até secundária, seja por falta de competência técnica e pessoal, ou por causa de uma agenda lotada que impede se comunicar humanamente com o paciente. Cabe a este, portanto, a responsabilidade de escolher com muito cuidado as opções médicas a seu dispor para assim prevenir diagnósticos e tratamentos errados, de cujas consequências depois é muito difícil se recuperar.
Este é o sexto (e último) capítulo de uma série de 6, que informa sobre os temas seguintes:
ESTE POST É O SEXTO (E ÚLTIMO) DA SÉRIE
No caso do seu médico favorito não se sentir preparado para tratar sua dor crônica, ele ou ela poderá encaminhar você a um colega especializado no manejo da dor. Nesse caso, convém checar se esse profissional possui certificação para atuar nessa área – veja post O que diferencia o médico especializado em dor?.
Você também vai querer um médico com acesso a uma forte rede de provedores externos para encaminhar pacientes para fisioterapia, apoio psicológico ou avaliação cirúrgica e uma reputação de prescrever analgésicos adequadamente.
A seguir, um resumo das qualidades essenciais:
- Possuir experiência adequada e conhecimento especializado em distúrbios da dor.
- Ser capaz de avaliar e diagnosticar distúrbios de dor crônica.
- Ser capaz de prescrever medicamentos individualizados para cada paciente.
- Possuir familiaridade com uma ampla gama de ferramentas de diagnóstico para identificar a origem de sua dor.
- Possuir anos de experiência realizando procedimentos reais (bloqueios nervosos, injeções espinhais, bombas de dor).
- Possuir equipamentos médicos modernos, de última geração.
- Liderar ou integrar uma equipe diversificada, formal ou não, de colegas bem treinados.
- Acompanhar (de perto) a evolução da ciência que sustenta a medicina da dor.
Além das qualidades acima indicadas, e dada a fragilidade emocional que caracteriza boa parte dos portadores de doenças e dores crônicas, o médico especializado no manejo da dor deve apresentar outras, tais como:
- Praticar escuta ativa.
- Incentivar o paciente a fazer perguntas e responder com clareza e paciência.
- Ter uma boa reputação na comunidade médica.
Por fim, é crucial que o tratamento de controle da dor corresponda aos desejos e crenças de cada paciente, portanto, a flexibilidade nas opções de tratamento também é importante.
Recursos para o manejo da dor
Os especialistas em tratamento da dor estão preocupados com a capacidade funcional do paciente e sua qualidade de vida. Quando a dor é crônica ou complicada por outras condições médicas, o clínico geral do paciente pode encaminhá-lo a um especialista em dor, como um fisiatra.
Um especialista em tratamento da dor desenvolve um plano de tratamento para aliviar, reduzir ou controlar a dor e ajudar os pacientes a retornarem às atividades diárias rapidamente, sem cirurgia ou dependência pesada de medicamentos. Para garantir que todas as necessidades do paciente sejam atendidas, o médico coordena o atendimento por meio de uma equipe interdisciplinar de profissionais de saúde.
Esses profissionais incluem:
- Fisiatras (os fisiatras são médicos especializados em medicina física e reabilitação, com especial interesse nas doenças musculoesqueléticas. Alguns fisiatras possuem treinamento avançado em Manejo Intervencionista da Dor (IPM). IPM é uma área da medicina dedicada ao diagnóstico e tratamento de distúrbios relacionados à dor.
- Reumatologistas
- Neurologistas
- Anestesiologistas
- Internistas
- Oncologistas
- Especialistas cirúrgicos
- Psiquiatras
Outros profissionais da saúde, fora os médicos, também colaboram no atendimento a pacientes com dor crônica:
- Psicólogos
- Enfermeira(o)s
- Terapeutas ocupacionais
- Fisioterapeutas
- Osteopatas
Ao consular um médico especialista em dor
Traga uma cópia de todos os seus registros médicos, incluindo quaisquer raios-X, para sua primeira consulta. Inclua também uma lista de todos os medicamentos usados nos últimos 6 meses incluindo ervas e suplementos. Ideal é manter um diário da dor, onde você anota como se sente a cada dia, mas o seu uso é raro no Brasil.
O médico especialista em dor irá examiná-lo e conversar com você sobre sua dor.
Ele vai inquirir:
- Onde dói?
- Como é a sensação (por exemplo: queima, dói, dá a sensação de alfinetes e agulhas, lateja, fica tenso ou sensível?)
- Quando sua dor começou?
- Quão ruim é (como em uma escala de 0 a 10, sendo 0 sem dor e 10 sendo o pior possível)?
- O que você acha que pode ter causado isso?
- Quaisquer medicamentos que você tome para dor ou outros tratamentos que você tenha experimentado.
- O que o torna pior ou melhor?
Os métodos iniciais de tratamento envolvem medicamentos como anti-inflamatórios, relaxantes musculares e/ou antidepressivos. Dependendo da causa de sua dor, você também pode receber injeções que anestesiam a dor.
O tratamento secundário envolve procedimentos mais avançados, como ablação por radiofrequência (RFA) ou viscossuplementação. Durante a RFA, calor ou agentes químicos são aplicados a um nervo problemático, destruindo-o seletivamente para interromper os sinais de dor desordenados. É usado para problemas de dor crônica, como artrite da coluna vertebral. As injeções de viscossuplementação introduzem fluido lubrificante nas articulações doloridas, usadas para dores de artrite. Também pode ser necessário prescrever medicamentos mais fortes para a dor.
Os métodos de tratamento terciário podem incluir bombas de dor implantadas ou um estimulador da medula espinhal. Esses tratamentos agem para aliviar a dor diretamente na medula espinhal, que é o centro de controle do corpo para os sinais de dor. Alternativamente, a terapia de medicina regenerativa é outra opção viável nesta fase.1[Internet] Specializedrehabmd.com. Acesse o link.
Palavra final
Antes que tratar a dor do paciente, o médico deve auscultar a sua causa. Óbvio? Nem tanto, porque a causa da dor crônica nunca é apenas física, muito pelo contrário. Em alguns casos de dor aguda, a causa quase sempre é física e pode ser óbvia, como uma fratura da coluna vertebral. Mas na dor crônica, a(s) causa(s) podem ser elusivas e dificultar o diagnóstico. Entre elas, inclusive, se destacam as causas não físicas; ou seja, transtornos psicológicos como ansiedade, raiva e depressão, em boa parte causados pelo estresse crônico, ou relações e ambientes tóxicos, traumas etc. O médico não tem outra escolha senão confiar no histórico médico do paciente e no seu relato do que sente, nos exames físicos e neurológicos e, querendo ou não, na sua própria capacidade e preparo para interpretar e extrair de tudo isso um bom diagnóstico e um tratamento individualizado.
2 respostas
Entre os profissionais enumerados faltou um na minha opiniâo essencial, o NEUROLOGISTA
Amigo Jaime, muito obrigado pelo oportuno apontamento. Já corrigi.