Este é o segundo post de uma série de sete, baseada numa revisão de artigos sobre as Diretrizes Canadenses de 2012 para o Diagnóstico e Tratamento da Síndrome de Fibromialgia, focando as mudanças na compreensão e tratamento da fibromialgia ocorridas desde os anos 90.
A série será composta de:
1 | Como o diagnóstico da fibromialgia mudou? | Ver post → |
2 | Como diagnosticar a fibromialgia? | |
3 | Como as novas evidências neurofisiológicas sobre a fibromialgia podem propiciar seu gerenciamento racional? | Ver post → |
4 | Qual é a estratégia de tratamento ideal da fibromialgia? | Ver post → |
5 | Quais são os tipos de tratamento indicados para a fibromialgia? | Ver post → |
6 | Quais medidas de resultados podem ser aplicadas na prática clínica? | Ver post → |
7 | Fibromialgia: ainda em busca de identidade médica | Ver post → |
Nota do Blog:
Ano passado o blog publicou um extenso ebook sobre o estado da arte em fibromialgia, na época. Uma das minhas fontes foi um artigo publicado por integrantes do Comitê Canadense de Diretrizes de Fibromialgia, que resolvi revisitar agora.
Baseado numa extensa revisão de artigos, ele mostra a evolução do conhecimento sobre a doença – conceito, diagnóstico, tratamentos… – nos últimos 20 e tantos anos, algo que poucos médicos conhecem. Selecionei os trechos mais relevantes e fáceis de entender, de maneira a postá-los semanalmente por partes, adicionando algumas ilustrações para facilitar o entendimento dos leigos.
Como diagnosticar fibromialgia?1Ceko M, Bushnell MC, Gracely RH. Neurobiology underlying fibromyalgia symptoms. Pain Res Treat 2011; Oct. 27 [Epub ahead of print].2Perrot S, Dickenson AH, Bennett RM. Fibromyalgia: harmonizing science with clinical practice considerations. Pain Pract 2008;8:177–893Mease P, Arnold LM, Choy EH, et al. Fibromyalgia syndrome module at OMERACT 9: domain construct. J Rheumatol 2009; 36:2318–294Wolfe F, Hauser W. Fibromyalgia diagnosis and diagnostic criteria. Ann Med 2011;43:495–5025 Goldenberg DL. Diagnosis and differential diagnosis of fibromyalgia. Am J Med 2009;122(Suppl 12):S14–21
Mais do que uma pergunta inocente, trata-se de um questionamento sério, crítico. A fibromialgia é uma das doenças crônicas não malignas pior diagnosticadas. Isso, quando o paciente chega a ser diagnosticado por um médico, uma vez que a grande maioria opta por se autodiagnosticar assim que sentir dor persistente em várias partes do corpo.
“Acho que a fibromialgia é mal diagnosticada na maioria das vezes quando os sintomas aparecem pela primeira vez. Porque, por definição, é um diagnóstico de exclusão. O médico procura outras fontes para sua fadiga crônica, para sua dor muscular crônica, distúrbios do sono e transtorno do humor antes de atribuir um diagnóstico de fibromialgia.”
A dor crônica generalizada continua sendo o sintoma central da fibromialgia, relatada como difusa, flutuante e com características neuropáticas em alguns pacientes. A fadiga, que está intimamente ligada ao distúrbio do sono, está presente em mais de 90% dos pacientes com fibromialgia, enquanto o sono anormal com latência prolongada do sono, distúrbios do sono e sono fragmentado ocorre em até 75% dos pacientes.6Mease P, Arnold LM, Choy EH, et al. Fibromyalgia syndrome module at OMERACT 9: domain construct. J Rheumatol 2009; 36:2318–297Moldofsky H. The significance of the sleeping-waking brain for the understanding of widespread musculoskeletal pain and fatigue in fibromyalgia syndrome and allied syndromes. Joint Bone Spine 2008;75:397–402 A disfunção cognitiva está associada à dor e inclui memória de trabalho fraca, memória livre e fluência verbal, além de alterações da memória espacial.8Park DC, Glass JM, Minear M, et al. Cognitive function in fibromyalgia patients. Arthritis Rheum 2001;44:2125–33 O transtorno do humor, incluindo depressão, ansiedade ou ambos, está presente em até 75% dos pacientes com fibromialgia.9Epstein SA, Kay G, Clauw D, et al. Psychiatric disorders in patients with fibromyalgia. A multicenter investigation. Psychosomatics 1999;40:57–63 A depressão é um exemplo típico de diagnóstico incorreto comum devido à sobreposição de sintomas, como sono insatisfatório, humor deprimido e dores difusas no corpo.
A fibromialgia é agora reconhecida como uma síndrome de angústia polissintomática. Outras condições que causam dor podem ocorrer concomitantemente, incluindo síndrome do intestino irritável, enxaqueca e dismenorreia.10Pöyhiä R, Da Costa D, Fitzcharles MA. Previous pain experience in women with fibromyalgia and inflammatory arthritis and nonpainful controls. J Rheumatol 2001;28:1888–91 Os pacientes também podem apresentar sintomas do trato urinário inferior, dor miofascial envolvendo a face e dor temporomandibular.11Pöyhiä R, Da Costa D, Fitzcharles MA. Previous pain experience in women with fibromyalgia and inflammatory arthritis and nonpainful controls. J Rheumatol 2001;28:1888–91
No passado, os pontos dolorosos eram sinônimos de fibromialgia, com a contagem de pontos doloridos incluída no diagnóstico. O valor desse achado físico subjetivo tem sido debatido por causa da confiabilidade variável, má associação com a gravidade dos sintomas e a capacidade de ser fingido por motivos desonestos.12Harth M, Nielson WR. The fibromyalgia tender points: Use them or lose them? A brief review of the controversy. J Rheumatol 2007;34:914–2213Khostanteen I, Tunks ER, Goldsmith CH, et al. Fibromyalgia: Can one distinguish it from simulation? An observer-blind controlled study. J Rheumatol 2000;27:2671–6 O peso atribuído à contagem de pontos dolorosos, um achado usado anteriormente de forma incorreta para confirmar ou rejeitar um diagnóstico, desviou o conceito clínico de fibromialgia e foi, portanto, revisitado nos critérios do American College of Rheumatology de 2010 e nas Diretrizes de Fibromialgia Canadenses de 2012 .14Wolfe F, Clauw DJ, Fitzcharles M-A, et al. The American College of Rheumatology Preliminary Diagnostic Criteria for Fibromyalgia and Measurement of Symptom Severity. Arthritis Care Res (Hoboken) 2010;62:600–1015Fitzcharles M-A, Ste-Marie PA, Goldenberg DL, et al. Canadian Guidelines for the Diagnosis and Management of Fibromyalgia Syndrome: executive summary. Pain Res Manag. In press. [PMC free article]
Como, então, os médicos devem diagnosticar a fibromialgia?16Ceko M, Bushnell MC, Gracely RH. Neurobiology underlying fibromyalgia symptoms. Pain Res Treat 2011; Oct. 27 [Epub ahead of print].17Perrot S, Dickenson AH, Bennett RM. Fibromyalgia: harmonizing science with clinical practice considerations. Pain Pract 2008;8:177–8918Mease P, Arnold LM, Choy EH, et al. Fibromyalgia syndrome module at OMERACT 9: domain construct. J Rheumatol 2009; 36:2318–2919Wolfe F, Hauser W. Fibromyalgia diagnosis and diagnostic criteria. Ann Med 2011;43:495–50220 Goldenberg DL. Diagnosis and differential diagnosis of fibromyalgia. Am J Med 2009;122(Suppl 12):S14–21
- O diagnóstico é feito com base em um conjunto de sintomas, centrado na dor crônica generalizada e na ausência de achados físicos que indiquem outra condição.
- A avaliação clínica deve incluir um histórico de saúde física e mental, com atenção ao contexto psicossocial do paciente, pois esses fatores podem influenciar na expressão da fibromialgia.
- Um exame físico é necessário para todos os pacientes, e os resultados podem estar completamente dentro dos limites normais.
- O exame de pontos sensíveis não é necessário para confirmar o diagnóstico.
- Apenas testes laboratoriais limitados devem ser realizados para a maioria dos pacientes.
A fibromialgia pode ser diagnosticada positivamente no ambiente de atenção primária como uma síndrome de angústia polissintomática com uma combinação de dor generalizada e sintomas associados. Não há necessidade de extensa investigação laboratorial e radiográfica e na prática, apesar dela ter características bem definidas, vira um diagnóstico de exclusão.
A fibromialgia pode ser difícil de diagnosticar porque pode ser confundida com outras 9 condições:
Na ausência de um teste confirmatório, a opinião de especialistas sugere que as investigações devem ser limitadas a exames de sangue simples, incluindo hemograma completo, taxa de hemossedimentação, nível de proteína C reativa, função tireoidiana e nível de creatina quinase, quando um diagnóstico alternativo é considerado.21 Goldenberg DL. Diagnosis and differential diagnosis of fibromyalgia. Am J Med 2009;122(Suppl 12):S14–21 Qualquer teste adicional deve ser orientado pela apresentação clínica e o excesso de testes deve ser limitado.
Importante: a contagem de pontos dolorosos – o exame convencional até 2010, quando o American College of Rheumatology mudou os critérios de diagnóstico da fibromialgia, pode ser feita, mas não deve ser usada para confirmar o diagnóstico. Outros sintomas devem completar o quadro.
Embora os reumatologistas já fossem responsáveis por essa condição, o número considerável de pessoas afetadas torna a confirmação de rotina por especialistas insustentável.22Shir Y, Fitzcharles MA. Should rheumatologists retain ownership of fibromyalgia? J Rheumatol 2009;36:667–70 Isso cabe apenas no caso de pacientes com um desafio particular no manejo da doença (ex.: incapacidade) ou nos quais os sintomas podem obter um diagnóstico alternativo que somente um especialista pode fornecer.
A investigação excessiva e repetida pode causar incerteza ao paciente e promover comportamentos inadequados relacionados à saúde, como passividade e dependência de profissionais de saúde.
Este foi o segundo de uma série de sete posts contendo trechos selecionados do artigo: “Fibromyalgia: evolving concepts over the past 2 decades”, de autoria de Mary-Ann Fitzcharles, Peter A. Ste-Marie, BA, e John X. Pereira, for the Canadian Fibromyalgia Guidelines Committee. Canadian Medical Association Journal.
Não deixe de conhecer os próximos posts da série:
1 | Como o diagnóstico da fibromialgia mudou? | Ver post → |
2 | Como diagnosticar a fibromialgia? | |
3 | Como as novas evidências neurofisiológicas sobre a fibromialgia podem propiciar seu gerenciamento racional? | Ver post → |
4 | Qual é a estratégia de tratamento ideal da fibromialgia? | Ver post → |
5 | Quais são os tipos de tratamento indicados para a fibromialgia? | Ver post → |
6 | Quais medidas de resultados podem ser aplicadas na prática clínica? | Ver post → |
7 | Fibromialgia: ainda em busca de identidade médica | Ver post → |
5 respostas
A minha mãe deve ter fibromialgia pois todos os exames já feitos até agora não descobriram nada . Ela sente uma dor no peito irradiando oras costas e pros braços ! As suas costas tem pontos muito doloridos quase não suportando nem tocar . Já fez vários exames e nada descobriram !
O Blog Dor Crônica não pode dar conselho profissional ou psicológico específico já que somente um profissional especializado tem condições de fazê-lo. O Blog é um canal informativo. Mas, eu posso, sim, dar uma opinião.
O fato de não descobrir a causa de uma dor como a da sua mãe não é incomum, mas não significa que ela tem fibromialgia. Pode ser outra condição crônica. Por enquanto, é uma suspeita que você deve confirmar com um médico, de preferência experiente em tratar fibromialgia ou um reumatologista. Alguns sintomas são característicos da fibromialgia e eu estou enviando ao seu e-mail uma cartilha que pode ajudá-la nisso, se você tiver a paciência de examiná-la. Outros posts no blog comentam o desnecessário impacto devastador sobre os pacientes de diagnósticos “definitivos”, apesar de baseados em exames ou protocolos falíveis.
Uma dor inconstante no peito, do lado direito, irradiando às vezes para o centro em direção ao umbigo, ou em direção ao ombro direito, que sinto há mais de um ano, pode ser fibromialgia? Tenho SII e acordo várias vezes a noite por dores no corpo e no ombro direito, resultando em uma noite mal dormida. Pode ser fibromialgia?
Bom dia, gostaria de saber específicamente quais os sintomas.
Tenho sentido dores horríveis desde os dedos das mãos, percorrem os braços, cervical, costas pernas e os pés. Surreal, nunca senti nada disto. Neste momento ando em fisioterapia.
Poderia ser melhor esclarecida.
Obrigada.
Paulamariabarbosa7@gmail.com
Tenho dor no meu corpo enteiro as vezes não consigo nem tocar parece que levei uma batida dormência quase sempre muita dor na serviçal e dor de cabeça quase sempre tmo muito analgésicos e relaxante muscular e tramou estou fazendo fisioterapia mais não tá adiantando nada não sei o que fazer qual o tipo de izame fazer obrigado