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As dores crônicas da mulher: um paradoxo no armário?

As dores crônicas da mulher: um paradoxo no armário?

A mulher sofre com dor mais do que o homem e, no entanto, é menos protegida pelo sistema de saúde – farmacologia, atendimento médico, planos de saúde – do que este. E isso em boa parte ocorre por causa de um “viés de gênero”. Um preconceito do tipo “Me Tarzan, you Jane”, que subliminarmente ou não, considera a mulher um indivíduo inferior ao homem. Machismo…, chame como quiser. Depois dessa, eu sei, haverá uns quantos visitantes do blog, ou quantas, perguntando onde eu vivo. Para vir até aqui e quebrar minhas janelas, botar fogo no carro, envenenar os cachorros… etcétera.

Eu entendo. Na pátria do brado retumbante não se fala, muito menos se escreve, sobre uma hipótese dessas. Por aqui somos todos amigos. “O brasileiro é cordial” dizia o pai do Veríssimo, mesmo sem ter provas epidemiológicas a respeito. Onde já se viu imaginar haver discriminação “feminicista” – o termo eu acabo de inventar, advirto – na prestação de serviços de saúde?

E como isso é tão improvável, eu decidi dedicar-lhe um ebook de 130 páginas, apenas no Volume 1, que ficará postado no blog a partir dessa semana.

O seu título?

O PARADOXO DE EVA.

E por que esse título? Bem, o de EVA é meio óbvio. (Até pensei em colocar “A MULHER DE ADÃO”, mas soava mal.) Quanto ao PARADOXO, ele é inegável. Um paradoxo é uma contradição, e o que há de mais contraditório senão, em havendo duas entidades, cuidar menos da que mais sofre?

Ok, de onde eu saquei isso? É o que você está pensando.

Digamos que tudo começou em 1997, através de uma publicação visionária – ou revolucionária –, para a época. Karen Berkley, uma outsider da comunidade médica – psicóloga e professora numa faculdade considerada de terceira linha (Florida State University) – chacoalhou o establishment científico com questões relacionadas a diferenças de sexo na dor baseadas em neurociência. Ela apresentou coisas como que “… as mulheres têm limiares de dor mais baixos, maiores índices de dor e menor tolerância a estímulos nocivos que os homens”. Ou que essas diferenças, embora influenciadas por muitas variáveis situacionais, seriam relevantes e afetariam o relato, o diagnóstico, o desenho do tratamento, as estratégias de enfrentamento e as respostas ao tratamento da dor feminina. E o mais importante: “Sem nenhuma razão subjacente”. Era o prenúncio da ideia de que variáveis não-biológicas geravam uma equação da dor feminina relativamente singular.

A PRODUÇÃO CIENTÍFICA

Gráfico 11

Crescimento das publicações referentes a Sexo, Gênero e Dor

Foi como mexer num nervo exposto. O gráfico acima, mostra o crescimento exponencial das publicações referentes a sexo, gênero e dor nos últimos 25 a 30 anos, em relação ao campo de dor em geral (a linha de baixo).

Entre 1980 e 2016, a produção científica relacionada a sexo explodiu, aumentando exponencialmente em todos os tipos de pesquisa em saúde incluídos no estudo – de 59% a 67% em medicina clínica e de 36% a 69% em saúde pública.

O ESTOPIM

Figura 1

O estopim

Num artigo hoje lendário – “The Girl Who Cried Pain: A Bias Against Women in the Treatment of Pain” – Dianne E. Hoffman e Anita J. Tarzian, ligadas à Faculdade de Direito da University of Maryland, atestaram com dados que a hegemonia masculina prevalente na sociedade, um fator cultural, inspiraria pressupostos, ou preconceitos, sobre a relação de ambos os sexos com a dor. E que estes justificariam moralmente o fato de “… as mulheres… serem subtratadas ou inapropriadamente diagnosticadas e tratadas em sua dor”.

Exemplo dessa assimetria é um estudo publicado no European Heart Journal em 2016 que constatou que os médicos têm duas vezes mais probabilidade de ignorar os sintomas de dor em mulheres que sofrem um ataque cardíaco. E o motivo seria…? Uma suposição: que as mulheres lidam melhor com a dor. Uma conjectura baseada numa espécie de Lenda Urbana: “Ora, a mulher aguenta as dores da menstruação e da gravidez; cuida do lar, família e emprego; e não parece estar à beira da morte – como o marido – quando pega uma gripe. Ela obviamente suporta melhor a dor!”.

O APOIO INSTITUCIONAL

Figura 2

O apoio institucional

Em 2007, a International Association for the Study of Pain (IASP), que agrupa 8 mil cientistas e profissionais da saúde, em 133 países, reconheceu as dores serem diferenciadas pelo gênero, ao declarar esse ano o “Global Year Against Pain in Women”.

E qualificando o tema de “excitante”, deu quatro contundentes justificativas:

  • “Enquanto a dor crônica afeta uma proporção maior de mulheres do que de homens em todo o mundo, as mulheres têm menos chance de receber tratamento.
  • As pesquisas têm demonstrado que as mulheres tendem a ter dor mais recorrente, severa e demorada que os homens.
  • Muitas condições são muito mais prevalentes nas mulheres do que nos homens.
  • A dor das mulheres têm significativo impacto em todo o mundo, porém a falta de consciência e de reconhecimento disso permanece.”


Nota-se que, das quatro justificativas apresentadas, duas apontavam atendimento de saúde assimétrico em relação aos homens.

A MÍDIA

Nesse século, tanto a mídia científica (Nature, Harvard, Mayo Clinic…) como a destinada aos leigos (The New York Times, Washington Post, The Guardian…), abriram espaço para a mulher e suas dores. Do ponto de vista editorial, esnobar a saúde feminina por conta de preconceito de gênero, passou a ser um tema polêmico, e de abrangência universal.

No artigo “O médico não a escuta. Mas a mídia está começando”, publicado em 2018, jornalistas do fórum multimídia The Atlantic – que se diz focado nas “questões mais críticas de nossos tempos” – mostraram a forte repercussão do tema da saúde feminina nos mais diversos agentes de comunicação – do The New York Times à Netflix, passando por estações de rádio (KCRW) e a WebMed.

“Os médicos há muito descartam ou minimizam as preocupações com a saúde sexual e reprodutiva das mulheres – mas as histórias sobre ‘gaslighting* na indústria da saúde’ estão mexendo consistentemente com o convencional.”

*Gaslighting: manipulação psicológica que algumas mulheres acusam os médicos de usar para fazê-las questionar sua própria memória, percepção e sanidade.

A LITERATURA

Desde a virada do século, livros de autoria de mulheres ativistas na área do direito da mulher à saúde, ou do conhecimento sobre as dores femininas, viraram best sellers no mundo ocidental.

Ativistas e autoras focadas nos infortúnios da relação pacientes-médicos e o trato desigual dado às dores femininas e suas consequências nocivas, como Maya Dusenbery (com o Doing Harm: The Truth About How Bad Medicine and Lazy Science Leave Women Dismissed, Misdiagnosed, and Sick), Abby Norman (com o Ask Me About My Uterus: A Quest to Make Doctors Believe in Women’s Pain), Caroline Criado Perez (com Invisible Women) e Julia Buckley (com Heal Me – In Search of a Cure). Todos best sellers publicados em 2018 e merecedores de 5 estrelas na Amazon. (Os títulos dos livros são autoexplanatórios, suponho.) O último, por exemplo, é ali apresentado como segue:

“Levantando questões vitais sobre o sistema médico moderno, esta também é uma história sobre identidade em um sistema historicamente distorcido contra pacientes “histéricas” e a luta para manter um senso de si sob o olhar médico. Heal Me – In Search of a Cure explica por que a abordagem atual da medicina moderna à dor crônica está falhando nos pacientes. Explora a importância da fé, esperança e cinismo e examina nossos relacionamentos com nossos médicos, nossas crenças e nós mesmas.”

A literatura

EU CONFESSO…

À luz do apresentado é impossível negar de que, como dizem na Espanha: “Sí el río suena, es porque piedras lleva”. Ou seja, o PARADOXO DE EVA parece estar sendo reconhecido por muita gente, ao menos fora do Brasil. E aqui dentro? Não se sabe. Ou melhor, eu não sei e tenho dedicado bastante tempo a ficar sabendo.

Indeciso, então, sobre se limitar o escopo deste ebook sobre dores femininas às diferenças biológicas e psicológicas entre os dois sexos, em agosto de 2019 resolvi consultar a plateia do blog.

Indaguei então o seguinte:

  • ALTERNATIVA 1 – Em geral, as mulheres relatam níveis mais severos de dor, incidências mais frequentes de dor e dor de maior duração que os homens, mas…
  • ALTERNATIVA 2 – … são tratadas em sua dor de forma mais leviana, menos agressiva (no bom sentido)… com consequências nocivas para elas.

ÚNICA PERGUNTA

Um ebook sobre dores femininas no Brasil deveria abranger:

  • (    ) SOMENTE A ALTERNATIVA 1
  • (    ) AS DUAS ALTERNATIVAS

Dois terços das 437 respondentes optaram pela segunda alternativa. Uma proporção contundente. E é por isso que o ebook chama O PARADOXO DE EVA e não apenas DORES FEMININAS.

ORGANIZAÇÃO DO EBOOK

GÊNEROS DIFERENTES, DORES DIFERENTES

A primeira parte do ebook visa validar, com base em evidências apuradas cientificamente, a noção popular de que a mulher “sente mais dor que o homem”. O que isso significa, afinal?

EXPLICAÇÕES

A segunda parte traz as explicações fisiológicas (ex: hormônios), psicológicas (ex.: personalidade, emoções), culturais (ex.: hegemonia de gênero na sociedade), genéticas e farmacológicas para o anterior.

DORES DIFERENTES, ACOLHIMENTOS DIFERENTES

A sensibilidade e a tolerância à dor são mediadas por fatores biológicos, mas também por fatores de outra natureza (psicológicos, socioculturais, espirituais…), sendo que os “fatores de gênero” se contam entre estes últimos.  Até que ponto eles debilitam e prejudicam o atendimento à saúde feminina (em comparação ao do homem)? Eis o foco da terceira parte do ebook.

As CONCLUSÕES giram em torno do questionamento que você, caro(a) leitor(a), provavelmente deve estar se fazendo no momento:

AFINAL, O PARADOXO DE EVA EXISTE NO BRASIL? E SE EXISTE, COM QUE CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE DA MULHER?

Que tal você mesmo(a) responder essas duas questões depois de ler o ebook? Anime-se. É gratis e pode ficar sabendo de coisas 100% relevantes para a sua saúde, ou para a saúde de outro(a)s com quem você se importa.

Faça o download agora mesmo:

Veja também o vídeo sobre O PARADOXO DE EVA:

O Paradoxo de Eva – Dores Femininas
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