Na “sensibilização central”, os neurônios nociceptivos nos cornos dorsais da medula espinhal tornam-se sensibilizados por lesão ou inflamação do tecido periférico. Ela resulta de repetidos surtos de dor e acredita-se que seja um possível mecanismo causal para condições de dor crônica. Esse conhecimento, todavia, é muito recente. E para ele ter implicações práticas para o clínico é preciso criar critérios de diagnóstico específicos e diferenciais para a dor de sensibilização central. Eis o propósito dos autores do artigo a seguir, liderados pelo Prof. Jo Nijs, uma autoridade mundial no campo da neurociência da dor e mais especificamente, no da sensibilização central.
Eu me atrevi a dividir em duas partes o artigo original, por causa da sua extensão. A Parte 1 se refere ao passo inicial que os autores propõem para o diagnóstico diferencial de doenças crônicas possivelmente associadas à sensibilização central: a exclusão da dor neuropática como possibilidade nesse contexto. A Parte 2 descreve os critérios a seguir para classificar uma doença crônica na condição de “associada à sensibilização central”, as chamadas “síndromes de sensibilização central” (CSSs) tais como fibromialgia (FM), síndrome do intestino irritável (IBS), dor de cabeça crônica, distúrbios temporomandibulares (DTMs), e síndromes de dor pélvica.
APLICANDO A NEUROCIÊNCIA MODERNA DA DOR NA PRÁTICA CLÍNICA: CRITÉRIOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DA SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL DA DOR
Antecedentes: | Está crescendo a consciência de que a sensibilização central é de importância primordial para a avaliação e para o tratamento da dor crônica, mas sua classificação é um desafio clínico, uma vez que não existe um método padrão-ouro de avaliação. |
Objetivos: | Projetar o primeiro conjunto de critérios para a classificação da sensibilização central da dor. |
Métodos: | Um corpo de evidências de artigos de pesquisas originais foi usado por 18 especialistas da dor de 7 países diferentes para projetar os primeiros critérios de classificação para dor de sensibilização. |
Resultados: | Propõe-se que a classificação da sensibilização central da dor acarreta 2 principais etapas: a exclusão da dor neuropática e a classificação diferencial dos efeitos nociceptivos versus dor de sensibilização central. Para o primeiro, os critérios de diagnóstico da Associação Internacional do Estudo a Dor estão disponíveis para excluir dores neuropáticas. Para o último, os médicos são aconselhados a fazer uma triagem dos seus pacientes para três principais critérios de classificação, e usá-los para completar o algoritmo de classificação para cada paciente com dor crônica. O principal critério obrigatório envolve a dor desproporcional, que implica que a gravidade da dor e a deficiência relatada ou percebida são desproporcionais à natureza e extensão da lesão ou patologia (ou seja, dano ao tecido ou deficiências estruturais). Os dois critérios restantes são 1) a presença de distribuição de dor difusa, alodinia e hiperalgesia; e 2) hipersensibilidade de sentidos não relacionados ao sistema musculoesquelético (definido como uma pontuação de pelo menos 40 no Inventário de Sensibilização Central). |
Limitações: | Embora baseada em resultados de pesquisas diretas e indiretas, a classificação do algoritmo requer testes experimentais em estudos futuros. |
Conclusão: | Os médicos podem usar o algoritmo de classificação proposto para diferenciar a dor neuropática, nociceptiva e de sensibilização central. |
Antecedentes: |
Está crescendo a consciência de que a sensibilização central é de importância primordial para a avaliação e para o tratamento da dor crônica, mas sua classificação é um desafio clínico, uma vez que não existe um método padrão-ouro de avaliação. |
Objetivos: |
Projetar o primeiro conjunto de critérios para a classificação da sensibilização central da dor. |
Métodos: |
Um corpo de evidências de artigos de pesquisas originais foi usado por 18 especialistas da dor de 7 países diferentes para projetar os primeiros critérios de classificação para dor de sensibilização. |
Resultados: |
Propõe-se que a classificação da sensibilização central da dor acarreta 2 principais etapas: a exclusão da dor neuropática e a classificação diferencial dos efeitos nociceptivos versus dor de sensibilização central. Para o primeiro, os critérios de diagnóstico da Associação Internacional do Estudo a Dor estão disponíveis para excluir dores neuropáticas. Para o último, os médicos são aconselhados a fazer uma triagem dos seus pacientes para três principais critérios de classificação, e usá-los para completar o algoritmo de classificação para cada paciente com dor crônica. O principal critério obrigatório envolve a dor desproporcional, que implica que a gravidade da dor e a deficiência relatada ou percebida são desproporcionais à natureza e extensão da lesão ou patologia (ou seja, dano ao tecido ou deficiências estruturais). Os dois critérios restantes são 1) a presença de distribuição de dor difusa, alodinia e hiperalgesia; e 2) hipersensibilidade de sentidos não relacionados ao sistema musculoesquelético (definido como uma pontuação de pelo menos 40 no Inventário de Sensibilização Central). |
Limitações: |
Embora baseada em resultados de pesquisas diretas e indiretas, a classificação do algoritmo requer testes experimentais em estudos futuros. |
Conclusão: |
Os médicos podem usar o algoritmo de classificação proposto para diferenciar a dor neuropática, nociceptiva e de sensibilização central. |
Muitos pacientes com dor crônica, incluindo aqueles com dor persistente no pescoço1Creed FH, Davies I, Jackson J, et al. The epidemiology of multiple somatic symptoms. J Psychosom Res. 2012;72:311–17. doi: 10.1016/j.jpsychores.2012.01.009. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]2Barsky AJ, Ettner SL, Horsky J, Bates DW. Resource utilization of patients with hypochondriacal health anxiety and somatization. Med Care. 2001;39:705–15. doi: 10.1097/00005650-200107000-00007. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]3Shraim M, Mallen CD, Dunn KM. GP consultations for medically unexplained physical symptoms in parents and their children: a systematic review. Br J Gen Pract. 2013;63:e318–25. doi: 10.3399/bjgp13X667178. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]4Turk DC. Clinical effectiveness and cost-effectiveness of treatments for patients with chronic pain. Clin J Pain. 2002;18:355–65. doi: 10.1097/00002508-200211000-00003. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], dor pélvica5Chandran A, Schaefer C, Ryan K, Baik R, McNett M, Zlateva G. The comparative economic burden of mild, moderate, and severe fibromyalgia: results from a retrospective chart review and cross-sectional survey of working-age U.S. adults. J Manag Care Pharm. 2012;18:415–26. [PubMed] [Google Scholar]6Butler CC, Evans M. The ‘heartsink’ patient revisited. The Welsh Philosophy and General Practice discussion Group. Br J Gen Pract. 1999;49:230–3. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar], dor lombar7Woivalin T, Krantz G, Mäntyranta T, Ringsberg KC. Medically unexplained symptoms: perceptions of physicians in primary health care. Fam Pract. 2004;21:199–203. doi: 10.1093/fampra/cmh217. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]8Woolf CJ. Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain. 2011;152(3 Suppl):S2–15. doi: 10.1016/j.pain.2010.09.030. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]9Schur EA, Afari N, Furberg H, et al. Feeling bad in more ways than one: comorbidity patterns of medically unexplained and psychiatric conditions. J Gen Intern Med. 2007;22:818–21. doi: 10.1007/s11606-007-0140-5. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], fibromialgia10Woolf CJ. Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain. 2011;152(3 Suppl):S2–15. doi: 10.1016/j.pain.2010.09.030. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]11Staud R. Is it all central sensitization? Role of peripheral tissue nociception in chronic musculo-skeletal pain. Curr Rheumatol Rep. 2010;12:448–54. doi: 10.1007/s11926-010-0134-x. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]12Wessely S, Hotopf M. Is fibromyalgia a distinct clinical entity? Historical and epidemiological evidence. Baillieres Best Pract Res Clin Rheumatol. 1999;13:427–36. doi: 10.1053/berh.1999.0032. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], síndrome do impacto subacromial13Aaron LA, Burke M, Buchwald D. Overlapping conditions among patients with chronic fatigue syndrome, fibromyalgia, and temporomandibular disorder. Arch Intern Med. 2000;160:221–7. doi: 10.1001/archinte.160.2.221. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar],síndrome da fadiga crônica14Aaron L, Buchwald D. A review of the evidence for overlap among unexplained clinical conditions. Ann Intern Med. 2001;134(9 Pt 2):868–81. doi: 10.7326/0003-4819-134-9_Part_2-200105011-00011. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], cefaleia do tipo tensional15Clemens JQ, Markossian T, Calhoun EA. Comparison of economic impact of chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome and interstitial cystitis/painful bladder syndrome. Urology. 2009;73:743–6. doi: 10.1016/j.urology.2008.11.007. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], enxaqueca16Latremoliere A, Woolf CJ. Central sensitization: a generator of pain hypersensitivity by central neural plasticity. J Pain. 2009:10895–926. doi: 10.1016/j.jpain.2009.06.012. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], osteoartrite17Woolf CJ. Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain. 2011;152(3 Suppl):S2–15. doi: 10.1016/j.pain.2010.09.030. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]18Clauw D. Fibromyalgia: a clinical review. JAMA. 2014;311:1547–55. doi: 10.1001/jama.2014.3266. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]19Zimmermann C, Del Piccolo L, Bensing J, et al. Coding patient emotional cues and concerns in medical consultations: the Verona coding definitions of emotional sequences (VR-CoDES) Patient Educ Couns. 2011;82:141–8. doi: 10.1016/j.pec.2010.03.017. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], artrite reumatoide20Silverman SM. Opioid induced hyperalgesia: clinical implications for the pain practitioner. Pain Physician. 2009;12:679–84. [PubMed] [Google Scholar], cotovelo de tenista21Gauthier N, Thibault P, Adams H, Sullivan MJ. Validation of a French-Canadian version of the Pain Disability Index. Pain Res Manag. 2008;13:327–33. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]22Bengtzen R, Woodward M, Lynn MJ, Newman NJ, Biousse V. The “sunglasses sign” predicts nonorganic visual loss in neuro-ophthalmologic practice. Neurology. 2008;70:218–21. doi: 10.1212/01.wnl.0000287090.98555.56. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], dor no braço não específica23Morrison JR. The First Interview: Third Edition.New York, NY: Guilford Press; 2008. p. 124. [Google Scholar] e tendinopatia patelar24Valliant G. The Beginning of Wisdom Is Never Calling a Patient A Borderline Or, The Clinical Management of Immature Defenses in the Treatment of Individuals with Personality Disorders. In: Adshead G, Jacob C, editors. Personality Disorder: the Definitive Reader.Philadelphia, PA: Jessica Kingsley Publishers; 2009. pp. 104–30. [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar] mostram características sugestivas de sensibilização central (SC), um processo caracterizado por hipersensibilidade generalizada do sistema somatossensorial25Molnar DS, Flett GL, Sadava SW, Colautti J. Perfectionism and health functioning in women with fibromyalgia. J Psychosom Res. 2012;73:295–300. doi: 10.1016/j.jpsychores.2012.08.001. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]26Kempke S, Luyten P, Claes S, et al. Self-critical perfectionism and its relationship to fatigue and pain in the daily flow of life in patients with chronic fatigue syndrome. Psychol Med. 2013;43:995–1002. doi: 10.1017/S0033291712001936. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]27Luyten P, Kempke S, Van Wambeke P, Claes S, Blatt SJ, Van Houdenhove B. Self-critical perfectionism, stress generation, and stress sensitivity in patients with chronic fatigue syndrome: relationship with severity of depression. Psychiatry. 2011;74:21–30. doi: 10.1521/psyc.2011.74.1.21. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. De acordo com Woolf28Uguz F, Ciçek E, Salli A, et al. Axis I and Axis II psychiatric disorders in patients with fibromyalgia. Gen Hosp Psychiatry. 2010;32:105–7. doi: 10.1016/j.genhosppsych.2009.07.002. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], SC é “operacionalmente definida como uma amplificação de sinalização neural dentro do sistema nervoso central que provoca hipersensibilidade à dor.”
Esses estudos fornecem evidências que apoiam a presença de sensibilização central em pacientes com dor crônica por meio de estudos observacionais de imagens cerebrais, testes psicofísicos com vários estímulos, e estudos de metabolismo cerebral29Chandran A, Schaefer C, Ryan K, Baik R, McNett M, Zlateva G. The comparative economic burden of mild, moderate, and severe fibromyalgia: results from a retrospective chart review and cross-sectional survey of working-age U.S. adults. J Manag Care Pharm. 2012;18:415–26. [PubMed] [Google Scholar]30Woivalin T, Krantz G, Mäntyranta T, Ringsberg KC. Medically unexplained symptoms: perceptions of physicians in primary health care. Fam Pract. 2004;21:199–203. doi: 10.1093/fampra/cmh217. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]31Woolf CJ. Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain. 2011;152(3 Suppl):S2–15. doi: 10.1016/j.pain.2010.09.030. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]32Aaron LA, Burke M, Buchwald D. Overlapping conditions among patients with chronic fatigue syndrome, fibromyalgia, and temporomandibular disorder. Arch Intern Med. 2000;160:221–7. doi: 10.1001/archinte.160.2.221. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]33Aaron L, Buchwald D. A review of the evidence for overlap among unexplained clinical conditions. Ann Intern Med. 2001;134(9 Pt 2):868–81. doi: 10.7326/0003-4819-134-9_Part_2-200105011-00011. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]34Clemens JQ, Markossian T, Calhoun EA. Comparison of economic impact of chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome and interstitial cystitis/painful bladder syndrome. Urology. 2009;73:743–6. doi: 10.1016/j.urology.2008.11.007. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]35Latremoliere A, Woolf CJ. Central sensitization: a generator of pain hypersensitivity by central neural plasticity. J Pain. 2009:10895–926. doi: 10.1016/j.jpain.2009.06.012. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]36Clauw D. Fibromyalgia: a clinical review. JAMA. 2014;311:1547–55. doi: 10.1001/jama.2014.3266. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]37Gauthier N, Thibault P, Adams H, Sullivan MJ. Validation of a French-Canadian version of the Pain Disability Index. Pain Res Manag. 2008;13:327–33. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]38Bengtzen R, Woodward M, Lynn MJ, Newman NJ, Biousse V. The “sunglasses sign” predicts nonorganic visual loss in neuro-ophthalmologic practice. Neurology. 2008;70:218–21. doi: 10.1212/01.wnl.0000287090.98555.56. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]39Arnold LM, Hudson JI, Keck PE, Auchenbach MB, Javaras KN, Hess EV. Comorbidity of fibromyalgia and psychiatric disorders. J Clin Psychiatry. 2006;67:1219–25. doi: 10.4088/JCP.v67n0807. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. A SC reflete no aumento da atividade de facilitação das vias da dor40Wessely S, Hotopf M. Is fibromyalgia a distinct clinical entity? Historical and epidemiological evidence. Baillieres Best Pract Res Clin Rheumatol. 1999;13:427–36. doi: 10.1053/berh.1999.0032. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]41Arnold LM, Hudson JI, Keck PE, Auchenbach MB, Javaras KN, Hess EV. Comorbidity of fibromyalgia and psychiatric disorders. J Clin Psychiatry. 2006;67:1219–25. doi: 10.4088/JCP.v67n0807. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] e mau funcionamento da descida das vias inibitórias da dor que resultam em disfunções no controle analgésico endógeno42Aaron L, Buchwald D. A review of the evidence for overlap among unexplained clinical conditions. Ann Intern Med. 2001;134(9 Pt 2):868–81. doi: 10.7326/0003-4819-134-9_Part_2-200105011-00011. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. Além disso, a neuromatriz da dor provavelmente é hiperativa em pacientes com sensibilização central: aumento da atividade está presente nas áreas do cérebro conhecidas por envolver sensações de dor aguda e representações emocionais como a ínsula, anterior córtex cingulado e córtex pré-frontal, mas não no córtex somatossensorial primário ou secundário43Sansone RA, Sansone LA. Chronic pain syndromes and borderline personality. Innov Clin Neurosci. 2012;9:10–14. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar].
Uma neuromatriz de dor hiperativa envolve a atividade cerebral em regiões não envolvidas em sensações de dor aguda, incluindo vários núcleos do tronco cerebral, córtex frontal dorsolateral, e o córtex parietal associado44Sansone RA, Sansone LA. Chronic pain syndromes and borderline personality. Innov Clin Neurosci. 2012;9:10–14. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]. Os resultados da pesquisa também sugerem um papel específico do tronco cerebral para a manutenção da sensibilização central em humanos45Hooley JM, Wilson-Murphy M. Adult attachment to transitional objects and borderline personality disorder. J Pers Disord. 2012;26:179–91. doi: 10.1521/pedi.2012.26.2.179. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. Além disso, a potenciação a longo prazo de sinapses neuronais na região anterior ao córtex cingulado46Hauser W, Kosseva M, Uceyler N, Klose P, Sommer C. Emotional, physical, and sexual abuse in fibromyalgia syndrome: a systematic review with meta-analysis. Arthritis Care Res (Hoboken) 2011;63:808–20. doi: 10.1002/acr.20328. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], nucleus accumbens, ínsula e o córtex sensório-motor, bem como a diminuição da neurotransmissão do ácido gamaaminobutírico47Buskila D, Neumann L, Vaisberg G, Alkalay D, Wolfe F. Increased rates of fibromyalgia following cervical spine injury: a controlled study of 161 cases of traumatic injury. Arthritis Rheum. 1997;40:446–52. doi: 10.1002/art.1780400310. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] representam dois potenciais mecanismos que contribuem para a hiperatividade neuromatriz da dor.
Conforme mencionado, o conceito de sensibilização central foi estudado extensivamente em diferentes grupos de pacientes48Creed FH, Davies I, Jackson J, et al. The epidemiology of multiple somatic symptoms. J Psychosom Res. 2012;72:311–17. doi: 10.1016/j.jpsychores.2012.01.009. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]49Barsky AJ, Ettner SL, Horsky J, Bates DW. Resource utilization of patients with hypochondriacal health anxiety and somatization. Med Care. 2001;39:705–15. doi: 10.1097/00005650-200107000-00007. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]50Shraim M, Mallen CD, Dunn KM. GP consultations for medically unexplained physical symptoms in parents and their children: a systematic review. Br J Gen Pract. 2013;63:e318–25. doi: 10.3399/bjgp13X667178. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]51Turk DC. Clinical effectiveness and cost-effectiveness of treatments for patients with chronic pain. Clin J Pain. 2002;18:355–65. doi: 10.1097/00002508-200211000-00003. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]52Chandran A, Schaefer C, Ryan K, Baik R, McNett M, Zlateva G. The comparative economic burden of mild, moderate, and severe fibromyalgia: results from a retrospective chart review and cross-sectional survey of working-age U.S. adults. J Manag Care Pharm. 2012;18:415–26. [PubMed] [Google Scholar]53Woolf CJ. Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain. 2011;152(3 Suppl):S2–15. doi: 10.1016/j.pain.2010.09.030. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]54Aaron LA, Burke M, Buchwald D. Overlapping conditions among patients with chronic fatigue syndrome, fibromyalgia, and temporomandibular disorder. Arch Intern Med. 2000;160:221–7. doi: 10.1001/archinte.160.2.221. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]55Aaron L, Buchwald D. A review of the evidence for overlap among unexplained clinical conditions. Ann Intern Med. 2001;134(9 Pt 2):868–81. doi: 10.7326/0003-4819-134-9_Part_2-200105011-00011. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]56Clemens JQ, Markossian T, Calhoun EA. Comparison of economic impact of chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome and interstitial cystitis/painful bladder syndrome. Urology. 2009;73:743–6. doi: 10.1016/j.urology.2008.11.007. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]57Latremoliere A, Woolf CJ. Central sensitization: a generator of pain hypersensitivity by central neural plasticity. J Pain. 2009:10895–926. doi: 10.1016/j.jpain.2009.06.012. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]58Silverman SM. Opioid induced hyperalgesia: clinical implications for the pain practitioner. Pain Physician. 2009;12:679–84. [PubMed] [Google Scholar]59Gauthier N, Thibault P, Adams H, Sullivan MJ. Validation of a French-Canadian version of the Pain Disability Index. Pain Res Manag. 2008;13:327–33. [PMC free article][PubMed] [Google Scholar]60Ashenberg Straussner SL, Fewell CH. Children of Substance-Abusing Parents: Dynamics and Treatment.New York, NY: Springer; 2011. [Google Scholar], mostrando que a SC pode modular o desenvolvimento da dor (por exemplo, na fibromialgia) e/ou a transição de dor aguda para dor crônica (por exemplo, lesões tipo “chicotada” em distúrbio associado)61Turk DC. Clinical effectiveness and cost-effectiveness of treatments for patients with chronic pain. Clin J Pain. 2002;18:355–65. doi: 10.1097/00002508-200211000-00003. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]62Ablin JN, Buskila D, Van Houdenhove B, Luyten P, Atzeni F, Sarzi-Puttini P. Is fibromyalgia a discrete entity? Autoimmun Rev. 2012;11:585–8. doi: 10.1016/j.autrev.2011.10.018. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] em pacientes onde uma fonte óbvia de nocicepção está ausente. A sensibilização central nestes grupos de pacientes também pode mediar respostas ao tratamento63Barsky AJ, Ettner SL, Horsky J, Bates DW. Resource utilization of patients with hypochondriacal health anxiety and somatization. Med Care. 2001;39:705–15. doi: 10.1097/00005650-200107000-00007. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]64Bengtzen R, Woodward M, Lynn MJ, Newman NJ, Biousse V. The “sunglasses sign” predicts nonorganic visual loss in neuro-ophthalmologic practice. Neurology. 2008;70:218–21. doi: 10.1212/01.wnl.0000287090.98555.56. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], portanto convidando os médicos a considerar o direcionamento dos processos de SC subjacente ao tratar pacientes com dor crônica65Kempke S, Luyten P, Claes S, et al. Self-critical perfectionism and its relationship to fatigue and pain in the daily flow of life in patients with chronic fatigue syndrome. Psychol Med. 2013;43:995–1002. doi: 10.1017/S0033291712001936. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]66Ablin JN, Cohen H, Eisinger M, Buskila D. Holocaust survivors: the pain behind the agony. Increased prevalence of fibromyalgia among Holocaust survivors. Clin Exp Rheumatol. 2010;28(6 Suppl 63):S51–6. [PubMed] [Google Scholar].
Um corpo limitado de evidências sugere que alguns dos mecanismos subjacentes a SC pode ser responsivo à intervenções clínicas. Por exemplo, há algumas evidências que sugerem que o tratamento eficaz para dor lombar crônica pode reverter a função cerebral anormal67Katon W, Sullivan M, Walker E. Medical symptoms without identified pathology: relationship to psychiatric disorders, childhood and adult trauma, and personality traits. Ann Intern Med. 2001;134(9 Pt 2):917–25. doi: 10.7326/0003-4819-134-9_Part_2-200105011-00017. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]68Cleary BS, Keniston A, Havranek EP, Albert RK. Intimate partner violence in women hospitalized on an internal medicine service: prevalence and relationship to responses to the review of systems. J Hosp Med. 2008;3:299–307. doi: 10.1002/jhm.340. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], e que a reabilitação biopsicossocial orientada pode reduzir a hiperexcitabilidade do sistema nervoso central69Felitti VJ, Anda RF, Nordenberg D, et al. Relationship of childhood abuse and household dysfunction to many of the leading causes of death in adults: the Adverse Childhood Experiences (ACE) Study. Am J Prev Med. 1998;14:245–58. doi: 10.1016/S0749-3797(98)00017-8. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] e aumentar o volume cortical pré-frontal70McCauley J, Kern DE, Kolodner K, et al. The “battering syndrome”: prevalence and clinical characteristics of domestic violence in primary care internal medicine practices. Ann Intern Med. 1995;123:737–46. doi: 10.7326/0003-4819-123-10-199511150-00001. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] em pacientes com dor crônica, embora estudos maiores sejam necessários para comprovar ainda mais esses achados.
Finalmente, a importância clínica da sensibilização central é apoiada por descobertas em pacientes com dor lombar crônica. Comparado com aqueles pacientes classificados como tendo dor neuropática periférica e dor nociceptiva, pacientes com SC relataram dor mais grave, pior qualidade de vida relacionada à saúde e maiores níveis de incapacidade relacionada à dor nas costas, depressão e ansiedade71Ouimette P, Cronkite R, Henson BR, Prins A, Gima K, Moos RH. Posttraumatic stress disorder and health status among female and male medical patients. J Trauma Stress. 2004;17:1–9. doi: 10.1023/B:JOTS.0000014670.68240.38. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar].
Em algumas populações de pacientes, SC pode ser característica do transtorno, como é o caso com whiplash (lesões como “chicotadas”) crônico, fibromialgia, síndrome da fadiga crônica e síndrome do intestino irritável72Luyten P, Kempke S, Van Wambeke P, Claes S, Blatt SJ, Van Houdenhove B. Self-critical perfectionism, stress generation, and stress sensitivity in patients with chronic fatigue syndrome: relationship with severity of depression. Psychiatry. 2011;74:21–30. doi: 10.1521/psyc.2011.74.1.21. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. Nem todos os pacientes com dor crônica possuem SC, mas pode estar subjacente aos subgrupos de pacientes com dor lombar crônica, whiplash, osteoartrite, artrite reumatoide, dor de cotovelo, dor no ombro e dor de cabeça73Woolf CJ. Central sensitization: implications for the diagnosis and treatment of pain. Pain. 2011;152(3 Suppl):S2–15. doi: 10.1016/j.pain.2010.09.030. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]74Aaron LA, Burke M, Buchwald D. Overlapping conditions among patients with chronic fatigue syndrome, fibromyalgia, and temporomandibular disorder. Arch Intern Med. 2000;160:221–7. doi: 10.1001/archinte.160.2.221. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]75Clemens JQ, Markossian T, Calhoun EA. Comparison of economic impact of chronic prostatitis/chronic pelvic pain syndrome and interstitial cystitis/painful bladder syndrome. Urology. 2009;73:743–6. doi: 10.1016/j.urology.2008.11.007. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]76Latremoliere A, Woolf CJ. Central sensitization: a generator of pain hypersensitivity by central neural plasticity. J Pain. 2009:10895–926. doi: 10.1016/j.jpain.2009.06.012. [PMC free article][PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]77Clauw D. Fibromyalgia: a clinical review. JAMA. 2014;311:1547–55. doi: 10.1001/jama.2014.3266. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]78Zimmermann C, Del Piccolo L, Bensing J, et al. Coding patient emotional cues and concerns in medical consultations: the Verona coding definitions of emotional sequences (VR-CoDES) Patient Educ Couns. 2011;82:141–8. doi: 10.1016/j.pec.2010.03.017. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]79Silverman SM. Opioid induced hyperalgesia: clinical implications for the pain practitioner. Pain Physician. 2009;12:679–84. [PubMed] [Google Scholar]80Luyten P, Kempke S, Van Wambeke P, Claes S, Blatt SJ, Van Houdenhove B. Self-critical perfectionism, stress generation, and stress sensitivity in patients with chronic fatigue syndrome: relationship with severity of depression. Psychiatry. 2011;74:21–30. doi: 10.1521/psyc.2011.74.1.21. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]81Kramer A, Lorenzon D, Mueller G. Prevalence of intimate partner violence and health implications for women using emergency departments and primary care clinics. Womens Health Issues. 2004;14:19–29. doi: 10.1016/j.whi.2003.12.002. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]82Campbell J, Jones AS, Dienemann J, et al. Intimate partner violence and physical health consequences. Arch Intern Med. 2002;162:1157–63. doi: 10.1001/archinte.162.10.1157. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. As razões para isso são desconhecidas, mas podem refletir numa predisposição genética e na influência de outros fatores biopsicossociais. No nível do grupo, essas populações podem ser caracterizadas por sensibilização central, mas em nível individual, definitivamente nem todos os pacientes apresentam evidências de SC. Em vez disso, um subgrupo dessas populações é caracterizado por SC. Se estiver presente, a SC pode dominar o quadro clínico, modular a transição para a cronicidade83Turk DC. Clinical effectiveness and cost-effectiveness of treatments for patients with chronic pain. Clin J Pain. 2002;18:355–65. doi: 10.1097/00002508-200211000-00003. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]84Ablin JN, Buskila D, Van Houdenhove B, Luyten P, Atzeni F, Sarzi-Puttini P. Is fibromyalgia a discrete entity? Autoimmun Rev. 2012;11:585–8. doi: 10.1016/j.autrev.2011.10.018. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], e mediar as respostas ao tratamento85Barsky AJ, Ettner SL, Horsky J, Bates DW. Resource utilization of patients with hypochondriacal health anxiety and somatization. Med Care. 2001;39:705–15. doi: 10.1097/00005650-200107000-00007. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]86Bengtzen R, Woodward M, Lynn MJ, Newman NJ, Biousse V. The “sunglasses sign” predicts nonorganic visual loss in neuro-ophthalmologic practice. Neurology. 2008;70:218–21. doi: 10.1212/01.wnl.0000287090.98555.56. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. Portanto, pode ser considerado importante para os médicos serem capazes de identificar ou diagnosticar SC em populações de pacientes, apresentando tratamento.
Embora os pacientes com dor crônica sejam mais prováveis para apresentar sensibilização central, a SC não pode ser limitada à estados de dor crônica. Por exemplo, em pacientes com distúrbios associados a whiplash, o processamento sensorial anormal pode aparecer muito rapidamente (<7 dias) após o trauma da chicotada inicial e, uma vez presente, tem importante capacidade preditiva para o desenvolvimento da cronicidade87Turk DC. Clinical effectiveness and cost-effectiveness of treatments for patients with chronic pain. Clin J Pain. 2002;18:355–65. doi: 10.1097/00002508-200211000-00003. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]88Seng JS, Graham-Bermann SA, Clark MK, McCarthy AM, Ronis DL. Posttraumatic stress disorder and physical comorbidity among female children and adolescents: results from service-use data. Pediatrics. 2005;116:e767–76. [PubMed] [Google Scholar].Portanto, é importante que os médicos identifiquem rapidamente SC em pacientes com dor (sub) aguda para identificação precoce do risco de cronicidade.
Embora esteja crescendo a consciência de que a SC pode ser de importância primordial no desenvolvimento, persistência, e manejo da dor crônica, sua classificação é clinicamente desafiadora, uma vez que nenhum método padrão ouro de avaliação existe. Nos últimos anos, dois questionários foram desenvolvidos para a triagem de SC, o Questionário de Sensibilidade da Dor89Coker AL, Smith PH, Bethea L, King MR, McKeown RE. Physical health consequences of physical and psychological intimate partner violence. Arch Fam Med. 2000;9:451–7. doi: 10.1001/archfami.9.5.451. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] e o Inventário Central de Sensibilização90Drossman DA, Leserman J, Nachman G, et al. Sexual and physical abuse in women with functional or organic gastrointestinal disorders. Ann Intern Med. 1990;113:828–33. doi: 10.7326/0003-4819-113-11-828. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]91Auerbach E. In: Mimesis: The Representation of Reality in Western Literature.Trask WR, translator. Princeton, NJ: Princeton University Press; 1973. [Google Scholar]. Esses questionários avaliam aspectos da SC, medidas de inclusão de avaliação física e julgamentos clínicos por profissionais de saúde também oferecem maior potencial para a classificação de SC. Diretrizes para o reconhecimento de SC em pacientes com dor musculoesquelética foram propostas92Luyten P, Kempke S, Van Wambeke P, Claes S, Blatt SJ, Van Houdenhove B. Self-critical perfectionism, stress generation, and stress sensitivity in patients with chronic fatigue syndrome: relationship with severity of depression. Psychiatry. 2011;74:21–30. doi: 10.1521/psyc.2011.74.1.21. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar], e embora úteis, elas são incapazes de orientar os médicos no sentido de decisões de classificação na clínica prática. Portanto, um corpo de evidências do artigo de pesquisa original foram usadas por 18 especialistas em dor de 7 países diferentes para criar os primeiros critérios de classificação para dor de sensibilização central. Aqui, propomos pela primeira vez um conjunto de critérios de classificação para dor de SC como uma entidade relativamente distinta de outras classificações baseadas em mecanismos de dor, como dor neuropática e nociceptiva.
Excluindo ou diagnosticando dor neuropática como a primeira etapa importante
Propõe-se que a classificação da dor de SC envolve 2 etapas principais: a exclusão da dor neuropática e a classificação diferencial de nociceptiva versus dor de SC.
A dor neuropática é definida como “dor que surge como um consequência direta de uma lesão ou doença que afeta o sistema somatossensorial”93Dimsdale J, Creed F. The proposed diagnosis of somatic symptom disorders in DSM-V to replace somatoform disorders in DSM-IV—a preliminary report. J Psychosom Res. 2009;66:473–6. doi: 10.1016/j.jpsychores.2009.03.005. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. A dor neuropática pode ser periférica (ou seja, localizada em um nervo, raiz dorsal gânglio ou plexo) e central (localizada no cérebro ou medula espinhal). A dor neuropática também é caracterizada por sensibilização; periférica e central (segmentalmente relacionados) as vias da dor são hiperexcitáveis nos pacientes com dor neuropática94Stahl SM. Fibromyalgia – pathways and neurotransmitters. Hum Psychopharmacol. 2009;24(Suppl 1):S11–17. [PubMed] [Google Scholar]95Glass JM. Review of cognitive dysfunction in fibromyalgia: a convergence on working memory and attentional control impairments. Rheum Dis Clin North Am. 2009;35:299–311. doi: 10.1016/j.rdc.2009.06.002. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar].
No entanto, aqui nos concentramos na classificação de dor não neuropática de sensibilização central, que implica que a exclusão da dor neuropática é necessária como o primeiro passo. Na verdade, condições típicas de SC, como fibromialgia, ou qualquer outra condição de dor crônica não causada por uma lesão ou doença do sistema somatossensorial, não satisfazem os critérios para a classificação de dores neuropatas. Da mesma forma, alguns pacientes com dor lombar crônica, cotovelo de tenista ou osteoartrite podem mostrar características de SC, mas não se enquadram nos critérios de diagnóstico para dor neuropática.
Para uma descrição detalhada dos critérios de diagnóstico e diagnóstico clínico de dor neuropática, os leitores são encaminhados para o consenso internacional de documentos relevantes96Dimsdale J, Creed F. The proposed diagnosis of somatic symptom disorders in DSM-V to replace somatoform disorders in DSM-IV—a preliminary report. J Psychosom Res. 2009;66:473–6. doi: 10.1016/j.jpsychores.2009.03.005. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]97Schiavino D, Nucera E, Roncallo C, et al. Multiple-drug intolerance syndrome: clinical findings and usefulness of challenge tests. Ann Allergy Asthma Immunol. 2007;99:136–42. doi: 10.1016/S1081-1206(10)60637-0. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]98Palmquist E, Claeson AS, Neely G, Stenberg B, Nordin S. Overlap in prevalence between various types of environmental intolerance. Int J Hyg Environ Health. 2014;217:427–34. doi: 10.1016/j.ijheh.2013.08.005. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. Os principais critérios para a diferenciação entre dor de sensibilização central neuropática e não neuropática são apresentados na Tabela 1.
Para o propósito do presente artigo, é importante destacar a questão da disfunção sensorial na dor neuropática versus dor não neuropática de SC. O teste sensorial é de primordial importância para o diagnóstico da dor neuropática99Dimsdale J, Creed F. The proposed diagnosis of somatic symptom disorders in DSM-V to replace somatoform disorders in DSM-IV—a preliminary report. J Psychosom Res. 2009;66:473–6. doi: 10.1016/j.jpsychores.2009.03.005. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]100Schiavino D, Nucera E, Roncallo C, et al. Multiple-drug intolerance syndrome: clinical findings and usefulness of challenge tests. Ann Allergy Asthma Immunol. 2007;99:136–42. doi: 10.1016/S1081-1206(10)60637-0. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. Isso inclui o teste da função das fibras sensoriais com ferramentas simples (por exemplo, um garfo para ajuste de vibração, uma escova macia para toque e frio/quente, objetos de temperatura), que normalmente avaliam a relação entre o estímulo e a sensação percebida101Schiavino D, Nucera E, Roncallo C, et al. Multiple-drug intolerance syndrome: clinical findings and usefulness of challenge tests. Ann Allergy Asthma Immunol. 2007;99:136–42. doi: 10.1016/S1081-1206(10)60637-0. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. Várias opções surgem aqui, todas sugestivas de dor neuropática: hiperestesia, hipoestesia, hiperalgesia, hipoalgesia, alodinia, parestesia, disestesia, pós-sensações, etc.
Novamente, a localização da disfunção sensorial é crucial para a classificação diferencial entre dor de SC neuropática e não neuropática. Durante a dor neuropática, a localização da disfunção sensorial deve ser neuroanatomicamente lógica, na dor de sensibilização central não neuropática deve ser disseminado em áreas não segmentadas do corpo. Na verdade, o exame clínico na dor de SC não neuropática tipicamente revela aumento da sensibilidade em locais segmentais não relacionados à fonte primária de nocicepção102Luyten P, Kempke S, Van Wambeke P, Claes S, Blatt SJ, Van Houdenhove B. Self-critical perfectionism, stress generation, and stress sensitivity in patients with chronic fatigue syndrome: relationship with severity of depression. Psychiatry. 2011;74:21–30. doi: 10.1521/psyc.2011.74.1.21. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]. Achados de várias áreas de hiperalgesia em locais externos e remotos ao local sintomático, junto com uma diminuição geral não segmentar na dor de pressão limiar infere uma hiperexcitabilidade generalizada das vias nociceptivas centrais ou SC103Kraus JE. Sensitization phenomena in psychiatric illness: lessons from the kindling model. J Neuropsychiatry Clin Neurosci. 2000;12:328–43. doi: 10.1176/jnp.12.3.328. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar].
A presença de dor neuropática não exclui a possibilidade de SC ou vice-versa. Na verdade, alguns pacientes evoluem da dor neuropática forte, com sintomas severos mas locais, para uma condição de dor generalizada que não pode ser explicada apenas pela dor neuropática. Nesses casos, a sensibilização central pode ser responsável pela evolução para um condição de dor generalizada.
Tabela 1
Critérios para a classificação diferencial entre sensibilização central (SC) da dor neuropática104Dimsdale J, Creed F. The proposed diagnosis of somatic symptom disorders in DSM-V to replace somatoform disorders in DSM-IV—a preliminary report. J Psychosom Res. 2009;66:473–6. doi: 10.1016/j.jpsychores.2009.03.005. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]105Schiavino D, Nucera E, Roncallo C, et al. Multiple-drug intolerance syndrome: clinical findings and usefulness of challenge tests. Ann Allergy Asthma Immunol. 2007;99:136–42. doi: 10.1016/S1081-1206(10)60637-0. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]106Palmquist E, Claeson AS, Neely G, Stenberg B, Nordin S. Overlap in prevalence between various types of environmental intolerance. Int J Hyg Environ Health. 2014;217:427–34. doi: 10.1016/j.ijheh.2013.08.005. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] e não neuropática. | |
Dor neuropática | Dor não-neuropárica SC |
História de uma lesão ou doença no sistema nervoso. | Sem história de lesão ou doença no sistema nervoso. |
Evidências de investigações diagnósticas para revelar uma anormalidade no sistema nervoso ou dano pós-traumático/pós cirúrgico ao sistema nervoso. | Nenhuma evidência de investigações de diagnóstico ou danos ao sistema nervoso. |
Frequentemente relacionado à uma causa médica estabelecida, como câncer, derrame,diabetes, herpes ou doença neurodegenerativa. | Nenhuma causa médica para a dor estabelecida. |
A dor é neuroanatomicamente lógica. | A dor é neuroanatomicamente ilógica, ou seja, localizada em locais segmentais não relacionados à fonte primária de nocicepção. |
A dor costuma ser descrita como queimação ou pontada. | A dor não é descrita como ardor ou pontada , mas na maioria das vezes tão vaga e enfadonha. |
A localização da disfunção sensorial é neuroanatomicamente lógica. | A localização da disfunção sensorial é neuroanatomicamente ilógica, ou seja, inúmeras áreas de hiperalgesia em locais externos e remotos ao local sintomático – em locais segmentalmente não relacionados. |
Critérios para a classificação diferencial entre sensibilização central (SC) da dor neuropática107Dimsdale J, Creed F. The proposed diagnosis of somatic symptom disorders in DSM-V to replace somatoform disorders in DSM-IV—a preliminary report. J Psychosom Res. 2009;66:473–6. doi: 10.1016/j.jpsychores.2009.03.005. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]108Schiavino D, Nucera E, Roncallo C, et al. Multiple-drug intolerance syndrome: clinical findings and usefulness of challenge tests. Ann Allergy Asthma Immunol. 2007;99:136–42. doi: 10.1016/S1081-1206(10)60637-0. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar]109Palmquist E, Claeson AS, Neely G, Stenberg B, Nordin S. Overlap in prevalence between various types of environmental intolerance. Int J Hyg Environ Health. 2014;217:427–34. doi: 10.1016/j.ijheh.2013.08.005. [PubMed] [CrossRef] [Google Scholar] e não neuropática. |
Dor neuropática |
História de uma lesão ou doença no sistema nervoso. |
Evidências de investigações diagnósticas para revelar uma anormalidade no sistema nervoso ou dano pós-traumático/pós cirúrgico ao sistema nervoso. |
Frequentemente relacionado à uma causa médica estabelecida, como câncer, derrame,diabetes, herpes ou doença neurodegenerativa. |
A dor é neuroanatomicamente lógica. |
A dor costuma ser descrita como queimação ou pontada. |
A localização da disfunção sensorial é neuroanatomicamente lógica. |
Dor não-neuropárica SC |
Sem história de lesão ou doença no sistema nervoso. |
Nenhuma evidência de investigações de diagnóstico ou danos ao sistema nervoso. |
Nenhuma causa médica para a dor estabelecida. |
A dor é neuroanatomicamente ilógica, ou seja, localizada em locais segmentais não relacionados à fonte primária de nocicepção. |
A dor não é descrita como ardor ou pontada , mas na maioria das vezes tão vaga e enfadonha. |
A localização da disfunção sensorial é neuroanatomicamente ilógica, ou seja, inúmeras áreas de hiperalgesia em locais externos e remotos ao local sintomático – em locais segmentalmente não relacionados. |
Uma vez que a dor neuropática foi eliminada como um razão, restam 2 opções: a dor (crônica) surge de sensibilização central (ou seja, SC domina o quadro clínico do paciente) ou de dominância de entrada somática periférica (ou seja, dor nociceptiva).
Uma resposta
Maravilhoso. passando este curso de Marilia , vou estudar com cuidado