Dor Crônica - by dorcronica.blog.br

AIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!! Você sabe o que é isso?

AIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!! Você sabe o que é isso?

Na última década um grupo de doenças crônicas, as autoimunes mais a fibromialgia, tem sido associadas à hipersensibilidade do Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico. Grosso modo, hipersensibilidade significa que a pessoa doente sente mais dor do que sentiria se estivesse saudável. Mas o que é “sentir mais dor”? Isso tem a ver com o limiar de sensibilidade, o limiar da tolerância e a intensidade da dor da pessoa num determinado momento. Se você for portador de uma ou mais dessas doenças que provocam hipersensibilidade, e quiser conversar com o seu médico sobre isso, é imprescindível entender e diferenciar bem esses três conceitos.

“Eu posso suportar qualquer dor, desde que tenha significado.”

– Haruki Murakami

Eu costumo circular os posts que redijo entre algumas pessoas com e sem conhecimento na área da saúde antes de publicá-los. As observações mais produtivas quase sempre vêm dos que menos sabem do riscado. Conceitos e termos que são corriqueiros para médicos, fisioterapeutas e etc., parecem hieroglíficos aos pacientes deles.

Três desses conceitos são essenciais para o entendimento da percepção da dor: o limiar de sensibilidade, o limiar de tolerância e a intensidade da dor. A necessidade de distingui-los surgiu da descoberta de que a dor aguda intensifica a dor, reportada por pesquisadores da Universidade de Tel Aviv e exposta por mim em post publicado recentemente.

O experimento, enfim, mostrou que:

“Embora os limiares de sensibilidade à dor e de tolerância parecessem não afetados pelo estresse agudo, houve um aumento significativo na sua intensificação.”

Então, alguém comentou: “Ora, se as duas medidas de dor ficaram estáveis, como é que a dor se intensificou?”

Boa pergunta, ao menos para leigos como eu. Então, vamos comer o elefante por partes:

Limiar de dor, ou mais precisamente “limiar da sensibilidade à dor”, é o momento preciso em que a pessoa sente dor. O segundo exato em que ela grita: “Aiiiiiiiiii!!!!!!!”, após sofrer uma agressão – ou “estímulo nociceptivo”, no linguajar dos entendidos.

Limiar de tolerância à dor tem a ver com quanto a pessoa suporta a dor. Por exemplo, você decide torturar o seu cunhado enfiando alfinetes nas bochechas dele. Você enfia o primeiro e nada; o segundo alfinete traz à tona alguns palavrões dedicados à sua mãe, porém, no terceiro o dito cujo capitula. “Não aguento mais! Eu confesso!”, ele exclama. Eis o limiar de tolerância à dor. O do seu cunhado, note-se. Tanto o limiar da sensibilidade à dor, e da tolerância à dor, caem na categoria de “pessoal e intransferível”.

Na superfície, esses dois conceitos podem parecer semelhantes, mas são completamente distintos. Alguém com um limiar de sensibilidade à dor baixo pode ter um limiar de tolerância à dor alto e vice-versa.

Imagine dois irmãos gêmeos que por acaso sofrem uma mesma lesão tecidual grave ao mesmo tempo. Fulano raramente sente dor (limiar alto), e como a percepção não lhe é familiar, sua tolerância à dor é baixa. Enquanto isso, Sicrano, o irmão gêmeo, padece de fibromialgia e sente dor o tempo todo. O seu limiar de sensibilidade à dor é baixo, mas mesmo assim ele provavelmente consegue tolerar altos níveis de dor.

E agora suponha que você é o médico cirurgião que irá operar ambos. Você não deveria saber das diferenças anteriores com vistas às dores pós-operatórias que seguramente haverá?

E tem mais. Uma pessoa com um baixo limiar e baixa tolerância tende a sofrer bastante e a se sentir severamente debilitada ao sentir dor. E por isso mesmo ela pode vir a ser prejulgada como “fraca” ou “simuladora”, por outras pessoas!

E a intensificação da dor? Eu particularmente a defino como “o estado doloroso no momento”.  Para encurtar a estória, basta dizer que a intensidade da dor é medida frequentemente numa escala numérica de 11 pontos (pain intensity numerical rating scale, PI-NRS), onde 0 é “nenhuma dor” e 10 é “a pior dor possível”. A diferença desse conceito com os limiares de dor comentados antes é que a sua medição é independente do exercício de um estímulo específico (ex.: calor, pressão etc.). A intensidade da dor é simplesmente a dor que em geral a pessoa diz sentir no momento da medição.

Se você chegou até aqui na leitura e ainda pensa que aquilo foi pura masturbação, por enquanto eu lhe dou razão. Afinal, falar de dor é chato, e que importância pode ter isso de distinguir entre limiares de dor e etc.? É aí… até o momento de você, deitado numa sala de operações, o anestesiologista já contando 5, 4, 3… reparar em que até esse momento ninguém lhe perguntou nada sobre seus limiares de dor.

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Uma resposta

  1. Sofro com dor crônica no meu lado esquerdo, quadril, perna, rosto e principalmente a boca. Tomar uma anestesia na boca dói demais, qualquer coisa que faço me tira o juízo…. Uso dois neuroestimuladores, um na medula e um no cérebro… Sentir dor o tempo todo não é fácil…

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