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A festa da Fabi, geeeeente!

A festa da Fabi, geeeeente!

Os convidados de uma festa realizada no DF foram testados para o Covid-19 na entrada do evento. Os que testaram negativo na ocasião provavelmente aproveitaram a festa em dobro. Alguns, todavia, estavam se arriscando em dobro, ou em triplo. O tipo de teste utilizado para efetuar a triagem não produz resultados confiáveis, e muito menos se aplicado no começo de uma infecção, quando não há o que testar no corpo. Essas pessoas sabiam do enorme risco que haveriam de correr nas próximas horas? Provavelmente não. E como explicar esse grau de ignorância à luz do enorme volume de informações sobre o novo coronavírus que a mídia e os cientistas têm espalhado nos últimos 4 meses? Este post propõe uma explicação.

“Os dois elementos mais comuns no planeta são hidrogênio e estupidez”.

– Harlan Ellison

Suponho que você já saiba da festa realizada na última sexta feira em Brasília (DF) – a festa da Fabi, gente!!! – onde testes rápidos foram realizados em convidados logo na entrada. Por inoportuno, inconsequente e acintoso, o evento mereceu críticas de meio mundo – incluindo as de influencers (um dia eu vou averiguar para que serve essa gente ???!!!!) de olho num aumento de visitantes a suas guaridas virtuais.

O que a mim chamou mais a atenção, todavia, não foi a idiotice da iniciativa, mas que depois de quatro meses – os testes para o Covid-19 começaram por aqui em meados de fevereiro – e de uma penca de cientistas, médicos e leigos como eu, martelando pela mídia e pela internet que esse tipo de teste não é confiável, ainda tenha alfabetizados que ignoram isso, ou pior, que mesmo sabendo alegremente – “É a festa da Fabi, gente!!!” – se exponham a contaminação.

Os testes de laboratório são caracterizados por sua capacidade de detectar um caso positivo (sensibilidade) e sua capacidade de determinar um caso negativo (especificidade). Agora, preste atenção: os números que os fabricantes e laboratórios de testes relatam quanto a sensibilidade e a especificidade de SEUS testes pressupõem condições ideais em que amostras são coletadas de “…pacientes com altas cargas virais ou com completa ausência de exposição”. No mundo real, os pacientes são mais variáveis ​​e a coleta de amostras pode não ser ideal, prejudicando a sensibilidade e a especificidade do teste.1

Então, vamos ao mundo real brasileiro. Um artigo de autoria de seis pesquisadores, publicado em abril  pela revista científica The Brazilian Journal of Infectious Diseases, investigou “…a precisão diagnóstica combinada dos diferentes tipos de testes atualmente disponíveis para combater o Covid-19 no Brasil. Foram identificados 16 testes atualmente disponíveis e registrados na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANVISA), principalmente testes rápidos para detectar anticorpos IgM e/ou IgG”.

Neles “…a taxa de resultados falso-negativos de testes que detectam anticorpos SARS-CoV-2 IgM, utilizados na detecção de Covid-19 na fase aguda – os testes rápidos – variou de 10 a 44%. Além disso, existem poucos resultados de validação com base em evidências publicados no Brasil.”

A taxa de resultados falso-negativos encontrada nessa revisão brasileira é até benigna comparada com algumas reportadas em outros países, como a Espanha, onde a confiabilidade dos testes rápidos Made in China foi de 30%. Ou os Estados Unidos, onde a situação da testagem rápida para o Covid 19 em meados de abril chegou a ser caótica.

“Agora temos pelo menos 90 testes no mercado e não sabemos sobre a precisão dos resultados. Ter muitos testes imprecisos é pior do que não ter nenhum teste.”

– Kelly Wroblewski, diretora de programas de doenças infecciosas da Association of Public Health Laboratories.

E tem mais, quem assistiu o vídeo TUDO SOBRE OS TESTES PARA DETECTAR COVID 19, postado no canal do blog no Youtube, já sabe que o teste de anticorpos – aposto que o pessoal da festa da Fabi deve pensar que anticorpos são construtos fantasmagóricos que perambulam pelo sangue de vampiros –  somente funciona se feito após vários dias após iniciada a infecção. Portanto, aqueles convidados na festa da Fabi recém infectados podiam fazer cem testes rápidos seguidos, que os resultados seriam sempre negativos. A razão? Ora, é impossível achar o que não existe. No período inicial da infecção (se for o caso) não há anticorpos a combatê-la. Mas para saber disso, claro, convém ter uma ideia, mesmo que vaga, do que são e para que servem os anticorpos. (Algo difícil por esses dias, em que a produção de ideias no Distrito Federal anda meio rala.)

O episódio da festa da Fabi (geeeeente!!!) confirma a minha convicção de que no Brasil a comunicação ao povo sobre o novo coronavírus e a doença que causa, a Covid-19, tem sido confusa, capenga, enfim péssima… e que isso tem colaborado muito para o fracasso da quarentena pelo país afora. Em síntese, ricos e pobres, letrados e iletrados, pais e filhos, educadores e alunos, urbanos e interioranos, ainda não sabem do vírus o suficiente para se proteger a si próprios e a suas famílias. (Nem falo em proteger a comunidade porque aí, já seria pedir demais, não seria?)

Nos próximos 45/60 dias, a conta dessa “ignorância consciente” irá se mostrar cara, muito cara.

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