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A dor é estranha – Parte 2

A dor é estranha

Autor: Paul Ingraham

Parte 2

A excelente frase de Ramachandran

Veja também: Ataque dos neutrófilos!
Nosso sistema imunológico ataca desnecessariamente nossos próprios tecidos toda vez que nós temos um dano interno. Veja Why Does Pain Hurt?

Ramachandran disse que “a dor é uma opinião” – o que soa como uma teoria da mente-sobre-a-matéria saída da Nova Era. Mas Ramachandran não é nenhum místico ou guru: ele é um neurologista e cientista. Esta passagem é conhecida principalmente pelas primeiras palavras, uma indicação concisa da compreensão moderna de como a dor trabalha:

“A dor é uma opinião sobre o estado de saúde do organismo, em vez de uma mera resposta reflexiva a uma lesão. Não há linha direta (tipo hotline) indo de receptores de dor para ‘centros de dor’ no cérebro. Há tanta interação entre os diferentes centros cerebrais, como aqueles que se preocupam com a visão e o toque, que mesmo a mera aparência visual de um punho se abrindo pode realmente alimentar de volta as vias neurais responsáveis pela coordenação motora e pelo tato, permitindo-lhe sentir o punho se abrindo, matando assim uma dor ilusória em uma mão inexistente.”

Phantoms in the brain, por vs Ramachandran e Sandra Blakeslee

Ele então conta a história da cura extraordinária de um homem com dor de membro fantasma, torturado até a agonia porum punho que não estava lá. Com um arranjo inteligente de espelhos, Ramachandran criou a ilusão de que o braço amputado do homem fora restaurado — uma espécie de membro “virtual”. A mera aparência dessa mão fantasma abrindo e fechando normalmente curou seus “espasmos” agonizantes. Ele se sentiu melhor por causa da ilusão de que estava melhor-porque ele achou mesmo que estava melhor.

A cura da dor do membro fantasma pela terapia do espelho é uma das anedotas mais curiosas em toda a ciência dador. Em toda a medicina, na verdade.

Desde então, a “terapia espelho” tem sido estudada e aplicada de várias maneiras. Um estudo de boa qualidade de 2007 mostrou que os espelhos nem sequer são realmente necessários para alcançar este efeito.1 A “terapia espelho” é provavelmente apenas uma maneira “divertida” de visualizar um movimento saudável – o que também funciona muito bem sem um espelho! 2

Mais estranhas ainda são as estórias de dor severa sem lesão, ilustrando que a dor pode estar inteiramente na mente. (Tecnicamente, sempre está.) Destes, uma das mais estranhas foi relatada num jornal médico britânico em 1995:

“Um construtor de 29 anos veio para o Pronto Socorro após ter pulado sobre um prego de 15 centímetros. Como o menor movimento do prego era doloroso ele foi sedado com fentanil e midazolam. O prego foi então puxado para fora. Quando sua bota foi removida, uma cura milagrosa ocorreu. O prego penetrara entre os dedos: o pé estava totalmente ileso.”

– JP Fisher, senior house officer, DT Hassan, senior registrar, N O’Connor, registrar, accident and emergency department, Leicester Royal Infirmary 3

Veja abaixo mais exemplos de como a dor é estranha.

Sua dor era do tipo “nocebo”-o oposto de placebo.4 Exemplos extremos como este são raros, mas provavelmente não tão exóticos quanto você pôde pensar. Indo mais ao ponto, mesmo se forem raros, para cada caso como este deve haver umas centenas mais onde a lesão é real,porém o paciente é convencido de que o dano é muito pior do que realmente é -com dor proporcionalmente exagerada. E, de fato, há evidência disso: em uma experiência ocorrida em 2012, por exemplo, o medo da dor manteve pessoas doloridas por mais tempo depois de um treino.5

O medo da dor foi avaliado em 126 voluntários corajosos com um questionário antes — caramba — “induzindo lesão muscular no ombro.” (não se preocupe, nada muito terrível para o assunto: eles só fizeram um treino com um monte de contração excêntrica que os fez super doloridos.) Os resultados não foram o que os pesquisadores esperavam. Este estudo é interessante porque encontrou evidências de que o medo da dor antes da lesão pode prever o tempo de recuperação. Em outras palavras: o quão bem você responder a lesão e à recuperação é afetado o suficiente pelo medo de que ele pode realmente ser previsto pela medição do medo antecipadamente. Isso é profundo.[/footnote]

Felizmente, a coisa também funciona de outra forma: as pessoas podem sentir muito menos dor do que “deveriam” quando estão confiantes por qualquer motivo, como não perceber o quão ruim é o dano.

O ferimento e a dor não estão em consonância um com o outro. E veja que isso é exatamente o que quase todo mundo assumiu por muito, muito tempo. Porém, muitos profissionais da saúde, embora possam “saber melhor”, amiúde parecem esquecer o quão poderosamente a dor é influenciada pela percepção.

Ler a Parte 3

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