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A ansiedade pode fomentar a dor crônica, sabia disso?

A ansiedade pode fomentar a dor crônica

Com tantos fatores que contribuem para o aparecimento da dor crônica, alguns passam desapercebidos: a ansiedade é um dos mais importantes. Enquanto ela é um fator comum na dor crônica, a dor crônica também pode causar ansiedade, ao mesmo tempo que o estresse alimenta ambas, o que gera um ciclo vicioso. Como o tempo, esse ciclo pode desestabilizar a mente e arruinar o corpo. A presente postagem descreve como a ansiedade fomenta a dor crônica, como isso ocorre no cérebro e quais consequências nefastas para a saúde do organismo.

Poxa, você não sabia. Aliás, eu aposto que nem suspeitava. Afinal, a ansiedade é um estado mental, ou seja, algo etéreo… como isso poderia afetar o corpo? Mas afeta, sim. Pode ser uma sensação persistente de dor nos ossos. Ou manchas no corpo que estão sempre sensíveis e doloridas. Os dedos dos pés, das mãos, os braços, as pernas ou qualquer outra área de seu corpo doem constantemente.

A ansiedade também pode causar o desenvolvimento de dores relacionadas aos nervos. Dependendo da sua gravidade, a ansiedade pode gerar sintomas quase idênticos aos de problemas neurológicos. Milhões de pessoas com ansiedade apresentam sintomas físicos que se assemelham a doenças neurológicas, como a esclerose múltipla, ou a Doença de Lyme… Isso obriga os médicos a realizarem vários testes para, diante da sintomatologia da ansiedade, fazer exames para descartar a presença de uma doença grave.

Em suma, a ansiedade relacionada à saúde – ou a uma condição de saúde anormal – pode fazer o corpo doer ao ponto de perturbar o estilo de vida normal da pessoa. E qual é o combustível desse tipo de ansiedade?

O medo. O medo da dor. Ou da perspectiva de vir a sentir dor. Classificados na DSM-IV-TR, a bíblia da American Psychiatric Association, há uma dúzia de transtornos de ansiedade. De todos eles, o mais relevante em relação à dor é a “fobia específica”. Ou seja, o medo intenso e persistente associado a um certo objeto ou situação – como a perspectiva de vir a sentir dor, presente em pacientes que passam por cirurgia e outros processos invasivos.

Outros desdobramentos do medo da dor relacionado à ansiedade são:

  • A conotação da dor (dano, perigo, incapacidade, ou até morte).
  • A recorrência ou permanência da dor.
  • Que a dor se intensifique ou piore.
  • Que a dor interfira com o sono ou outras rotinas.
  • Que a dor seja motivo para ser estigmatizado socialmente.
  • Que a dor gere fraqueza, perda de poder ou prestígio.
  • Medo da ansiedade em si mesma.

Prevalência

Embora a depressão seja o transtorno psiquiátrico comórbido mais comumente estudado, novos estudos mostram que os transtornos de ansiedade também são comuns. Esses transtornos são tão propensos a ocorrer com condições de dor crônica quanto o transtorno depressivo. E embora seja plausível que a ansiedade ocorra no contexto de uma condição de dor preexistente, também pode ser que ela por si própria contribua a sedimentar essa condição.

A ansiedade torna os pacientes hipersensíveis à dor, o que os faz se concentrar ainda mais na dor. Focar demais na dor só faz a pessoa se sentir pior.

A ansiedade afeta quase 4 de 10 portadores de dor crônica de artrite. Quem tem dor crônica nas costas ou no pescoço é 2 ou 3 vezes mais provável que tenha sofrido um ataque de pânico nos últimos 12 meses, ou de ter sido diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada, comparado a uma pessoa saudável. E fibromialgia? A probabilidade de uma mulher com essa síndrome ser também diagnosticada com transtorno compulsivo obsessivo é 4 ou 5 vezes maior que a probabilidade de uma mulher sem fibromialgia.

As Surpresas da Ansiedade

Pouca gente sabe que a dor crônica causada ou ajudada pela ansiedade pode judiar muito do organismo, e de maneiras estranhas.

A ansiedade pode…

  • …afetar persistentemente apenas uma área do corpo, pode mudar e afetar outra área ou áreas e pode migrar por toda parte e afetar muitas áreas do corpo repetidamente.
  • … ir e vir raramente, ocorrer com frequência ou persistir indefinidamente. A pessoa pode ter dor crônica de vez em quando e não com tanta frequência, ou pode ter dor intermitente ou o tempo todo.
  • … variar em intensidade de leve a moderada a intensa. E também pode vir em ondas, onde a dor crônica é forte em um momento e diminui no seguinte.
  • … existir inclusive antes do surgimento da dor. É o caso do transtorno de ansiedade generalizada, caracterizado por ruminação e preocupação permanentes associadas a uma variedade de situações envolvendo dor.

Manifestações de ansiedade específicas, contribuem para dores crônicas também específicas: dores no peito por ataques de pânico, dores de cabeça por estresse e até dores musculares por tensão constante.

Sintomas Neurológicos de Ansiedade

A ansiedade em si é um sintoma neurológico. Afinal, a ansiedade pode alterar os níveis de neurotransmissores no cérebro, fazendo com que eles enviem sinais incomuns para o resto do corpo.

E embora a ansiedade não cause danos neurológicos conhecidos, ela ainda cria sintomas como:
Formigamento nas mãos e nos pés Tanto a adrenalina quanto a hiperventilação (sintomas de ansiedade) podem levar ao desenvolvimento de formigamento nas mãos e nos pés.
Tonturas A ansiedade também pode causar uma quantidade considerável de tonturas, o que pode levar à dificuldade em ficar em pé (uma sensação de que as pernas não funcionam).
Dores de cabeça A ansiedade pode desencadear todos os tipos de dores de cabeça, incluindo dores de cabeça tensionais e enxaquecas. Dores de cabeça e enxaquecas geralmente apresentam seus próprios sintomas desconfortáveis, como problemas oculares. (No caso de enxaquecas, os médicos ainda não têm certeza de por que a ansiedade parece causá-las com mais frequência).
Problemas de visão Certos sintomas de ansiedade, como enxaquecas e hiperventilação, podem causar problemas de visão. Em geral, a ansiedade pode fazer com que as pupilas se dilatem, o que pode afetar a clareza da visão e levar a problemas com as luzes.
Fadiga A fadiga é comum em pessoas com ansiedade extrema. Parece ocorrer devido à exaustão geral (mental e física) que os sofredores de ansiedade costumam experimentar. Como a ansiedade também pode levar à insônia, parte dessa fadiga pode ser causada pela falta de sono.
Perda de memória A perda de memória é o único sintoma de ansiedade que pode ser considerado um tanto permanente. Qualquer perda de memória experimentada é resultado do cortisol, o hormônio do estresse, que pode ser excessivamente ativo em pessoas com ansiedade e é conhecido por contribuir para a perda de memória leve.
Confusão Níveis extremos de ansiedade provocam confusão e até mesmo uma perda temporária da realidade que faz com que as pessoas se preocupem que algo está errado com seu cérebro. Esses sintomas de ansiedade geralmente refletem o que aqueles com um distúrbio neurológico real podem experimentar.
Dor no peito Muitas vezes, o resultado de um ataque de pânico ou reação aumentada, a dor no peito é uma preocupação devido à possível conexão com ataques cardíacos e outras doenças cardíacas.

Ansiedade, depressão e dor crônica

Em pessoas com depressão ou ansiedade, a dor pode se tornar particularmente intensa e difícil de tratar. A sobreposição de ansiedade, depressão e dor é comum e particularmente evidente em síndromes dolorosas crônicas e às vezes incapacitantes, como fibromialgia, síndrome do intestino irritável, lombalgia, dores de cabeça e dores neuropáticas. Por exemplo, cerca de dois terços dos pacientes com síndrome do intestino irritável que são encaminhados para cuidados de acompanhamento apresentam sintomas de sofrimento psicológico, na maioria das vezes ansiedade.

Para entender a relação entre ansiedade e dor crônica é preciso saber que essas duas entidades compartilham alguns espaços neurais, assim como mecanismos biológicos. A anatomia compartilhada contribui para parte da interação.

O desenvolvimento da dor crônica está associado à plasticidade sináptica e alterações no sistema nervoso central e em várias áreas neurais que modulam a dor.

Cérebro – Regiões ativas – Tipo dor

A dor crônica acarreta alterações estruturais e funcionais nas regiões corticolímbicas do cérebro, como o córtex pré-frontal, ACC, amígdala, hipocampo, NAc e PAC. O córtex somatossensorial (a parte do cérebro que interpreta sensações como o toque) interage com a amígdala, o hipotálamo e o giro cingulado anterior (áreas que regulam as emoções e a resposta ao estresse) para gerar a experiência mental e física da dor. Essas mesmas regiões também contribuem para a ansiedade e a depressão.

Além disso, dois neurotransmissores – serotonina e norepinefrina – contribuem para a sinalização da dor no cérebro e no sistema nervoso. Eles também estão implicados na ansiedade e na depressão.

Tudo isso faz com que alterações relacionadas à dor crônica possam induzir estados afetivos negativos, como depressão, raiva e ansiedade, quando sustentados por alterações comuns de neuroplasticidade.

A dor crônica de ansiedade frequentemente parece mais forte e incômoda quando a gente não se distrai, quando tenta relaxar e descansar, ou quando tenta dormir. Essa dor crônica também pode atrapalhar o relaxamento, o descanso e o sono.

Algumas pessoas ficam imobilizadas devido à gravidade de seus episódios de dor crônica, e algumas pessoas ficam acamadas devido à intensidade e severidade de sua dor.

Tratamento

O tratamento é desafiador quando a dor se sobrepõe à ansiedade ou depressão. O foco na dor pode mascarar a consciência do clínico e do paciente de que um transtorno psiquiátrico também está presente. Mesmo quando ambos os tipos de problemas são diagnosticados corretamente, eles podem ser difíceis de tratar.

Uma revisão identificou várias opções de tratamento disponíveis quando a dor ocorre em conjunto com ansiedade ou depressão.
Terapia cognitivo-comportamental (TCC) Não é apenas um tratamento estabelecido para ansiedade e depressão; é também a psicoterapia mais bem estudada para o tratamento da dor. Treinamento de relaxamento, hipnose e exercícios também podem ajudar. Alguns antidepressivos ou anticonvulsivantes podem aliviar a dor durante o tratamento de um transtorno psiquiátrico, mas esteja ciente de possíveis interações medicamentosas.
Medicamentos de dupla ação Alguns medicamentos psiquiátricos também funcionam como analgésicos, aliviando assim dois problemas ao mesmo tempo. Portanto, é aconselhável verificar se existem evidências para apoiar qualquer uso “off label” (não aprovado pelo FDA) para medicamentos. Outros pacientes podem preferir tomar um medicamento para o transtorno psiquiátrico e outro para a dor. Nesse caso, é importante evitar interações medicamentosas que possam aumentar os efeitos colaterais ou reduzir a eficácia da medicação.
Antidepressivos Uma variedade de antidepressivos são prescritos para ansiedade e depressão. Alguns deles também ajudam a aliviar a dor crônica, especialmente a dor nos nervos. A pesquisa apoia mais fortemente o uso de inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina (SNRIs) ou antidepressivos tricíclicos (TCAs) como drogas de dupla função que podem tratar distúrbios psiquiátricos e dor. As descobertas são mais variadas sobre a capacidade dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) para aliviar a dor. A duloxetina SNRI (Cymbalta), por exemplo, também pode ser usada para tratar a dor da neuropatia diabética ou da fibromialgia. A venlafaxina (Effexor) também é usada para dores nos nervos, fibromialgia e dores de cabeça. Da mesma forma, a mirtazapina (Remeron) pode ajudar a prevenir dores de cabeça tensionais crônicas. Um estudo controlado randomizado descobriu que a bupropiona (Wellbutrin), que afeta a dopamina e a norepinefrina, foi útil para aliviar a dor crônica do nervo, mas não a dor lombar crônica não relacionada a danos nos nervos. Esta pode ser uma opção para pacientes que sofrem de dor nervosa e depressão. Esteja ciente, no entanto, que em alguns pacientes, a bupropiona pode aumentar a ansiedade e contribuir para a insônia. Os TCAs amitriptilina (Elavil), nortriptilina (Aventyl, Pamelor) e desipramina (Norpramin) são prescritos para tratar dores nos nervos (como neuropatia diabética) e dores de cabeça crônicas. Quando usados ​​para tratar a dor, os ADTs geralmente são prescritos em uma dose menor do que quando são usados ​​para tratar a depressão. Todos os medicamentos podem causar efeitos indesejados. Os ISRSs, por exemplo, podem aumentar o risco de sangramento gastrointestinal. Os TCAs podem causar tontura, constipação, visão turva e dificuldade para urinar. Uma overdose pode interromper fatalmente o ritmo cardíaco, de modo que o perigo deve ser cuidadosamente avaliado em relação aos possíveis benefícios em pacientes com risco elevado de tentativa de suicídio.
Estabilizadores de humor Anticonvulsivantes também são usados ​​às vezes para estabilizar o humor. Esses medicamentos exercem seus efeitos restringindo a atividade elétrica aberrante e a hiper-responsividade no cérebro, o que contribui para as convulsões. Como a dor crônica, em particular, envolve hipersensibilidade do nervo, alguns desses medicamentos podem proporcionar alívio. Por exemplo, a pregabalina (Lyrica) é aprovada pelo FDA para o tratamento de neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética e fibromialgia.
Combinando psicoterapia e drogas Pacientes com ansiedade ou depressão às vezes descobrem que combinar psicoterapia com medicação oferece o alívio mais completo. Um estudo controlado randomizado, o Stepped Care for Affective Disorders and Musculoskeletal Pain (SCAMP), sugere que uma abordagem combinada também pode funcionar para pessoas que sofrem de dor além de um distúrbio psiquiátrico. O estudo envolveu 250 pacientes com dor crônica na região lombar, quadril ou joelho. Os participantes também tinham depressão pelo menos moderada, medida por um instrumento clínico padrão. Um grupo foi designado para 12 semanas de terapia antidepressiva seguida por uma intervenção de autogestão da dor de 12 semanas com base nos princípios da TCC. No grupo “cuidados habituais”, que serviu como controle, os pesquisadores informaram aos participantes que eles tinham depressão e deveriam procurar aconselhamento ou tratamento. Os resultados foram considerados significativos se os participantes relatassem pelo menos 50% de redução na gravidade da depressão e pelo menos 30% de redução na dor. Na marca de 12 meses, tanto a depressão quanto a dor foram significativamente reduzidas em 32 de 123 pacientes de intervenção (aproximadamente um em cada quatro), em comparação com 10 de 127 participantes de cuidados habituais (cerca de um em cada 12).

Quando consultar um médico ou profissional de saúde mental?

Os transtornos de ansiedade são mais fáceis de tratar quando detectados precocemente.

Consulte um médico ou profissional de saúde mental se:

  • Você acha que está se preocupando demais e está interferindo no seu estilo de vida normal.
  • Você evita situações e circunstâncias por causa da ansiedade ou do medo.
  • Você ficou com medo dos fortes sentimentos de ansiedade ou medo.
  • Você acredita que a ansiedade e o medo são incontroláveis.
  • Você está usando álcool ou drogas para controlar sua ansiedade ou outros problemas de saúde mental.
  • Você acha que sua ansiedade está ligada a um problema de saúde ou medicação.
  • Você tem pensamentos suicidas. Procure ajuda imediata.
  • Suas preocupações não diminuem ou pioram com o tempo.
  • Sua ansiedade está causando problemas com sono e descanso.
  • A ansiedade está interferindo no seu trabalho, família ou interações sociais.

Fontes:

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nenhum

Uma resposta

  1. Tenho depressão à 35 anos.A ansiedade crônica me perturba..tenho medo de tudo…sou mt pessimista…tenho crise de raiva, choro…insônia…dores por tds os ossos.so muito limitada…etc

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